Foto: Cláudia Reis/Notícias UFSC.
Rita Pereira – Redação UFSC à Esquerda – 03/02/2021
Há um mês comemoramos o ano novo. A virada de um ano caótico, marcado pela tragédia generalizada da pandemia, para um novo, repleto de esperanças e anseios por um futuro mais ameno. Entretanto, para os estudantes da UFSC, o que se inicia nesta primeira semana de fevereiro é a segunda parte do ano que passou, o segundo semestre de 2020.
Junto de um novo semestre chegam também os calouros, que com o ânimo comum entre aqueles que experienciam algo novo, refrescam os ares que permeiam a universidade. Novos rostos, carregados com sonhos, cada qual com a singularidade do trajeto que percorreu até aqui. A todos e todas nossos novos companheiros: parabéns! Sejam muito bem-vindos e bem-vindas!
O ingresso na universidade pública continua sendo limitado a poucos, o que reflete o contexto histórico em que estamos inseridos, o papel designado a países de economia dependente, como o Brasil, nas relações internacionais. Além disso, o atual desmonte da educação pública reforça as amarras que atam o desenvolvimento de uma estrutura mais ampla, capaz de abranger todos aqueles que desejam adquirir e trabalhar com o conhecimento mais denso, produzir e expandir a ciência, as artes e a filosofia.
Muitos estudantes que iniciaram o ano de 2020 com a notícia do ingresso na universidade, um passo adiante da realização de seus sonhos, tiveram a felicidade interrompida pela pandemia e foram lançados no limbo pelo marasmo das atuações políticas frágeis que vigoram hoje no meio universitário. Grande parte dos calouros do segundo semestre passaram por todo o ano sendo relegados à própria sorte, exceto nos momentos em que foram invocados como objetos de defesa para a implementação do ensino remoto.
Nesta semana as aulas retornaram e muitos estudantes estão tendo como primeiro contato com a UFSC apenas uma tela, conhecendo seus colegas de turma no máximo através das aulas síncronas — muitos talvez sequer conheçam seus veteranos, colegas mais velhos do curso, de outros cursos, etc. Devido a limitação dos espaços virtuais, muitos dos rituais mais tradicionais referentes às primeiras semanas de aula são esquecidos em meio a necessidade de correr com as aulas, já que o semestre durará apenas três meses.
Se levarmos em consideração que sujeitos e sociedades se constituem dialeticamente, a participação em um espaço amplo e coletivo como é o espaço da universidade, dentro de todas as suas contradições, tendo como motor a relação com o conhecimento, tem a potência de provocar mudanças em nós, estudantes — sejamos veteranos ou calouros.
Mas que relações podemos construir dentro dessa atual lógica individualista ao extremo, onde preza-se por uma construção de pessoas individuais, cada qual em seu próprio computador, em detrimento da troca mútua, do debate e até mesmo do dissenso? Quais são as nossas perspectivas nesse cenário que nunca fora tão individualizante?
Será nosso papel agora, sejamos veteranos ou calouros, manter o rigor e combater esse funcionamento. Juntos podemos manter vivas as importantes tradições de estudos densos e conhecimentos críticos. Nós podemos manter acesa a chama daqueles que há gerações lutam pela causa da universidade. Afinal, a universidade é e pode ser muito mais daquilo que nos é apresentado nas aulas aligeiradas e simplificadas que temos tido.
A pandemia e seus efeitos, dos mais imediatos ao tratamento das cicatrizes futuras, serão o núcleo central das tarefas que nossa geração precisará superar se quisermos superar também este modo de produzir a vida em sociedade, construir algo novo — e que se mostra mais uma vez urgente. Caberá a nós agora não titubear e encarar de frente o desafio que nos foi colocado. A todos e todas, um bom retorno!