Morgana Martins* – Redação Universidade à Esquerda – 17/06/2022
“Assassinos, torturadores e criminosos de guerra farão um brinde ao ministro britânico do interior, Priti Patel, hoje à noite. Sua decisão de aprovar a extradição de Julian Assange transforma o jornalismo de investigação em um ato criminoso e autoriza os Estados Unidos a perseguir impiedosamente os criminosos onde quer que eles possam ser encontrados, levá-los à justiça e puni-los com a máxima severidade”, escreveu hoje o jornal The Guardian.
Nesta manhã recebemos a infeliz notícia de que o Reino Unido cavou o buraco para os Estados Unidos enterrarem Assange. Peço desculpas pelas duras palavras, mas escrevo isso com muita raiva e lágrimas nos olhos.
Já escrevemos em diversos textos sobre a importância de Assange, mas repetiremos o quanto for necessário: sem ele não teríamos provas das atrocidades cometidas pelos Estados Unidos e seus aliados, principalmente seu ataque ao Afeganistão e Iraque durante a “guerra contra o terrorismo”, foi publicado em vídeos soldados norte-americanos atirando de seu helicóptero em civis e rindo. Também não conheceríamos os abusos sistemáticos cometidos contra os prisioneiros em Guantánamo.
A inversão feita nessa história, que quem será punido foi quem publicou os acontecimentos e permitiu à sociedade a possibilidade de conhecimento sobre crimes é quem será julgado e não aqueles que cometeram atrocidades é um legado tenebroso para os jornalistas do mundo todo. Apesar de fatos diferentes, inclusive, o assassinato de Dom e Bruno também significa um ataque brutal e um golpe sentido no estômago daqueles que tem como ofício desvendar os problemas da sociedade capitalista.
Segundo o jornal The Guardian, Stella Assange, a esposa do co-fundador do Wikileaks, disse hoje (17) que apelaria da decisão de Priti Patel de aprovar a extradição para os EUA para enfrentar acusações criminais. Falando aos repórteres fora dos Tribunais Reais de Justiça, ela disse: “Vamos lutar contra isso. Vamos usar todas as vias de apelação”.
O WikiLeaks divulgou imediatamente uma declaração para dizer que apelaria contra a decisão.
Em sua Coluna para o Blog da Boitempo, Zizek escreve que “Assange não pode morrer – mesmo que morra (ou desapareça em uma cela de prisão dos Estados Unidos como um morto-vivo), essa agonia será seu triunfo, ele morrerá para viver em todos nós. Esta é a mensagem que todos nós devemos transmitir àqueles que estão o detendo: se você matar um homem, você cria um mito que continuará a mobilizar milhares de pessoas”.
Fazemos coro com essa vontade de justiça, com a necessidade de libertar Assange das mãos dos estadunidenses e de todos esses canalhas capitalistas! Que façamos de Assange e seu legado a propulsão que nos leve a desvendar cada vez mais crimes cometidos pelo Estado e seus capangas burgueses.
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