Foto: Manifestação Fora Bolsonaro no dia 26/06 em Florianópolis/UFSCàE.
Morgana Martins e Bela Mielczarski – Redação UàE – 26/06/2021
No sábado passado, dia 19, mais de 400 cidades foram ocupadas pelo grito Fora Bolsonaro. Aqui em Santa Catarina, as cidades de Florianópolis, Jaraguá do Sul, Itajaí e Lages tiveram seus atos adiados em razão da chuva. Os atos foram remarcados, então, para o dia de hoje. Em Florianópolis, o ato reuniu cerca de 1000 pessoas que marcharam no centro da capital catarinense.
As manifestações que ocorreram no sábado passado, 19 de junho, foram enormes, e isso deve ser levado em muita consideração. As pessoas têm saído às ruas e, em algumas cidades, os atos ainda cresceram em relação à primeira grande manifestação pelo Fora Bolsonaro, que ocorreu no dia 29 de maio. Fato importante também é o número massivo de cidades, grandes, médias e pequenas, que têm participado dos atos. Algumas até mesmo marcaram seus primeiros atos.
O jornal UFSC à Esquerda esteve presente na manifestação de hoje e conversou com coletivos, entidades e sindicatos lá presentes, para buscar entender como se deu sua construção, bem como trazer aos leitores as diferentes posições em relação ao que os atos significam hoje para a conjuntura.
O jornal conversou com Marcos Kaingang, do movimento indígena. Marcos disse que está participando do movimento Fora Bolsonaro para mostrar que o povo indígena é contra o absurdo desse governo, o qual trabalha contra os direitos dos povos indígenas. “Principalmente com a PL 490”, diz Marcos, “que vem tirando os direitos dos povos originários. Estamos muito indignados com isso e por isso estamos aqui com nosso povo Kaingang, representando os povos indígenas de todo o Brasil que cuidam da mãe natureza. Se nós destruirmos nossas matas, nossos ambientes, a mãe terra futuramente vai fazer falta para nossos filhos, para as pessoas que não são indígenas e para o mundo todo. Então por isso, nós, povos indígenas, estamos indignados. Por isso, estamos aqui dizendo, em nome da população indígena, Fora Bolsonaro!”
Antônio, da direção do SINTUFSC, diz que os servidores técnicos da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) foram hoje ao protesto porque tem desacordo com a política genocida do país. “Nós temos hoje mais de 500 mil pessoas que faleceram e nós estamos aqui hoje para protestar, porque isso não pode continuar. Vários países no mundo já estão retornando a normalidade e nós continuamos com essa pandemia por causa de uma política genocida do governo, que ignorou e-mails da Pfizer, que ignorou todas as orientações da saúde. Por isso, estamos aqui hoje para lutar por aqueles que não puderam estar aqui hoje. Vamos a luta contra esse governo que tirou a vida das pessoas. Vamos tirar o Bolsonaro! Fora genocida.”
Os moradores da Ocupação Marielle Franco disseram estar lutando para buscar a vacina para toda a população e para buscar os direitos que o Bolsonaro está retirando. O aumento do gás, por exemplo, foi muito marcante para os moradores da ocupação. “Tem muitas razões pela qual estão compondo o ato hoje. Uma delas é conseguir também eleger o Lula no ano que vem. É a Ocupação Marielle Franco que está aqui!”.
Bruno, do Sindicato dos Trabalhadores no Serviço Público Municipal de Florianópolis (Sintrasem), diz que a importância de sua base, dos municipários, estarem no ato para demarcar como o país tem sofrido com inúmeras retiradas de direitos, com as privatizações e com a falta de controle da pandemia, “nós até mesmo fizemos uma greve muito grande por conta dessa pauta”, relembra Bruno. Ele diz que é importante perceber que mesmo com algumas vitórias parciais, não conseguiremos avançar sem retirar esse governo genocida, “porque a privatização que acontece na Comcap ou nas creches municipais, por exemplo, está dentro de um ambiente em que não só é propício, mas como incentiva a privatização e o fim do serviço público. Então, se manter o Bolsonaro no poder, nossa vitória sempre será parcial”.
Rita, do Centro Acadêmico Livre de Psicologia (CALPsi), diz que os estudantes de psicologia da UFSC devem participar das lutas pelo Fora Bolsonaro porque o presidente representa hoje uma ameaça a toda a classe trabalhadora, “podemos ver isso em toda sua política genocida, que tem aparecido explicitamente na CPI, atrasando e emperrando a compra de vacinas, o boicote às políticas de combate ao vírus; também em seu projeto de privatização; no ataque a educação e a saúde, que com tantos cortes e ataques não conseguem usufruir de todo seu potencial”. Por essas razões, diz que é importante a entidade compor os atos e estar junto em sua construção. Rita diz que muitos estudantes do curso não estão em Florianópolis, mas estão indo nos atos em suas cidades. Por fim, diz que “na distância entre as cidades estamos separados, mas na luta contra o Bolsonaro estamos todos juntos. Fora Bolsonaro!”.
Ademir, também do CALPsi, diz que o projeto genocida é um projeto de política neoliberal que atravessa todas as instituições que atravessam nosso cotidiano. “Percebemos a tentativa de extermínio da população indígena com a PL 490, que passou. Já se tem muita dificuldade na demarcação de terras indígenas para conseguir direitos para a população. Também a população quilombola e negra tem perdido espaço na universidade. Bolsonaro tem um projeto que é para todas as áreas, é contra isso que nós como entidade temos de firmar um posicionamento, fortalecendo as lutas e estando de mãos dadas com essas populações que estão sendo ameaçadas.”
Com as entrevistas, podemos perceber a diversidade de opiniões que circundam os objetivos de participação dos atos Fora Bolsonaro, já que há muitas coisas em jogo e as eleições presidenciais se aproximam. Bolsonaro, inclusive, já se encontra na realização de sua campanha enquanto deixa o Brasil afundar em crise.
Em relação ao dia 29 de maio, o ato de hoje foi um pouco menor em número de manifestantes, provavelmente em razão de ter sido deslocado do dia dos atos que foram realizados nacionalmente. O importante, porém, é que ligados ao dia 19 de junho, o ato em Florianópolis se une a muitas outras cidades em luta.
Por fim, consideramos que o dia de hoje teve papel fundamental no desgaste do governo, junto dos outros atos que ocorreram nacionalmente. Temos muitas pautas hoje a discutir e levar adiante para além do Fora Bolsonaro, mas sua queda é condição para podermos retomar em nossas mãos as questões estratégicas de nosso povo.
É importante que os atos continuem acontecendo e aumentando seu tamanho, sua influência e caminhando para a construção de uma sociedade diferente.