José Braga* – Redação UàE – 19/05/2017
Erramos e pedimos desculpas.
Não honramos nossos valores quando tivemos que interagir, em diversos momentos, com o Poder Público brasileiro. E não nos orgulhamos disso.
Nosso espírito empreendedor e a imensa vontade de realizar, quando deparados com um sistema brasileiro que muitas vezes cria dificuldades para vender facilidades, nos levaram a optar por pagamentos indevidos a agentes públicos.
Ainda que nós possamos ter explicações para o que fizemos, não temos justificativas.
Em outros países fora do Brasil, fomos capazes de expandir nossos negócios sem transgredir valores éticos.
Assim construímos um grupo empresarial gerador de mais de 270 mil empregos diretos, com times extraordinários e competentes, que operam 300 fábricas em cinco continentes e oferecem mundialmente produtos de qualidade.
O Brasil mudou, e nós mudamos com ele. Por isso estamos indo além do pedido de desculpas. Assumimos aqui um Compromisso Público de sermos intolerantes e intransigentes com a corrupção.
Assinamos acordos com o Ministério Público. Concordamos em participar de alguns dos mais incisivos mecanismos de investigação existentes e nos colocamos à disposição da Justiça para expor, com clareza, a corrupção das estruturas do Estado brasileiro.
Pedimos desculpas a todos os brasileiros e a todos que decepcionamos, que acreditam e torcem por nós.
Enfrentaremos esse difícil momento com humildade, e o superaremos acordando cedo e trabalhando muito.
Joesley Batista
J&F Investimentos
A J&F Investimentos não é uma empresa qualquer. Trata-se de um dos maiores grupos financeiros do país dona das empresas JBS Foods (por sua vez dona de marcas como Friboi e Seara), Vigor (maior empresa de lacticínios do país), Alpargatas (que tem as marcas Havaianas, Osklen, Mizuno, Topper, dentre outras), Flora (empresa de limpeza e cosméticos com marcas como Minuano, Neutrox, Francis), Eldorado Celulose (que tem capacidade para produzir 1,7 milhões de toneladas de celulose por ano), Âmbar Energia, Banco Original, dentre outras que detêm participação. É indignante ler a ousadia de um dos maiores empresários do país ao afirmar que fora seu espírito empreendedor e vontade de realizar que os levaram a fazer “pagamentos indevidos a agentes públicos brasileiros”. Depois do que temos visto nos últimos anos não é possível acreditar em uma linha desta carta. Ao contrário ela só nos lembra da relação espúria entre a burguesia interna e a classe política, bem como levantar o cheiro de ralo dos empresários. Não se trata de seu “empreendedorismo”, de seu desejo de realização, mas de suas ambições, sua sanha irrefreável de acumulação que se nutrem direta e constantemente de seu controle econômico e político do Estado, de suas vias de acesso ao fundo público – que é constituído no lombo dos trabalhadores, estes sim que com humildade acordam cedo e trabalham muito. Ora, quem pediu por suas desculpas? Certamente não foi a classe trabalhadora brasileira. Pois, nós não precisamos delas. Se desculpem e se envergonhem o quanto quiserem. Isso não nos basta. Entreguem os seus, entreguem Temer, Eunício, Aécio. Isso não nos bastará. Eles vão cair. E faremos cair também a J&F, a Odebretch e todas mais que exploram e oprimem o povo.
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