Allan Kenji Seki para UFSCàE – 26/05/2017
Nas folhas dos grandes jornais, como a Folha de S. Paulo, desapareceram quaisquer vestígios dos estragos causados pela polícia nos protestos desta última quarta-feira, 24 de maio, em Brasília. A grande imprensa, cujo interesse circunda o grande capital, teme que a divulgação faça despontar mais manifestações, como em Junho de 2013, quando a forte repressão da polícia contra os atos pelo transporte público culminaram em grandes manifestações de massas em todo o país.
A Secretaria de Saúde do Distrito Federal tem sido leniente com o repasse de informação aos veículos de imprensa menores. Segundo o levantamento realizado pela redação do UàE, com dados do corpo de Bombeiros do Distrito Federal, foram contabilizados 49 manifestantes feridos, sendo dois casos muito graves, 8 manifestantes presos e 12 registros de ocorrência. Os dois casos mais graves, segundo o Corpo de Bombeiros, seriam o de um homem ainda não identificado que levou um tiro de arma de fogo, disparado pela Polícia, no maxilar e passou por cirurgia. Segundo o Hospital de Base do DF, a bala está alojada próximo demais da carótida e a equipe cirúrgica teme que e a remoção nesse momento leve o paciente ao óbito. O outro caso, é o do estudante catarinense do IFSC de Araranguá, Vitor Rodrigues Fregulia, de 21 anos.
Vitor seguiu de Araranguá para Brasília na caravana da CUT-SC e, segundo relatos, foi vítima de uma bomba de gás com duplo estágio de explosões. Esse tipo de bomba estoura uma vez, liberando o gás e, depois de alguns segundos, estoura novamente ferindo os manifestantes. Esse tipo de bomba é utilizado para ferir gravemente os manifestantes que tentem pegar o artefato e atirá-lo para longe. A utilização desse tipo de munição, que força os manifestantes à uma armadilha potencialmente letal, demonstra o alto grau de perversidade na violência empregada pela Polícia nas manifestações.
Segundo nota da corporação:
“Na operação de ontem foram utilizados instrumentos de menor potencial ofensivo para restabelecer a ordem e a paz social. Dentre esses instrumentos existem granadas explosivas (bombas) e fumígenas (com gás lacrimogêneo ou coloridas). Ao tentar afastar qualquer dessas granadas a possibilidade do cidadão se machucar existe pois como já dito anteriormente podem ser explosivas e nas fumígenas ocorre o processo de sublimação o qual possui alta temperatura. As granadas explosivas possuem dois tempos possíveis para explodir: 1,5 segundos ou 3 segundos após serem lançadas. Logo, conseguir pegar tais granadas explosivas na mão para arremessá-las contra os policiais, torna-se praticamente impossível. Caso o cidadão tenha pegado na mão uma granada fumígena, não teria como ocorrer dilaceração da mão pois não há explosão esperada”.
O uso de arma de fogo é outro fato da maior gravidade. Nenhum manifestante foi identificado portando qualquer tipo de arma de disparo. Nos dois momentos registrados pelos cinegrafistas, que registra dois policiais militares efetuando disparos contra os manifestantes, é perceptível que os policiais não estavam encurralados. Em uma das cenas, os policias atiram em manifestantes que estavam correndo, de costas para eles, um dos policiais dispara à altura da cabeça dos manifestantes.
O Governo Federal, o Congresso Nacional e Judiciário silenciaram diante das cenas brutais de violência policial. Após ser informado sobre os ferimentos com armas de fogo, Michel Temer convocou as forças armadas através da lei de garantia da ordem. Esse fato revoltou os parlamentares da oposição ao atual governo, causou tumulto na Câmara e levou à retirada dos parlamentares de oposição. A partir desse instante, a base do governo aproveitou a saída da oposição para aprovar em lei, três medidas provisórias do Governo.
O Superior Tribunal Federal, seguiu discussão de matéria tributária, sem interrupções. O único Ministro a se manifestar de qualquer maneira foi Marco Aurélio de Mello, que pronunciou algumas palavras, antes de proferir seu voto, sobre a convocação das forças armadas pelo Palácio do Planalto.
Ainda mais grave, durante os atos que tomaram a esplanada, 10 trabalhadores rurais que ocupavam uma fazenda no Pará foram assassinados brutalmente pela polícia. Segundo o relato dos sobreviventes, a Polícia chegou sem qualquer anúncio e iniciou a execução sumária dos trabalhadores. Entre eles, 9 homens e uma mulher, que tiveram seus corpos removidos e mantidos em uma pilha. Não apenas os Poderes do Estado silenciaram, como a maior parte dos veículos de imprensa procuram tratar essa ação como fato rotineiro.
Forçoso, por isso, que os debates sobre a corrupção econômica e moral da estrutura política brasileira seja acompanhada de uma discussão profunda sobre a atuação da imprensa no Brasil. A relação de cumplicidade faz da grande imprensa, verdadeiros órgãos de comunicação – com poucas controvérsias – do próprio Estado. A alternativa segue, então, pela força da imprensa alternativa de esquerda, que precisa fazer parte cada vez mais do cotidiano daqueles que lutam.
Nossa solidariedade aos presos políticos, aos manifestantes feridos e, sobretudo, aos trabalhadores assassinados no Pará e suas famílias. Suas dores, são as dores do povo brasileiro – é nossa dor.