[Opinião] O tempo do cinismo acabou.

José Braga* – Redação UàE – 22/05/2017

 

Os trabalhadores tem acompanhado dia-a-dia os escândalos e o desenrolar da mais nova crise de Brasília – dos acordos de Temer e Joesley Batista da J&F Investimentos (holding da JBS Foods). Desde que se tornou pública a gravação da conversa entre o presidente e o megaempresário, iniciou-se uma batalha também na grande mídia sobre a autenticidade das gravações: enquanto a Folha e o Estadão defendem que o áudio teria sido editado, o Globo apresenta uma linha editorial defensiva em relação à Joesley.

Temer, por sua vez, em seu segundo pronunciamento desde a irrupção das denúncias, neste domingo 21 de maio, afirmou que a gravação teria sido manipulada e atacou a credibilidade do empresário que de acordo com ele seria conhecido como um “falastrão”. Segundo ele, a reunião se tratava de um encontro habitual, corriqueiro na agenda do presidente. Temer afirma que não teria acreditado no que dizia o dono da J&F sobre a compra de juízes e procuradores. Temer saiu ao ataque para defender sua permanência no cargo. Mas é impressionante sua desfaçatez, seu cinismo.

Já em seu primeiro pronunciamento, de 18 de maio, Temer atenta contra a inteligência do povo brasileiro, afirmando que na conversa com o empresário teria apenas tomado conhecimento do auxílio que o mesmo estaria ofertando a família de um deputado encarcerado.  Em ambos seus pronunciamentos, surpreende que possa tratar o público desta forma.

Assista aos pronunciamentos de Michel Temer no canal do UàE no youtube. 

Que se possa questionar se houveram edições no áudio, não retira a força de sua principal revelação: a imoralidade da conduta do Presidente da República e sua relação nebulosa com um dos maiores grupos empresariais do país. Os jornais burgueses podem brigar o quanto quiserem, e com isso só evidenciam que tem interesses particularistas na cobertura do escândalo; Temer e J&F podem gritar suas versões aos quatro ventos, e só demonstram ainda mais que há algo de espúrio em sua relação.

Há ao menos um mérito nesta gravação, ou melhor, nas delações de maneira geral (seja a da J&F, da Odebretch, OAS) a de escancarar os estertores do poder. Há muito é de conhecimento comum de qualquer trabalhador brasileiro que há algo de podre nos corredores da República. Há muito os trabalhadores perderam qualquer confiança em Brasília. Mas algo mudou, o que era antes uma inquietação, uma sensação de injustiça cotidiana, ganhou corpo.

A República está nua, despida de qualquer máscara. Encontro noturno entre o Presidente e um megaempresário. Compra de procuradores. Ministros. Políticos a serviço das empresas em todos os cantos do país. Executivo. Legislativo. Judiciário. A sanha dos burgueses por acumularem maiores lucros não tem fronteiras. Não reconhece suas próprias leis, sua forma democrática. Políticos e empresários tentando salvar sua pele, salvar seus bolsos à custa do fundo público, enquanto impõe uma agenda para ampliar as condições de exploração dos trabalhadores.

Enquanto isso, o presidente da câmara dos deputados marca as sessões da plenária para manter a agenda da Reforma da Previdência. Como se nada estivesse acontecendo. Nisso os jornalões concordam: “não se pode prejudicar as reformas”. Como se nada estivesse acontecendo. Mas, está.

E nossa classe se cansou da cara-lavada dos políticos e dos burgueses. O tempo do cinismo acabou.

 

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