Estudantes ocupam Reitoria em 2014. Foto: Hélio Rodak.
Pedro Jerônimo* – Redação do UàE – 08/08/2019
A motivação para escrever este texto é em parte dialogar com as críticas do colega Filipe Bezerra, “Crítica à UFSC à esquerda. A necessidade de se criticar de forma responsável e coerente”. Cumprimento o Filipe por não entrar na vala comum do escracho e escrever com sinceridade e sem caprichos. Reconheço que sua preocupação é uma que partilho, com os rumos do Movimento Estudantil e das lutas na Universidade, e a intenção deste texto de opinião é principalmente fazer considerações próprias a respeito disso.
Os independentes erram? O título é uma provocação que o próprio Filipe sugere, e que precisa ser encarada com máxima seriedade. Afinal, a análise da conjuntura expressa em muitos dos textos do UFSC à Esquerda é a de que uma mudança qualitativa na relação de forças das lutas sociais (nas quais vêm vencendo os interesses burgueses) virá pelo movimento de massa não capitaneado pelas organizações políticas de esquerda, tal como existem hoje. Essa aposta é particularmente alta para o Movimento Estudantil, e vou focar aqui nesse âmbito.
Os independentes de esquerda têm uma trajetória conflituosa no ME com as organizações estudantis. Esses conflitos, que poderiam ser travados como polêmicas saudáveis, são conduzidos a disputas desgastantes em razão das formas que as organizações atuam, que são bem conhecidas de todos que têm alguma experiência no ME: repetição de falas, diluição de discordâncias, e todo o oportunismo que for necessário para ganhar ou manter um controle estéril dos espaços e movimentos.
Defender uma posição em espaços tomados por essas práticas é um verdadeiro desafio para os independentes, que não têm nem a coesão nem o despudor dos militantes organizados. Aliás, para não deixar passar batido, nem todas as organizações estudantis são marcadas pela falta de disciplina. Pelo contrário, é porque em algumas organizações há um punhado de militantes estudantis muito bem treinados, que sabem hegemonizar os espaços, que podem dispor de horas e horas para ficar conversando nos corredores, cooptando novos militantes e até mesmo recorrendo à política sexual, é que essas organizações têm merecido a crítica. Que o sentido desse texto também sirva àqueles militantes novos, aqueles que entram na amizade, a questionar qual papel sua organização têm desempenhado no ME.
Essas práticas levam os independentes a criar, muitas vezes, uma repulsão a todas as organizações, ao próprio instrumento organização. Não considero que isso seja, taticamente, um problema. O próprio movimento irá criar suas formas organizativas quando tiver experiência, amplitude e força suficientes, irá abandonar seus preconceitos organizativos. O movimento conseguirá isso na medida em que romper o atual estado de imobilismo perpetrado pelas organizações estudantis tal como existem hoje, especialmente quando ocupam os cargos de direção, como na UNE e no DCE Luís Travassos.
Dando um passo à frente para não ficar pra trás
Um movimento de renovação começou na universidade depois da miséria que foram as duas gestões do DCE “Ainda há Tempo” e “Canto Maior”. Isso ficou evidente nas assembleias estudantis de 2019.1, em que se elevou o tom contra o DCE e se reivindicou mais radicalismo e ação. A renovação está germinando também na base dos cursos, com grupos de estudantes independentes se juntando para propor uma nova política para os CAs, como foi no Caligeo. A disposição de luta dos independentes está sendo testada com a organização da calourada construída a partir do chamado do Caligeo, nas férias.
Enfatizo um ponto. Essa é a disposição necessária para derrotar o “Future-se”. Não importa que estejamos nas férias ou no feriado, a conjuntura exige que organizemos de imediato uma reunião, que se comece a construção da luta, da mobilização, apesar da morosidade da direção regional e nacional. É a hora de ter sangue no olho! É muito notável que o movimento desses estudantes é o único que está fazendo alguma coisa na primeira semana de aulas. Fizeram já na segunda-feira um ato no RU e nesta quinta realizarão uma Aula Magna sobre a luta em defesa da Universidade Pública.
Os chupa-tintas do DCE não só não prestaram apoio a esse movimento de independentes: boicotaram ativamente suas reuniões, semeando falsas polêmicas, implodindo o espaço e abandonando-o em seguida.
Os independentes erram?
Entretanto, essa energia que surge em grande medida em oposição ao imobilismo das organizações não pode se cristalizar como uma glorificação, uma mistificação da militância dos independentes. Quer dizer, é preciso ter em conta que a maior parte desses estudantes estará fazendo sua primeira experiência política como liderança de movimento, que os desafios de construir algo novo são maiores, e que não estarão isentos de errar.
Isso também porque o momento que atravessamos é de debilidade geral dos instrumentos de luta, como são os CAs, e há uma dificuldade de manter viva a memória das batalhas vitoriosas e estratégias equivocadas, para tirar suas lições e aproveitá-las nas lutas atuais. Os CAs precisam como nunca recuperar o papel manter acesas as lembranças, e de desempenhar uma centralidade na vida da Universidade.
Os independentes vão errar, e muito, e precisarão aprender com esses erros. Acelerar a compreensão desses erros e superá-los, conhecer e incorporar as lições das experiências que já foram trilhadas, caracterizar a prática das forças que atuam na política, é essa a verdadeira contribuição construtiva que esses estudantes precisam. Não precisam da “direção” lhes entregando um passo a passo da política. Não de alguém exercendo um papel de controle, mas sim quem esteja lá junto na política, lado a lado. É bem diferente.
*O texto é de inteira responsabilidade do autor, e não reflete necessariamente a posição do jornal.