Imagem: Divulgação EFOP
Flora Gomes* – 31/03/2022 – Redação UàE
Na próxima terça-feira (05/04), às 19h, a Escola de Formação Política da Classe Trabalhadora (EFoP) realizará mais um evento de debate. O professor convidado, Cláudio Ribeiro (UFRJ), irá discutir aspectos importantes da conjuntura, relacionando as supostas “tragédias ambientais” com a forma como o capital impõe a organização da vida nas cidades.
Apenas nos três primeiros meses deste ano foram registrados altos índices de chuvas e deslizamentos na região metropolitana de São Paulo, Petrópolis (RJ), na região do Capitólio (MG) e rompimento de barragem em Ouro Fino (MG). Outros desastres não naturais seguem ocorrendo e tem pouco espaço na grande mídia, mas que devastam a vida de milhares de trabalhadores brasileiros.
Leia também: Tragédia anunciada em Petróplis/RJ poderia ter sido evitada e Tragédia anunciada: Petrópolis volta a ter temporal; ao menos seis pessoas morrem
O tratamento dado pela mídia burguesa a esses fenômenos costuma ser baseado na tese de que desastres naturais acontecem, quase como uma obra do acaso. Essa abordagem me parece errônea por pelo menos dois motivos. Em primeiro lugar, não há uma relação supostamente natural entre o ser humano e a natureza. Esta depende do modo de produção da vida, das relações culturais em determinados territórios, dos processos de industrialização em cada região, entre outros fatores não naturais, mas sociais, ou seja, historicamente determinados. Em segundo, essa tese parece sustentar que haveria algo de inevitável nesses “acidentes”. Contudo, quando analisa-se particularmente estes casos, há uma relação direta entre a forma como se explora e se estruturam esses territórios e as consequências nefastas para a classe trabalhadora.
Conforme aponta Pereira no texto apresentado para o 21˚ Congresso Brasileiro de Direito Ambiental, em 2015, intitulado “Interpretações da crise e as tonalidades do movimento verde: A teoria da justiça ambiental”, a depender do entendimento que determinados grupos têm sobre a relação entre o ser humano e a natureza, o tratamento acerca do tema da crise ambiental e suas consequências se alteram. Há correntes que, por exemplo, sustentam uma visão de natureza idílica, defendendo uma vida mais simples, com menos consumo e por consequência com menos impactos ambientais. Outros, como os neomalthusianos, sustentam uma visão utilitária da natureza e apontam como solução o controle populacional para conter a utilização de recursos naturais. Os ecotecnicistas, por sua vez, compreendem que deve haver um esverdeamento da economia e que a tecnologia resolveria a crise.
Do meu ponto de vista, a relação entre o ser humano com a natureza não deve ser sustentada a partir de uma perspectiva idílica e pura, na qual deveria-se voltar a um suposto estado primitivo em que haveria uma harmonia entre ambos. Este fato nunca existiu. Não houve um momento de perfeita sincronia, pois o desenvolvimento humano se dá justamente pela tentativa de dominar a natureza. Isso não necessariamente é ruim. O desenvolvimento de remédios ou vacinas, por exemplo, se utiliza de fontes naturais, e com o desenvolvimento tecnológico, consegue tratar diversas doenças.
O que precisa ser analisado, sobretudo, é o modo de produção e as contradições em curso. Neste mesmo caso da produção de remédios, por exemplo, é necessário considerar que há disputas de patentes, exploração de territórios e conhecimentos de povos indígenas para a obtenção de lucro, dependência tecnológica, ausência de financiamento para pesquisas, entre outras questões profundas que dizem respeito sociedade de classes e, por isso, à luta de classes. Ou seja, essa relação entre o ser humano e a natureza não se desenvolve de forma a-história e está imersa em um mundo de contradições.
O caso do rompimento da barragem de Brumadinho (MG) em janeiro de 2019, por exemplo, foi tratado como um “desastre natural”. Contudo, documentos divulgados à época comprovaram que a companhia dona da barragem, a mineradora Vale, já havia calculado os gastos que teria em caso de rompimento com a estrutura. A companhia estava ciente da possibilidade do acidente e calculou que seria menos prejudicial economicamente não alertar as famílias sobre isso.
Leia também: Eles estão debochando da nossa cara
O debate organizado pela EFoP com o professor Cláudio Ribeiro busca dar um tratamento rigoroso a essas questões. Cláudio é professor da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade Federal do Rio de Janeiro e colunista do Universidade à Esquerda. Conheça seus textos clicando aqui.
O evento será transmitido no canal do YouTube da EFoP na terça-feira (05/04) a partir das 19h. Inscreva-se!
*Os textos de opinião são de responsabilidade dos autores e podem não refletir a opinião do jornal