Imagem: Ilustração da campanha da chapa ANDES Autônomo e de Luta
José Braga* – Redação/UàE – 08/05/2018
Não são tempos simples para a classe trabalhadora. A crise do capital se impõe sobre nós de modo avassalador. Em nosso país, o golpe de 2016 intensificou a força com a qual a burguesia instala sua política de recessão sobre o povo. São 13 milhões de desempregados, as terceirizações em ampliação, a contrarreforma trabalhista que ataca as já frágeis proteções aos trabalhadores, a emenda constitucional número 95 que restringe os gastos da união afetando principalmente as áreas que atendem a nossa classe – um ataque não apenas a direitos, mas as condições de vida de nosso povo. Isso sem falar no recrudescimento da violência que tira vidas das fileiras de lutadoras e lutadores.
Na educação, o cenário não é distinto. Os cortes no orçamento do Ministério da Educação e da Ciência e Tecnologia tem se aprofundado desde de 2014 implicando numa dinâmica de maior precarização das Universidades Públicas. Soma-se a isso as reformas na educação básica com a reforma do ensino médio e a base nacional curricular comum. Reconfigura-se a educação pública conforme os ditames do empresariado.
É neste contexto, que hoje 09 de maio e amanhã 10 ocorre a eleição para a direção nacional do Sindicato Nacional dos Docentes de Ensino Superior (ANDES-SEN). Para direção nacional e as coordenações regionais concorrem duas chapas: Chapa 1 – ANDES Autônomo de Luta; e a Chapa 2 – Renova ANDES.
As implicações deste momento que vivemos para os movimentos, para a organização coletiva e para a luta de nossa classe são das mais sérias. É o momento de mantermos o rigor, o debate coletivo constante sobre a conjuntura, a conexão de nossas ideias com a ação política, a democracia de base como um princípio sólido e intransponível entre nós, de não ceder aos oportunismos, às armadilhas e aos caminhos fáceis. Manter um laço de solidariedade de classe que transponha as barreiras do corporativismo e da cooptação é fundamental.
No interior das universidades os desafios para os trabalhadores e estudantes têm caráter semelhante. Ou seremos capazes de manter uma política séria, comprometida com as bases, comprometida com a defesa da Universidade Pública, Laica, Gratuita e de Qualidade Socialmente Referenciada ou seremos engolidos. As forças que se impõe contra a universidade são enormes, a burguesia não esconde seu desejo de ver o fim desta instituição.
Neste sentido, o ANDES-SN tem sido um exemplo, um sindicato fundamental nas lutas pela Universidade Pública e na resistência aos ataques à classe trabalhadora. Resistiu mesmo com a cisão do sindicato nacional promovida pelo governo Lula com a criação do PROIFES – um sindicato corporativista a mando do governo, e com os limites da cooptação de sua própria categoria. O ANDES tem sido uma importante ferramenta para os trabalhadores docentes, e um pólo articulador para todos aqueles que se preocupam com a Universidade – mantendo-se independente e crítico aos governos Lula, Dilma e ao golpista Temer. E a eleição de hoje e amanhã definirá o futuro deste importante organismo de nossa classe.
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A chapa 1 – Por uma ANDES Autônomo e de Luta – tem o caráter de continuidade das últimas direções que mantiveram nos últimos anos uma posição autônoma, independente e crítica em relação a partidos e governos, dirigindo democraticamente o sindicato no sentido programático estabelecido pelas bases nos congressos nacionais do sindicato, para as lutas contra os ataques às instituições de ensino superior, ao trabalho docentes e a classe trabalhadora de modo geral. Resistindo ao longo dos últimos anos as tendências burocratizantes que tem destruído o movimento sindical no Brasil, e as tentativas do Governo do Partido dos Trabalhadores de quebrar o sindicato. O ANDES, sob a sua direção, tem sido central nas lutas contra as contrarreformas e os ataques a democracia no Brasil.
Seu programa é complexo e dinâmico, com uma leitura crítica do momento em que vivemos e seus determinantes; consegue dimensionar o tamanho das lutas que estamos travando e seus sentidos estratégicos. E pauta-se na tradição deste sindicato de autonomia e democracia interna, nas seções locais, nas assembleias dos trabalhadores. Uma chapa a altura das lutas da classe trabalhadora.
Já a chapa 2 – Renova ANDES – se coloca no pleito argumentando a necessidade de renovar o sindicato, torná-lo “mais democrático”, colocá-lo no sentido da luta contra o golpe e debater sua filiação a Central Sindical e Popular – CSP/CONLUTAS. A chapa, composta por setores ligados ao Partido dos Trabalhadores, propõe sua filiação a Central Única dos Trabalhadores – CUT -, que é dirigida pelo partido. Como pode ser visto em seu programa:
“Favorecer o reatamento do ANDES-SN com a ação unitária ao lado das organizações representativas e majoritárias do movimento sindical, popular e da juventude contra as contrarreformas de Temer” e “Realizar um balanço democrático destes mais de 10 anos de filiação do ANDES-SN à CSP-Conlutas, filiação que se mostrou um obstáculo no momento da luta contra o golpe.”
De modo oportunista, ignoram que o ANDES é um dos mais sindicatos mais democráticos que existe no país, que se reúne anualmente em congresso para debater as diretrizes de luta que devem ser encaminhadas pela direção nacional e as seções locais. E a cada congresso o tema da filiação à central é retomado. Mesmo neste ano este tema foi debatido e a posição da Renova ANDES derrotada pelas bases:
“Para a imensa maioria dos(as) participantes, o ANDES-SN deve continuar filiado à CSP-Conlutas, envidando esforços pelo aprofundamento da democracia interna na central e pela capilarização no movimento social e sindical brasileiro. Decidiu-se, ainda, pelo aprofundamento da luta contra medidas que atacam os(as) trabalhadores(as), tais como: a PEC 287/16 da contrarreforma da previdência, lastreada em números forjados sobre o falacioso déficit da previdência social; a MP 805/17 e suas correlatas no plano dos estados, que aumentam a contribuição previdenciária de 11 para 14%; o PL 116/17, que estabelece regras para a demissão de servidor(a) público(a) estável por “insuficiência de desempenho”; a MP 792/,17 que trata de desligamento voluntário de servidores(as) públicos(as). Na perspectiva dos(as) congressistas, tais enfrentamentos exigem o fortalecimento de espaços de luta, como a CSP-Conlutas, o FONASEFE, a CNESF e outras organizações sindicais de servidores(as) públicos(as) com vistas à realização de uma greve geral do serviço público (federal, estadual e municipal). “ Carta de Salvador, 37º Congresso do ANDES
Seu programa nada mais é que uma tentativa de realinhar o sindicato às políticas do Partido dos Trabalhadores, deturpando de modo oportunista a trajetória histórica do sindicato.
Seção Local – ANDES-UFSC
De modo semelhante ocorre nesta quarta e quinta a eleição para direção da seção local do ANDES-UFSC, na qual concorre a chapa única: “Resistindo na boca da noite um gosto de sol”. Na Universidade Federal de Santa Catarina, a diretoria da seção sindical tem lutado bravamente para manter o movimento docente vivo contra o conservadorismo e a burocracia da Associação de Professores da Universidade Federal de Santa Catarina (APUFSC). Protagonizaram contra todas as pressões lutas importantes como a greve docente de 2015 e a criação do comando de greve unificado que articula a greve docente com a greve dos Técnicos Administrativos em Educação e com as greves e paralisações estudantis que pipocavam nos cursos.
Do mesmo modo, têm sido atacados pelos setores mais oportunistas entres os docentes da nossa universidade, traidores da classe trabalhadora dentre os quais o Polo Comunista Luiz Carlos Prestes, acusando a chapa e as direções anteriores de não se posicionar sobre a escolha da filiação a central sindical, bem como de não se posicionar firmemente contra o golpe. Ignoram, as lutas travadas pelo ANDES na UFSC e em Florianópolis e que este sindicato é construído pela base. Não à toa, estes ataques tem o sentido de deslegitimar aqueles que continuam firmes construindo o ANDES-UFSC nos últimos anos e reiterar a chapa 2 para eleição da direção nacional.
O ANDES tem mostrado que uma outra política sindical é possível – uma política classista, combativa, autônoma e efetivamente democrática. Por isso, hoje e quinta é hora de envidar esforços para que o ANDES siga Autônomo e de Luta. É hora de apoiar a chapa 1 para a direção nacional e a para seção local. Toda solidariedade e apoio por uma ANDES Autônomo e de LUTA com a chapa 1 para a direção nacional e para chapa “Resistindo na Boca da Noite um Gosto de Sol” na UFSC!
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