Fotos: foto da bandeira feita por George Vale / foto da movimentação do grito dos excluídos por Fernando Frazão/Agência Brasil Edição: UàE
Martim Campos* – Publicado originalmente em Universidade à Esquerda – 25/08/2022
Com a aproximação do dia 07 de setembro a tensão cresce com a possibilidade de uma aventura golpista de Bolsonaro e seus apoiadores. A previsão até o momento para as ruas nessa data que comemora 200 anos de independência do Brasil é a de que sejam povoadas por movimentos conservadores, com caravanas e ‘motociatas’ em apoio ao presidente. Em contrapartida, ainda vemos poucas frentes de esquerda puxando movimentações e atividades na mesma data.
Durante a sabatina dos presidensiáveis no Jornal Nacional, Jair Bolsonaro foi o primeiro a ser entrevistado na noite desta segunda-feira (22/08) pelos jornalistas William Bonner e Renata Vasconcelos. Os jornalistas pressionaram o candidato no início da entrevista para comprometer-se com uma declaração pública de que respeitaria o resultado das eleições, sem incitar suas bases a questionarem o resutado, mas o presidente condicionou o respeito ao resultado: “Desde que [as eleições] sejam limpas e transparentes”. Sem quaisquer declaração pública que indicasse sinais de recuos do Bolsonaro, após a participação na sabatina o presidente iniciou uma live convocando sua base para atos em apoio ao seu governo, no dia 07 de setembro: “Conto com vocês aí no 7 de Setembro, às 9h, em Brasília, um grande desfile militar. Depois venho para cá [Rio de Janeiro]; às 15h estarei aqui em Copacabana”, afirmou Bolsonaro, em transmissão ao vivo pelas redes sociais.
Na terça-feira (23/08), notícias sobre os mandatos de prisões para oito empresários que manifestaram apoio ao golpe em grupos de whatsapp tem circulado bastante na mídia, parecido com o que ocorreu ano passado quando contas de bolsonaristas foram bloqueadas sob a suspeita de financiamento de movimentos radicais.
Dentre as correntes de fake news que estão sendo espalhadas, de acordo com a reportagem da Folha de São Paulo, circulam mensagens que citam o trio “Fachin, Barroso e Xandinho do PCC querem impugnar a chapa de Bolsonaro”, junto com uma pesquisa interna que apontaria que o ex-presidente Lula possui apenas 17% dos votos. As mensagens circularam mais de 92 mil vezes em grupos de whatsapp.
Frente às mobilizações e articulações bolsonaristas, a resposta ao desastre que é esse governo por parte das frentes de esquerda são poucas e incipientes. Vemos uma aposta mais enérgica na tese da construção da candidatura do ex-presidente Lula, mas atos em contraposição ao governo são cada vez mais desmobilizados e vazios.
Ainda não saíram as confirmações dos locais onde irão ocorrer os atos do dia 07 de setembro, mas já existem movimentações sobre a data. Confira abaixo como estão as movimentações para o 7 de setembro no país até o momento.
Articulações Bolsonaristas
No fim de julho, Bolsonaro convocou seus apoiadores para irem às ruas, sob pretexto de “defesa da liberdade pela última vez”. De acordo com a revista Veja, a Polícia Militar de São Paulo recebeu até o momento 13 protocolos de grupos que pretendem se manifestar na Avenida Paulista no feriado, sendo 12 parte de movimentos de direita e apoiadores do Bolsonaro. Na Avenida Paulista, o evento está previsto para começar às 14h e terminar às 17h. O Nas Ruas, movimento de direita, já adotou os trâmites burocráticos junto às autoridades responsáveis para assegurar o espaço para a manifestação.
Além disso, inúmeras postagens têm circulado nas redes sociais como o Twitter com confirmações de caravanas para as grandes cidades e demonstrações de apoio ao presidente.
Frentes de esquerda
Neste ano, A 28º edição do Grito dos Excluídos e Excluídas tem o lema “Brasil, 200 anos de (IN) Dependência do Brasil, pra quem?”, com algumas marchas programas em capitais como Belo Horizonte (MG), Recife (PE) e São Paulo (SP) neste 07 de setembro. A falta de construção dos atos de 07 de setembro por parte da esquerda tem sido reforçada pela avaliação da campanha do ex-presidente Lula, que incentiva sua militância a não promover atos na data para não confrontar bolsonaristas. A presidente nacional do Partido dos Trabalhadores, Gleisi Hoffmann, já afirmou que “Não vamos fazer manifestação nem nenhuma convocação para 7 de Setembro. Nós vamos participar como sempre, acompanhando as atividades”.
Raimundo Bomfim, da Central de Movimentos Populares, afirmou que o Grito dos Excluídos vai ocorrer normalmente, coordenado por pastorais sociais, mas não tem “objetivo de medir força com os atos do bolsonarismo”.
De acordo com a revista Veja, até o momento existe apenas a inscrição do Grito dos Excluídos para a Avenida Paulista. As manifestações, em sua maioria, estão previstas para o dia 10 de setembro.
A articulação Povo na Rua Fora Bolsonaro, composta por movimentos sociais, organizações populares e partidos políticos de esquerda como a UP, PCB e o Movimento Esquerda Socialista (MES) divulgou hoje (24/08) em suas redes sociais uma postagem reforçando o convite para ir às ruas:
A burguesia está convencida e pronta para um golpe de estado, para aumentar a exploração das nossas riquezas, a miséria, fome e desemprego. Não podemos nos calar e fingir que nada tá acontecendo, precisamos denunciar e lutar contra o golpe. Por isso, no dia 07 de setembro estaremos nas ruas lutando contra todo e qualquer ato antidemocrático e golpista.
FORA BOLSONARO E OS GENERAIS!
Em meio às ameaças bolsonaristas crescentes e sem recuo, um verdadeiro escárnio e show de horrores diante da gravidade da crise econômica e social no país, parte da esquerda tem se contentado com a assinatura de cartas em conjunto com banqueiros e empresários para a defesa da democracia abrindo mão da luta nas ruas, de uma luta contrária a agenda burguesa que “vai bem, obrigada”, porque continua conseguindo enriquecer, aprovar suas pautas de precarização das condições de vida ao desmanchar políticas públicas e consolidar reformas trabalhistas e administrativas.
Este texto não tem como finalidade equiparar as candidaturas de Lula e Bolsonaro, mas colocar em questão a falta de construção de saídas e projetos para a classe trabalhadora em meio a uma das crises mais brutais que enfrentamos no país, tornando cada vez mais precárias as condições de vida. As cartas pela democracia que tem mais de um milhão de assinaturas atualmente, assinadas pelas mais variadas categorias mostram um falso ombro a ombro que não condiz com a realidade brasileira, num mundo onde podem conviver pacificamente o empresariado, banqueiros e militantes dos partidos políticos comunistas. Ainda que seja difícil acompanhar o movimento da burguesia e suas rupturas internas e rearranjos, suas pautas com as principais reformas trabalhistas e administrativas continuam avançando, as privatizações e entregas do patrimônio público continuam acontecendo.
Diante de uma crise sem precedentes, qual será o horizonte após as eleições? Como uma carta e a desmobilização nos atos de rua podem consolidar rumos onde a classe trabalhadora volte a ter protagonismo diante da correlação de forças tão desfavorável onde nenhum projeto para o Brasil além o da burguesia brasileira está em disputa entre os dois candidatos com mais intenção de votos?
É diante da brutal realidade que a classe trabalhadora vive, a esquerda tem em suas mãos o desafio de construir um horizonte de lutas!
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