Luiz Costa – Redação UàE – 19/09/2018
No dia 30 de agosto a Pró-Reitoria de Extensão da UFSC publicou o Edital nº 6/2018/PROEX a fim de apoiar institucionalmente até 20 Empresas Juniores. O apoio é principalmente financeiro. A reitoria se dispõe a custear até R$ 30.000,00 em recursos para o uso na imprensa universitária. Sendo até 2 mil reais para cada uma das 10 primeiras EJs classificadas, de acordo com o resultado de seleção, e mil reais para cada uma das outras 10 EJs. O auxílio é destinado para o uso das EJs até dezembro deste ano.
A criação de Empresas Juniores é marcada por vários conflitos nas Universidades Públicas, inclusive, na UFSC. No dia 13 de novembro de 2013, os estudantes, professores e técnicos-administrativos do Centro de Filosofia e Ciências Humanas, em assembléia histórica, deliberaram não permitir a criação de empresas juniores na unidade entendendo sua incompatibilidade político-pedagógica com a Universidade Pública.
“O entendimento desta assembleia geral do CFH é de que as empresas juniores não são coerentes pedagogicamente com o papel da universidade pública. Portanto, a posição desta assembleia é de que não se credencie/autorize a criação de empresas juniores neste centro”. Este era o resultado de um longo processo de debate que começou em 2008, com a proposta de surgimento de EJ no curso de graduação em psicologia da UFSC.
O grande problema que está por trás das Empresas Juniores é identificar se, de fato, essa iniciativa corresponde à função da Universidade Pública. Há aqueles que insistem no fato de que caberia às universidades e demais Instituições de Ensino Superior (IES) apenas a formação e que essa seja voltada para o mercado. Neste caso, as Universidades Públicas se diferenciariam das demais IES pela mera gratuidade.
Porém, podemos ir além e pensar no papel mais amplo que cabe às Universidades Públicas. Pensar que são essas as instituições capazes de compartilhar o conhecimento socialmente produzido intimamente relacionado com a produção de conhecimento científico, artístico e filosófico, através da pesquisa e extensão. Pensar que são essas as instituições capazes de resolver os dilemas sociais, as principais questões que nos cercam e que pode, assim, revolucionar nossa forma de vida e sociedade. E que, portanto, não se limita aos interesses de mercado, mas vai além.
Que essa seja a instituição com a capacidade de realizar críticas fora do controle do Estado ou da Igreja, sem guiar para um horizonte específico e limitado, como as demandas imediatas do mercado em prol do avanço tecnológico. Que seja essa a instituição capaz de pensar, investigar e questionar, em todas as áreas do conhecimento, a fim de conduzir a sociedade. Reduzir o potencial do conhecimento ao simples interesse do mercado e sua demanda de desenvolvimento tecnológico é condenar que nada de novo possa se esperar para além da lógica mercantil.
Com a presença das Empresas Juniores dentro da universidade pública, o vínculo entre a sala de aula e os laboratórios com aquilo que demanda a sociedade se torna alienado pela via do mercado. E, ainda que essa presença aparenta se restringir apenas a grupos restritos de estudantes, tal alienação subordina, como resultado, tanto os currículos quanto o trabalho dos professores.
À universidade pública não cabe responder às necessidades do mercado, nem do governo nem de nenhum grupo específico; mas sim, as necessidades de nossa sociedade. Cabe à Universidade Pública sempre atender aos interesses maiores da sociedade, que é aquela que a custeia e mantém seus princípios.
Fomentar e apoiar as Empresas Juniores, mesmo com os históricos movimentos estudantis contrários, é apoiar um projeto de universidade que se reduz ao mercado e que se esvai do compromisso social. Sendo uma instituição destinada apenas para formar pessoas para o mercado, o retorno é direcionado para o campo pessoal e não mais social e coletivo. O financiamento social perde sentido e, logo, não há mais porquê da gratuidade.
Na atual conjuntura em que a única instituição capaz de pensar as grandes questões sociais está ameaçada e fortemente atacada através do estrangulamento de recursos públicos, a tragédia do Museu Nacional é apenas consequência lógica. Qualquer tentativa de reduzir o ensino, pesquisa e extensão à mera formação empreendedora e aos interesses privados deve ser combatida e rechaçada.
É preciso, mais do que nunca, reviver o poder transformador que a construção coletiva pode oferecer. É preciso transcender os interesses individuais e ressaltar o valor social que a Universidade pode e deve cumprir.
Por uma universidade autônoma que critique tudo e a todos. Pois só assim, poderemos nos arriscar no indeterminado e pensar algo realmente diferente do que está dado.
“O grande problema que está por trás das Empresas Juniores é identificar se, de fato, essa iniciativa corresponde à função da Universidade Pública.” Nessa frase, o Senhor deixou absolutamente claro que não tirou meio segundo para ler a história das criações tanto dos cursos que detém a maioria das empresas júniores quando das empresas juniores por si mesmas. Os cursos da UFSC, principalmente os do CTC, possuem currículos pensados para entender as demandas da indústria da regional e nacional. Como você pode colocar coisas como “…tal alienação subordina, como resultado, tanto os currículos quanto o trabalho dos professores…” quando são os PRÓPRIOS PROFESSORES que trabalham para fazer o currículo dos cursos?
Mas eu concordo totalmente contigo na frase: “É preciso transcender os interesses individuais e ressaltar o valor social que a Universidade pode e deve cumprir.”.
Então, por favor, transceda SEUS limites individuais, e deixe as pessoas trabalharem em coisas que realmente vão mudar a sociedade.
Mas a ironia é cômica: O incrível CFH, com suas nulas possibilidades de empresas e negócios juniores tentando parar as poucas iniciativas que existem em outros Centros. É rir para não chorar.