Imagem: Montagem UàE/ Divulgação UFSC
Lara Albuquerque – Redação UFSC à Esquerda
Na tarde de hoje, 17 de agosto, o Conselho Universitário da UFSC se reuniu em continuidade à sessão do dia 03 de agosto. Naquela ocasião, os estudantes participaram do conselho a partir de um ato do Campus Trindade em protesto, pedindo mais debate sobre o conteúdo das alterações apresentadas na minuta da reitoria, uma vez que está sendo alterada substancialmente a pós-graduação na UFSC. Esta já é a terceira reunião em que o CUn debate as alterações na pós-graduação à Resolução Normativa 095/2017 e, possivelmente na semana que vem, deve acontecer a quarta reunião.
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As críticas que APG vem fazendo à Reitoria por apressar a aprovação de sua Reforma na Pós Graduação sem ouvir a comunidade universitária se mostram mais uma vez corretas. Na sessão de hoje, os conselheiros TAEs apresentaram a necessidade de debate com a comunidade quando da apreciação de propostas de alterações que tratavam sobre a possibilidade de Técnicos Administrativos em Educação serem voluntários em Programas de Pós-Graduação. Os conselheiros acolheram a avaliação e a decisão sobre este ponto foi adiada. Há no Conselho Universitário da UFSC uma evidente falta de escuta quando os argumentos são apresentados por estudantes ou quando o posicionamento destoa amplamente da política da reitoria.
Uma significativa mudança foi votada também ainda sobre o trabalho voluntário, mas dessa vez quando executado por pós-doutorando. Foi aprovado um novo texto que estimula, institucionaliza e aprofunda o trabalho voluntário de pós-doutorandos nos programas. Mesmo após a APG apresentar que seria uma questão muito polêmica na nossa conjuntura e se colocando contrária à alteração, uma vez que em os concursos e a reposição de cargos docentes está cada vez mais escassa e longe dos horizontes nas Universidades. Por mais que não tenha uma relação direta, seria prudente o Conselho Universitário se atentar aos problemas que as universidades públicas vem enfrentando e aos efeitos que as alterações podem ter nesse contexto de desmonte, principalmente quando alertados que isso vem colado ao desmonte da carreira docente.
Outro ponto muito complicado que foi aprovado hoje é a limitação do tempo em que um estudante de pós pode pedir afastamento por motivos de saúde, limite esse que não existia no texto original da proposta.
Chama a atenção que a reitoria tem conseguido aprovar todas as mudanças mais substanciais sem passar por uma análise crítica e detalhada da maioria do conselho que vem aprovando às propostas da Reitoria de Ubaldo de modo quase automático. Esse cenário é grave no principal órgão da universidade e que tem o poder de contestar as prioridades de pauta da gestão. As alterações que já foram votadas foram: (1) desvinculação de mestrado e doutorado de forma mais explícita; (2) previsão de oferta de doutorado profissional, anteriormente somente era previsto mestrado profissional – fica evidente a intenção de estimular essa modalidade; e (3) possibilidade de turmas de pós fora da estrutura da UFSC, abrindo espaço para parcerias com o setor privado.
Ainda sobre a alteração da RN 95/2017, serão tratados temas cruciais para a pós graduação, um deles abrirá margem para estabelecer de forma permanente o Ensino à Distância na PG da UFSC, proposta expressa no artigo 35º da minuta:
“Artigo 35º As disciplinas dos cursos de mestrado e de doutorado, independentemente de seu caráter teórico ou prático, serão classificadas nas seguintes modalidades (…):
- § 3º Os professores externos ao Programa poderão participar, por meio de sistema de áudio e vídeo em tempo real, na docência compartilhada de disciplinas.
- § 4º A Câmara de Pós-Graduação estabelecerá as normas e os procedimentos para o desenvolvimento de atividades síncronas e assíncronas na UFSC”.
Resta a dúvida se a reitoria da UFSC irá conseguir aprovar este ponto que é um debate central ao momento em que se iniciam os debates ao retorno presencial na UFSC, seria um passo favorável à proposta mais recente apresentada às Universidades pelo MEC aos mandos de Bolsonaro, o projeto REUNI Digital. A UFSC ainda não fez qualquer debate nesse sentido, é sabido que há problemas graves tanto à qualidade das pesquisas e ao processo de ensino e aprendizagem na manutenção do ensino à distância, ou mesmo aos hibridismos propostos desde o governo federal. Espera-se que os Conselheiros não compactuem com essa proposta que pode trazer problemas sérios para a qualidade da formação e possam ouvir a comunidade universitária e pesquisadores que têm se dedicado a estudar modificações como essa na estrutura universitária. É crucial que não aprovem esta medida neste momento tão delicado.
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Ao final da reunião, na sessão de informes, foi lida uma nota por professor representante do Centro de Filosofia e Ciências Humanas, aprovada pelo CUn contra a realização do Enade durante a pandemia. Também foi debatido sobre portaria publicada na noite de ontem sobre a retomada presencial de forma gradual de algumas atividades, muitos conselheiros apresentaram descontentamento sobre a posição da reitoria em fixar uma data de forma unilateral para este retorno, sem as devidas garantias de segurança sanitária estarem garantidas. Os casos mais preocupantes são do Colégio de Aplicação e Núcleo de Desenvolvimento Infantil, que devem voltar antes, mesmo sem a vacinação das crianças e adolescentes estar no horizonte, além de que a estrutura dos prédios está muito deteriorada e precisará passar por grandes adequações.