UàE entrevista o movimento da UFFS:

Foto: Ocupa UFFS

Nessa semana o UFSC à Esquerda entrevistou William da Luz, da Coordenação de Direitos Humanos do Diretório Central dos Estudantes da Universidade Federal da Fronteira Sul, onde aconteceu uma ocupação contra a nomeação de um interventor do MEC (Ministério da Educação) para o cargo de reitor daquela universidade e contra os cortes orçamentários que o governo federal aplica nas Universidades Federais e em toda educação pública do país.

 


Foto: Ocupa UFFS


UàE – Como foi e tem sido o processo da Ocupação?

WL – Pra falar da ocupação antes temos que conversar sobre o que a gerou. Na nossa universidade houve um processo de consulta prévia a comunidade universitária para a escolha do próximo reitor, na qual escolhemos Anderson André Genro Alves Ribeiro, ficando Antônio Inácio Andriolli em segundo lugar e Marcelo Recktenvald terceiro lugar não participando do segundo turno. Após isso o Conselho Universitário compôs a lista tríplice para a qual Marcelo obteve apenas 4 votos, sendo um dele mesmo e outro do seu vice.

Esta lista foi enviada ao MEC pelo Conselho Universitário seguindo a ordem dos mais votados e se esperou que o Ministro seguisse a tradição democrática de escolher o primeiro nome da lista a qual vinha ocorrendo a anos, o que em minha opinião foi uma ingenuidade.

Agora precisamos falar do Marcelo, esse professor é um conservador que vêm a algum tempo apoiando Bolsonaro e suas ideias e achou o momento oportuno de aparelhar a UFFS e crescer politicamente de alguma forma com isso. Ele articulou diretamente em Brasília a sua nomeação que aconteceu como a maioria da comunidade previa por suas ameaças e posturas antidemocráticas na campanha.

Isso aliado a uma série de cortes na educação e ameaças graves ao ensino público do nosso país gerou um sentimento de violação em todos os seguimentos acadêmicos junto com o medo de perder o pouco que havíamos conquistado.

 Foi essa a situação limite que levou os estudantes a ocupar o prédio da reitoria em Chapecó. Pra contextualizar um pouco, nossa universidade é multicampi tendo ao todo 6 campi: Erechim (nosso campus), Passo Fundo e Cerro Largo no RS; Chapecó em SC e Realeza e Laranjeiras do Sul no PR.

A ocupação começou dia 30 de agosto como uma ocupação simbólica para manifestar nosso repúdio a essa nomeação e solicitamos que o Marcelo renunciasse, diante disso Marcelo toma posse em Brasília e faz um pedido de reintegração de posse antes mesmo de pensarmos em fechar os portões. Essa atitude foi mais do que suficiente para entendermos a repressão que viria daí pra frente o que fez com que os estudantes fechassem os portões e ocupassem efetivamente.

Aqui há duas narrativas importantes, a de um cenário interno da ocupação e a de uma luta política e judicial.

Vamos primeiro olhar a ocupação por dentro, o primeiro passo era construir a tão falada unidade. Sem isso não teria jeito, a gente teve que organizar nossa raiva e nossas disputas ideológicas e interpessoais, o que deu trabalho, mas deu certo, a ocupação estava com método de organização definido a partir de assembleias soberanas, comissões para as diferentes necessidades e um conselho composto por uma pessoa de cada comissão e duas pessoas de cada campus.

Eu sei que não é preciso muito pra dizer isso, mas aquela ocupação estava mais organizada que o Brasil.

Foi o que viu uma personagem importante da segunda narrativa, a juíza. Ela veio na ocupação, conversou com os estudantes e optou por uma audiência de conciliação. Nessa audiência os estudantes mandaram um porta-voz que afirmou que dialogaríamos apenas com o Conselho Universitário, no decorrer dela ficaram claras as posições antidemocráticas de Marcelo e sua equipe, seja por negar qualquer diálogo, seja por tratar os estudantes como invasores e ainda por ameaçar que qualquer dificuldade colocada a sua gestão articulariam o fechamento dos conselhos e a vinda de um interventor pior e mais agressivo ainda.

Todavia a ocupação saiu vitoriosa, não dialogamos com o Marcelo, enviamos uma lista de exigências ao Conselho Universitário que foi completamente aceita, dentre elas estava o pedido de destituição do Marcelo do cargo de Reitor e o posicionamento da universidade em relação ao future-se. A partir disso nessa sexta-feira dia 20 de setembro o prédio da reitoria foi desocupado voluntariamente.

UàE – Como acreditam que a Luta deve seguir?

WL – Uma série de movimentos surgiram desse caso, nosso Campus foi um dos mais mobilizados, com aulas públicas e a paralisação tanto da maioria dos cursos quanto do segmento discente do campus. Para mim a esse movimento não pode esfriar, tanto porque sabemos que o pedido de destituição tem que ser aprovado pelo MEC (o que duvidamos que aconteça), quanto porque vemos nossa universidade desmoronar diante dos nossos olhos, para organizar essa luta nosso Campus estará em congresso de 27/09 a 01/10.

UàE – Quais são os próximos passos para a UFFS e as outras federais para vocês?

WL – Por estarmos em 3 estados do sul, acho que o próximo passo para nós deve ser uma itinerância de denúncias e construção de organização estudantil com assembleias unificadas e videoconferências. Acho que para além de nós precisamos compreender que este governo antidemocrático e maluco é algo que nunca enfrentamos, e que os nossos hábitos de organização estudantil precisam ser revistos. Penso que o próximo passo pode ser uma unidade efetiva e estratégica das universidades do sul do Brasil (região que traz consigo uma carga de conservadorismo) para organizarmos a partir das bases uma greve nacional forte e longa o suficiente para abalar as estruturas da educação pública Brasileira e para colocar a organização do movimento estudantil em outro patamar.

UàE – Querem deixar alguma mensagem diante das conjunturas atuais?

WL – No nosso horizonte não pode haver outra coisa que não seja derrubar Jair Bolsonaro, este governo se mostrou insuportável, não o suporta o clima, não o suporta os trabalhadores e trabalhadoras, não o suporta as universidades, não o suporta os outros países e nem o planeta.

Venceremos, eles têm do lado deles o dinheiro, a violência e a ignorância, mas do nosso lado está a inteligência a compreensão e a solidariedade.

Toda sociedade é permeada do seu contrário e se vemos um grupo de desesperança no poder eu vejo no seio dessa sociedade doente uma multidão de pessoas que são a potência de um mundo novo, onde não morremos ou apanhamos por nossa etnia, gênero ou orientação sexual, onde temos o que comer, remédio para nossas feridas, harmonia com a natureza e a ecologia, onde temos educação de qualidade e não temos que responder a nenhum traidor. Eu vejo esta terra sem senhores, sem neo-nazistas, sem fascismo, sem guerras, extermínio, exploração e miséria construída, e ficar sentado em meu sofá apenas imaginando ela é uma péssima ideia.

Mas a mensagem que quero deixar é que a história são os povos que a fazem, e nós somos o povo, e o Bolsonaro nós vamos derrubar!

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