100 anos da primeira grande Greve e as perspectivas para o dia 28!

Por Sofia Llaves da Redação do UàE, em 18.04.2017

Em decorrência da Primeira Guerra Mundial, a predominância da exportação dos produtos fez com que o abastecimento de alimentos ficasse precarizado, causando elevações nos preços e baixa disposição desses produtos no mercado. Naquela época, as jornadas de trabalho eram de 12 horas e os salários eram precários, o que consolidava um país dependente com elevada exploração da força de trabalho. Nesse contexto – a qual marcava um início de constituição do operariado no Brasil – havia ainda pouca atividade sindical e os trabalhadores eram, em sua maioria, imigrantes – principalmente italianos e espanhóis – que vinham de experiências políticas em seus países de origem e que tiveram papel fundamental na organização sindical. Ainda assim, as poucas tentativas de organização desses setores contava com ampla perseguição política e abafamento das lutas. Porém, tendo em vista as extenuantes jornadas de trabalho, os baixos salários e nenhuma forma de regulamentação trabalhista, a classe trabalhadora concretizou, em 1917, a primeira Greve Geral do país, que ocorreu em São Paulo.

Diante das condições postas, as reivindicações, se deram em torno da necessidade da proibição do trabalho noturno para menores de 18 anos e às mulheres; aumento de 35% nos salários inferiores a $5000 (cinco mil réis) e de 25% para os mais elevados; data certa para o pagamento dos salários, a cada 15 dias, o mais tardar, cinco dias após o vencimento; garantia de trabalho permanente; jornada de oito horas e semana de trabalho de cinco dias; entre outras. A grande adesão da ampla massa de trabalhadores, assim como seu grande período de duração, obrigou, então, a burguesia a tomar medidas que freasse a continuidade do movimento e que teve como primeira ação o aumento dos salários. As demais reivindicações iniciadas na primeira Greve Geral, continuaram fazendo parte das greves, paralisações e manifestações que sucederam as décadas seguintes, até que parte delas foram efetuadas em 1943 pelo então presidente Getúlio Vargas na Consolidação das Leis Trabalhistas (CLT), como a proibição do trabalho para menores de 14 anos e o pagamento de 50% em todo o trabalho extraordinário (horas extras).

Fica claro, então, que a greve é um importante instrumento à classe trabalhadora a fim de expressar suas reivindicações, que permite que ela tenha acesso aos meios básicos enquanto continua lutando pelo seu projeto de sociedade. Não é a toa que o movimento grevista sempre foi a origem da conquista dos direitos trabalhistas, como, por exemplo, a redução da jornada de trabalho, garantia de piso e salário mínimo. Sendo assim, podemos incluir à primeira Greve Geral – que neste ano comemora-se seu centenário – entre outras conquistas, o reconhecimento do movimento operário como instância legítima e capaz de organizar o proletariado em direção a luta. Tanto é fomentado esse caráter, que a deslegitimação dessa arma política é recorrente até os dias atuais, através das constantes tentativas de criminalização e penalidades aos sujeitos que utilizam dessa ferramenta.

Logo, num período temeroso onde há inúmeras propostas de reformas com o intuito de retirar os direitos dos trabalhadores – adquiridos com muito sangue e suor no último século -, nada mais coerente do que lutar e resistir contra estes ataques. No entanto, não é uma tarefa fácil, pois se de um lado se encontra uma série de ataques do governo ilegítimo, de outra lado há uma grande parcela da população afetada pelo comodismo resultante da conciliação de classe feita pelo PT nos últimos anos, como bem apontou Paulo Silva [1].

Nesse sentido, está sendo construída a Greve Geral do dia 28 e que busca manter os direitos conquistados até então – vindos até mesmo da CLT de 43. Dentre todos os ataques, essa greve pretende barrar, principalmente, a reforma da Previdência. Mas para que esta, e demais lutas que surgirem pela frente, sejam efetivas é necessário que haja uma construção de conscientização sobre os riscos que tais medidas governamentais causam à população trabalhadora, assim como é preciso um envolvimento desde as bases para uma construção de luta unificada e socialista.

 

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