[Notícia] UTI’s com lotação de 90% em 17 capitais e DF

Foto: Breno Esaki/Agência Saúde DF

Por Martim Campos – Publicado originalmente no Universidade à Esquerda – 15/04/2021

Pacientes em estado grave por conta da Covid-19 estão ocupando em média 90% dos leitos de UTI segundo dados levantados pelo jornal Folha de São Paulo nesta segunda-feira (12/04) em 17 estados. Já fazem semanas em que a flutuação nas taxas de ocupação estacionou em números extremamente altos, com pouco impacto na desocupação de leitos das UTI’s ou diminuição das filas de espera.

Desde que a pandemia se instalou no país, vemos de forma crescente a sobrecarga dentro dos hospitais, com dificuldades dos profissionais para conseguir atender às demandas as quais são convocados diariamente, onde além de trabalharem em UTI’s lotadas, deparam-se com a falta de Equipamento de Proteção Individual (EPIs) e medicamentos e outros instrumentos para realizar os procedimentos necessários.

As filas de espera para conseguir leitos de UTI é a realidade geral em diversos estados, que persiste mesmo com abertura de novas vagas na UTI, como é o caso dos estados de Mato Grosso do Sul, Cuiabá, Goiás, Ceará, Curitiba, Rio Grande do Sul, Santa Catarina, Rio de Janeiro e Minas Gerais. Os números de pacientes esperando na fila chegam em números extremos, como é o caso do Ceará, com 587 pacientes esperando por vagas nos leitos de UTI.

Mesmo nas capitais onde não há espera de vagas no momento, suas taxas de ocupação nos leitos de UTI’s são extremamente altos – como é o caso do Paraná, que tem 95% de ocupação dos seus leitos.

Confira abaixo os 17 estados que possuem taxas de ocupação dos leitos de UTI acima dos 90%:

Mato Grosso (100%)

Mato Grosso do Sul (98%)

Rio Grande do Norte (98%)

Pernambuco (97%)

Distrito Federal (97%)

Santa Catarina (96%)

Rondônia (96%)

Ceará (95%)

Goiás (95%)

Espírito Santo (95%)

Paraná (95%)

Sergipe (94%)

Piauí (94%)

Acre (92%)

Minas Gerais (91%)

Rio de Janeiro (90%)

Além da falta dos leitos, o desabastecimento de medicamentos do kit de intubação é cada vez maior nos hospitais, tais como em Pernambuco, Rio de Janeiro São Paulo. Na tentativa de driblar a falta de insumos, em diversos municípios de Minas Gerais, as equipes estão transferindo pacientes para outras cidades e reforçando pedidos por medicamentos junto ao poder público para atender pacientes internados em UTIs em decorrência da Covid-19.

O esgotamento dos insumos se ainda não uma realidade, é previsão próxima e assombrosa: um exemplo é o levantamento da Federação das Santas Casas e Hospitais Beneficentes do Estado de São Paulo (Fehosp) que indica 160 unidades de saúde que tem estoque para no máximo de 3 a 5 dias.

O desespero de profissionais e pacientes cresce cada vez mais nas alas de tratamento intensivo, pois com as doses cada vez mais reduzidas de remédios e com seus estoques que fornecerão para somente 4 dias (quando costumava-se ter reserva para 2 meses), os medicamentos precisam muitas vezes serem priorizados para determinados pacientes e ainda diluídos. Há relatos de pacientes que estão sendo intubados em estado de vigília e para aguentar a dor, amarrados em camas para que suportar o procedimento e não se desesperar arrancando os tubos. Muitos chegam a óbito, pois sem sedativos, o esforço para passar pelo tratamento é muito maior, consumindo a energia dos pacientes.

A situação nos hospitais deixam claro quanto as medidas ínfimas dos governos e prefeituras – com toques de recolher e restrições de fins de semana, volta às aulas presenciais, lentidão na vacinação e priorizando o debate da vacinação privada paralela, atividades não essenciais funcionando normalmente e ausência de medidas públicas para a garantia do isolamento social tem consequências severas, com pouca eficácia para a contenção de circulação do vírus.

Sem um plano de prevenção, tapa-se os buracos com criações de leitos, que estão longe de serem suficientes e inviáveis caso não se tenha como tratar as pessoas com medicamentos.

Debates tem sido feitos no jornal do Universidade à Esquerda para pensar sobre o cenário atual enquanto resultado não somente da política de extermínio do Governo Bolsonaro, mas de uma estrutura que se consolidou ao longo de décadas de dependência tecnológica.

Historicamente nosso país vem priorizando investimentos ligados ao setor agropecuário ao invés de investir em seu parque industrial farmacêutico – há 20 anos, o Brasil produzia 50% de seus insumos para vacinas. Hoje o percentual é de apenas 5%. Atualmente, 90% dos Insumos Farmacêuticos Ativos (IFAs) precisam ser importados para o país; Em momentos graves de crise, onde a demanda é muito alta, evidencia-se ainda mais o limite de nossas capacidades de produção e os impactos de um desinvestimento de décadas.

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