Editorial, 13 de maio

Intervenção realizada hoje no Restaurante Universitário pelo Coletivo Kurima

Há uma data em nosso calendário para reverenciar o dia em que a princesa Isabel assinou a abolição da escravidão negra, mas a população que sente em sua pele até hoje os efeitos da herança que o racismo desse período nos deixou, sabe que não há o que comemorar por uma assinatura que ocorreu muito mais por questões econômicas do que um real interesse na libertação do povo negro.
É inegável que todo esse processo já envolveu muito sangue e resistência, mas ele ainda está longe de acabar. Em eventos recentes vemos diversos casos de mães, pais e jovens negros sendo exterminados pela polícia brasileira, norte-americana e de tantos outros lugares que possivelmente não há tanta informação disponível. Mas é chegado um momento em que a população não aguenta mais chorar a morte dos seus e a desculpa do erro individual do policial já não é mais capaz de apaziguar revoltas – o papel da polícia continua sendo predominantemente massacrar os trabalhadores, sobretudo os pretos e pobres. É quando essa população mostra o tamanho da sua força e lota as ruas, e esses momentos estão ocorrendo hoje em vários pontos do mundo, incluindo a nação-imperialista por excelência, os Estados Unidos.
O capitalismo e o mito da democracia racial não têm sido mais capazes de calar a revolta desse povo. Por isso, na data de hoje, treze de maio, não há muito o que comemorar, pois tanto o trabalho escravo, quanto o racismo assassino permanecem enraizados na sociedade em que vivemos – sobretudo no Brasil, cujo padrão de acumulação dependente foi capaz de combinar diferentes modos, modernos e arcaicos, de expropriação da força de trabalho. O racismo Estatal está presente em nosso cotidiano, basta olharmos para a luta por implementação de cotas na USP – como em várias outras universidades, que ainda insiste em afirmar um modelo desigual de acesso à universidade e ao conhecimento, ou aqui na UFSC, que permite que parte dos estudantes negros e pobres entrem no vestibular para lhes empurrar para fora pelas portas dos fundos, através da ausência de uma política séria de permanência estudantil.
Guardemos nossas reverencias para as grandes revoltas e lutas encampadas pelo movimento negro, que nossas energias se voltem em pensar, apoiar e construir junto a esse movimento uma sociedade de fato fundamentada em uma igualdade radical e universal. Que nesse dia, o que nos marque e inspire, seja capacidade do povo negro em ousar divergir!

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