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[Opinião] 36 cursos da UFSC têm menos inscritos do que vagas no vestibular de 2023. O que está acontecendo na universidade pública?

Julia Vendrami – 2/12/2022 – redação UFSC à Esquerda

Nos últimos dias foi divulgada a relação de candidatos por vaga para o vestibular da UFSC com ingresso em 2023. Surpreende o número de cursos com mais vagas do que candidatos, são 36 dos 100 cursos de graduação disponíveis nos cinco campi da UFSC. Essa situação vem acontecendo desde 2020, quando 23 dos 100 cursos ficaram com a relação candidatos/vaga menor do que um.

Analisamos os dados da quantidade de inscritos no vestibular da UFSC dos últimos 10 anos e verificamos que até 2020, pouquíssimos cursos tinham menos interessados do que vagas ofertadas, sendo que a grande maioria deles era do campus de Blumenau, que foi criado somente em 2014. A partir do vestibular de 2020 passa a ser muito maior a número de cursos nessa situação (linha azul no gráfico a seguir), mesmo que o número de cursos tenha se mantido praticamente constante (linha vermelha no gráfico a seguir).

Poderíamos supor que este é um efeito da pandemia, já que se inicia em 2020. Porém. E necessário lembrar que o vestibular para ingresso em 2020 aconteceu em 2019, antes de qualquer pessoa imaginar que o ano seguinte seria tão atípico.

Em 2021 não aconteceu vestibular da UFSC, somente processo seletivo pela nota do ENEM e de vestibulares anteriores, nesse ano mais da metade dos cursos não teve interessados suficiente para o número de vagas (59 de 94). O número de vagas ofertadas também foi muito menor que nos outros anos: 15,8% das vagas do ano anterior; mas a diferença no número de inscritos foi muito mais significativa: para o vestibular de 2021 se inscreveram 4,9% da quantidade de inscritos em 2020.

Para além desse ano atípico, desde 2016 o número total de inscritos no vestibular da UFSC vem caindo. Interessante observarmos também, no gráfico a seguir, que as vagas em 2014 já eram mais de 4200, porém sofreram reduções para 2015 e para 2016. As vagas consideradas são somente aduelas disputadas por vestibular, excluindo as que são pelo Sisu. Além disso, não foi considerado na análise os inscritos por experiência.

Os cursos que tiveram menos inscritos do que vagas ofertadas no vestibular foram: Arquivologia, Biblioteconomia, Ciência e Tecnologia de Alimentos, Engenharia de Aquicultura, Engenharia de Alimentos, Engenharia de Materiais, Física Licenciatura, Geografia nos turnos matutino e noturno, Geologia, Letras Alemão, Letras Espanhol, Letras Francês, Letras Italiano, Letras Português Integral, Matemática bacharelado e licenciatura, Meteorologia, Museologia, Química Bacharelado e Licenciatura, Química Tecnológica, Secretariado Executivo e Zootecnia, no campus de Florianópolis.

Nos demais campi são: Engenharia de Controle e Automação, Engenharia de Materiais, Engenharia Têxtil, Matemática bacharelado e licenciatura, Química bacharelado e licenciatura, em Blumenau. Todos os cursos oferecidos pelo campus de Blumenau tiveram menos inscritos do que vagas. Engenharia de Transportes e Logística e Engenharia Metroviária e Rodoviária em Joinville. Engenharia de Energia em Araranguá. Agronomia e Engenharia Florestal, em Curitibanos.

A relação completa de Candidatos por vaga em cada curso no vestibular de 2023 pode ser acessada aqui.

O ENEM também vem apresentando queda de inscrições desde 2016. Ao mesmo tempo, o número de matrículas em instituições privadas vem aumentando progressivamente. Nesse cenário, nos questionamos o que está acontecendo com a universidade pública? 

Será que a deslegitimação destas instituições na mídia burguesa tem feito com que menos jovens a procurassem? Será que a condição de vida da classe trabalhadora está tão difícil, que se dedicar integralmente ou se mudar para cursar o ensino superior, não é mais uma opção? Será que os cortes de verbas já são tão severos que a Universidade não consegue mais acessar os jovens para estes prestem vestibular? Será que as universidades não tem conseguido  garantir o suporte aos estudantes de baixa renda por meio das ações afirmativas, para que estes consigam se formar em uma universidade pública?

São questões que não são simples nem fáceis, mas que precisamos analisar e enfrentar como comunidade universitária e movimento estudantil, para que não sejamos uma das últimas gerações a acessar uma universidade pública.

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*Os textos de opinião são de responsabilidades dos autores e podem não refletir a posição do jornal.

*O texto foi atualizado às 15:30 do dia 3de dezembro de 2022, para incluir a lista de cursos com menos candidatos do que vagas.

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