Montagem UFSC à Esquerda.
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[Opinião] Seguem fazendo festa a pequena burguesia e a burguesia catarinense

Montagem UFSC à Esquerda.

Nina Matos* – Redação UFSC à Esquerda – 22/04/2021

Recentemente, um vídeo publicado no Instagram viralizou nas redes sociais. Nele, funcionários do Lontra Bar, situado no centro de Florianópolis, coordenam clientes a vestirem máscaras e sentarem nas mesas no momento anterior à entrada dos fiscais da Guarda Municipal. Assim que a Guarda retira-se, as pessoas voltam a dançar na pista em frente ao palco.

https://www.instagram.com/p/CN2Vcu9lxGN/

Em Santa Catarina, já é padrão que na segunda-feira os jornais locais estampem as festas ilegais ocorridas no final de semana, geralmente nas regiões mais nobres do litoral catarinense, nos bares mais caros e até sobre o mar. Até mesmo o beach club palco de cenas de violência que comoveu o país permanece frequentado ao ponto de promover aglomerações.

“Eu posso”: esta é a base do argumento daqueles que quebram com o isolamento social por algum motivo fútil — como frequentar baladas e demais festas. Podem porque não estão em nenhum trabalho essencial ou na linha de frente, podem pois não moram com ninguém que seja grupo de risco, podem por uma questão de preservação da saúde mental.

São muitas as derivações da constatação do “poder fazer” que sustentam a negação da realidade. Enquanto no Brasil estacionamos na média de 3 mil mortes por dia em decorrência do Covid-19, para alguns que “podem” nada mudou. Qual parcela da população que uma pandemia não abala sua vida?

Desviando das notícias sobre a pandemia, em completa alienação da realidade, a ideologia burguesa mantém o hedonismo, usufruindo ao máximo de seus privilégios de classe, a ponto que sequer um momento histórico de tamanha amplitude tira-lhe o sono.

No estado inteiro, 12.842 vidas já foram ceifadas por uma pandemia que chegou de repente, mas que poderia ter um curso menos severo caso as políticas de combate à propagação do vírus fossem mais firmes.

Entretanto, as cessões feitas aos interesses burgueses, como aos bares, academias e setor de eventos — que se apresentam cada vez com menor pudor — banalizaram os cuidados necessários para diminuir a circulação do vírus.

Sabemos que para evitar a propagação, as recomendações são o uso de máscara e distanciamento social. Mas em um ambiente onde o objetivo é comer e beber é impossível que se passe a maior parte do tempo com a proteção necessária. É nesse sentido que se banaliza o cuidado, criando espaços onde as regras sanitárias podem ser desvirtuadas com o único objetivo de legalizar a abertura desse tipo de comércio.

Para que não se tornasse visivelmente sórdida a necessidade da manutenção da abertura destes espaços comerciais, muitos empresários e clientes justificam sob o mesmo pretexto que o próprio Lontra Bar se apoiou em resposta a interdição sanitária:

“Nosso propósito é muito mais do que oferecer diversão aos clientes, temos preocupação com nossos colaboradores que precisam e imploram por trabalho para sustentar suas famílias”.

Praticamente é como se dissessem que a vida de seus trabalhadores valesse menos que a garantia do prazer da clientela. Se a preocupação verdadeira fosse com a segurança, buscaria-se outras medidas para manter os empregos. Isso tratando apenas das medidas mais imediatas, pois se houvesse de fato preocupação, esta expressaria-se na não negação da realidade, na luta por um auxílio decente, por maneiras de garantir que uma enorme parcela da população não precisasse sujeitar-se à escolha de morrer de fome ou de Covid-19.

Entretanto, o que vemos são os representantes dos empresários ligados ao setor de eventos pressionando o governo do Estado e a Secretaria de Saúde a permitirem a retomada da promoção de festas como aniversários, casamentos e formaturas.

Neste momento onde SC continua com filas de espera para leitos de UTI, onde profissionais de saúde lidam cotidianamente com o sucateamento da saúde pública, com o medo de faltar oxigênio, insumos médicos e EPI, uma pequena parcela da população pensa que pode continuar com sua vida normalmente, como se seus atos não gerassem consequências.

 

* Os textos de opinião são de responsabilidade dos autores e não representam, necessariamente, as posições do Jornal.

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