Sessão da Alesc na terça-feira (22). Foto: Rodolfo Espínola/Agência AL, Edição: UFSC à Esquerda.
Nina Matos* – Redação UFSC à Esquerda – 25/06/2021
Uma moção de repúdio à UFSC e ao Colégio de Aplicação (CA) por não voltarem às aulas presenciais e permanecerem em ensino remoto foi aprovada na Assembleia Legislativa do estado de Santa Catarina (Alesc) na última terça-feira (22).
De autoria do deputado Jessé Lopes (PSL), a moção tem como justificativa a noção de que o ensino remoto não serve como alternativa para garantir a educação, especialmente no caso de crianças e adolescentes.
Desde os primeiros momentos da pandemia, ainda em 2020, houve uma forte pressão por parte do empresariado para o retorno presencial das aulas. Sob a representação de políticos à direita, associações e sindicatos patronais das escolas particulares e do comércio, a pretensa preocupação com a educação trata-se de ocultar os interesses por trás de manter uma pseudonormalidade às custas de muitas vidas ceifadas.
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Curioso como, ao mesmo tempo em que esses interesses se moviam pelo o retorno presencial na educação básica, também bombardeavam a UFSC com o repúdio por não aderir prontamente ao ensino remoto na graduação e pós-graduação, sob a mesma justificativa de preocupação com a educação.
Que o ensino remoto não é capaz de dar conta daquilo que a educação exige já está bem elucidado. Entretanto, desta constatação, as frações burguesas interessadas na banalização da pandemia oferecem como solução o que atende aos seus próprios interesses, mascarando-o como um interesse geral.
As denúncias de que as escolas públicas não tinham estrutura suficiente para comportar o retorno presencial perduraram ao longo de todas as tentativas de fazê-lo acontecer. Em Florianópolis, apenas com uma longa greve que a vacinação dos professores municipais pôde ser garantida.
Na UFSC a situação orçamentária encontra-se precária a ponto de, hoje, a universidade sequer possuir contrato para manutenção do sistema hidrossanitário — que abrange tudo aquilo que precisa estar funcionando perfeitamente para tornar o ambiente seguro para a permanência em plena pandemia.
Com o orçamento reduzido a tal ponto, a contratação de professores acaba sendo emperrada frente a outros gastos necessários para manter de pé a infraestrutura. No CA, por exemplo, a falta de professores afetava a escola desde antes da pandemia, tendo que iniciar o período letivo com um déficit de 221 aulas das 1.684 que a escola precisa garantir.
O Núcleo de Desenvolvimento Infantil (NDI) também esbarra em problemas referentes ao sucateamento. Com as dificuldades em reformar a infraestrutura já precarizada, garantir alimentação e o quadro de funcionários necessário para o funcionamento adequado da escola, as possibilidades de retorno presencial trazem consigo fatores de insegurança.
Acerca da situação geral orçamentária que enfrenta a UFSC, o CA e o NDI, que hoje é o principal impedimento à volta presencial das aulas, não há menções por parte de Jessé ou dos demais que aprovaram um repúdio pela Alesc.
O deputado limita-se a um discurso raso de que há “vagabundagem” dentro da universidade — e sequer se constrange ao se rebaixar a proferir ofensas aos professores. Outros, como Bruno Souza (Novo), se prestam a fazer comparações com a rede privada — que não tem pudor ao colocar crianças em riscos, exemplificado no caso da escola que escondeu crianças no banheiro.
Não há nenhuma preocupação com a educação de crianças e adolescentes por parte daqueles que aprovaram essa moção — e isso precisa estar explícito a todos nós.
Se fosse uma preocupação genuína, a posição não seria de repúdio às instituições de ensino mas sim de repúdio à insistência em forçar a manutenção de atividades não-essenciais, aos cortes e sucateamento da educação pública, à falta de vacinas que impõe um ritmo lento à imunização.
Entendendo que a educação é fundamental, que o ensino remoto não é uma via possível e que os prejuízos da interrupção das aulas são grandes demais, é necessário que se pense sobre qual a forma que esse possível retorno pode ou deve ocorrer.
É preciso que nós, da classe trabalhadora, possamos pensar sobre qual a escola queremos para nossas crianças. Isso envolve não apenas a pauta direta sobre o retorno presencial, mas sim o conjunto da educação, os ataques que vem sofrendo com todo o processo de sucateamento.
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