Imagem: elaboração UFSC à Esquerda utilizando foto de Carlos Alkmin e arte inspirada no livro Revolução dos Bichos

[Opinião] O preço dos aluguéis em Florianópolis

Imagem: elaboração por UFSC à Esquerda utilizando foto de Carlos Alkmin e arte inspirada no livro Revolução dos Bichos de autoria desconhecida

Clara Fernandez – Redação do UFSC à Esquerda – 29/03/2022

Buscar casa para viver em Florianópolis em 2022 têm sido um grande desafio para todos aqueles que buscam a capital como destino para estudo e trabalho. Uma mera kitnet, onde por vezes o fogão e a máquina de lavar quase se confundem com a cama onde o morador irá dormir e/ou porões quase sem ventilação transformados em espaços para serem ofertados como moradia, são as opções amplamente encontradas em sites de anúncios, e dificilmente os valores saem por menos de R$900,00 na grande maioria dos bairros da cidade. 

Além de tudo isso, há a possibilidade de locatários precisarem coabitar com problemas como mofo, retorno de esgoto, entre outras graves condições de insalubridade, que por vezes só são descobertas após assinarem um contrato abusivo de permanência de pelo menos um ano no imóvel alugado.

Se você tentar buscar algum lugar com um pouquinho mais de salubridade ou espaço, talvez um apartamento individual, dificilmente vai encontrar algo por menos de R$1500,00 para alugar, considerando não só o aluguel, mas também taxas de condomínio, iptu, lixo, seguro incêndio, entre outras. 

As condições para conseguir fazer um contrato por uma imobiliária por vezes envolvem possuir um fiador que tenha uma remuneração duas, três ou até quatro vezes maior do que o valor do aluguel do imóvel, hipotecar bens, contratar um plano de crédito que encarece ainda mais o valor do aluguel, entre outros absurdos.

As alternativas que aparecem para quem busca escapar das condições inatingíveis de valor e garantias solicitadas pelas imobiliárias são alugar kitnets e outros imóveis diretamente com os proprietários. Neste caso, o que estes exigem são cauções de duas vezes o valor do aluguel, que os moradores não tenham filhos, animais, não recebam visitas, não cozinhem determinados tipos de alimento, entre outras diversas regulações abusivas sobre a vida de outra pessoa. 

Recentemente me deparei com o relato de uma colega que encontrou um anúncio em que o proprietário declarava que era proibido a quem fosse morar no imóvel que estava ofertando possuir uma máquina de lavar, afirmando que não tolerava o barulho do eletrodoméstico e que em função disso o inquilino deveria lavar suas roupas na mão!!!

Algumas alternativas encontradas para sobreviver na cidade já há alguns anos é a procura por imóveis com maior número de quartos, para serem divididos entre conhecidos ou desconhecidos. Entretanto, mesmo essas alternativas vêm encarecendo e há aqueles que chegam a ter de dividir um quarto entre pessoas solteiras, pagando valores que até alguns anos atrás seriam referentes a uma kitnet com amplo espaço e condições salubres de habitação. 

O que resta para aquelas pessoas que estão pressionadas pela fome desenfreada da especulação imobiliária é subir para os morros da cidade, espremendo ainda mais estudantes e trabalhadores para a ocupação de lugares com solo inapropriado, ou habitar bairros extremamente distante dos locais de trabalho e estudo, no leste e norte da ilha, onde os aluguéis acabam caindo, mas os ônibus são escassos e demoram cerca 1h30/2h para cumprir um trajeto saindo das moradias nessas localidades.

Essas situações, já corriqueiras antes mesmo da pandemia e do novo avanço da especulação imobiliária na cidade, ganharam uma escala gigante com o fortalecimento do aburguesamento da cidade, que vêm sendo encampado pelo prefeito Gean Loureiro e por iniciativas como o Floripa sustentável. Espaços de preservação histórica e ambientais vêm sendo violentados, descaracterizados e embalados para o consumo comercial que atende ao projeto do setor de turismo e serviços na cidade.

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Todo esse cenário, também tem influência sobre a perspectiva de retorno presencial das aulas na UFSC, pois em bairros como a Carvoeira, ao andar em algumas ruas é possível perceber novas construções de condomínios voltados a estudantes totalmente padronizados e embalados, caixinhas modelos que se apresentam como um “novo” conceito de moradia estudantil privada.

Enquanto isso, a moradia estudantil da UFSC padece em precarização e com um projeto inicial que nunca foi concluído. Até mesmo a iluminação na rua da moradia passa por abandono do poder público, com recorrentes problemas nos postes de luz no trecho que vai da moradia até a proximidade da rotatória da Carvoeira.

Com todo esse cenário, que se soma à subida desenfreada da inflação em todos os setores de itens de necessidade básica da população brasileira, fica claro que o retorno presencial será mais facilmente viabilizado a um perfil específico de estudante, com maior poder aquisitivo nos entornos da universidade. A própria universidade assume isso ao seguir com a oferta da disciplina ZZD, que garante a manutenção do vínculo de estudantes que não conseguiram cursar nenhuma disciplina durante a pandemia.

Nessas horas, há aqueles sujeitos cínicos, prontamente dispostos a defender a cilada do ensino híbrido como a grande solução para aqueles que estão sendo excluídos da possibilidade de cursar integralmente a universidade em função de dinâmicas perversas como a da especulação imobiliária na cidade (e essa é apenas uma das pressões sobre os estudantes mais pauperizados). 

Não existe uma forma mais grosseira e efetiva de se defender a manutenção da desigualdade no acesso à universidade do que essa, pois é justamente a cristalização da concepção que defende que pobres e ricos devem ter um acesso diferenciado no acesso a um ensino público de qualidade.

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Por isso, é importante nos perguntarmos qual a responsabilidade da universidade diante desta dinâmica do mercado imobiliário: como a instituição poderia pressionar esse mercado para impactar menos a vida dos estudantes e dos trabalhadores da cidade? Provavelmente o contrário do que fez nos últimos anos, em que priorizou auxílios para o pagamento de aluguéis, em detrimento da ampliação da moradia estudantil da universidade.

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Além disso, também cabe refletir: como os movimentos em defesa da universidade poderiam se reconstituir em torno de uma questão tão palpável não só para a democratização do acesso à universidade pública, mas também para as condições de vida do conjunto dos trabalhadores da cidade de Florianópolis?

 

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