Foto: Vladimir Platonow/Agência Brasil
Foto: Vladimir Platonow/Agência Brasil

[Notícia] Convenção do PL anuncia Bolsonaro sob novas agitações golpistas

Nina Matos – Redação Universidade à Esquerda – 28/07/2022

Em convenção realizada no último domingo (24), o Partido Liberal (PL) anunciou a candidatura de Jair Bolsonaro e Walter Braga Netto para a presidência do Brasil. O evento ocorreu no período da manhã, no estádio do Maracanãzinho, e contou com a presença de 12 mil pessoas — contando com integrantes do partido e equipes de imprensa. Durante mais de uma hora, Bolsonaro discursou com ataques a Lula, ao STF e agitou suas bases com ideais golpistas.

Michelle Bolsonaro precedeu o discurso do candidato. Em sua fala, a atual Primeira Dama fez diversas referências religiosas e atribuiu um tom messiânico à tentativa de reeleição.

“Ele [Bolsonaro] é um escolhido de Deus, esse homem tem um coração puro, limpo, além de ser lindo […]. E o mais lindo que eu vejo é que Deus tem capacitado ele todos os dias.”

Michelle buscou direcionar parte de sua fala ao eleitorado feminino, alegando que Bolsonaro teria sido o presidente que mais sancionou leis de proteção às mulheres — citando que foram 70 leis. “A diferença é que ele faz, é que ele não quer se promover”, afirmou a Michelle.

Em seu discurso, Bolsonaro se vangloriou da extinção do Bolsa Família e da implementação do Auxílio Brasil, alegando que os gastos com seu programa foram equivalentes a quinze anos de existência do antigo Bolsa Família.

“Esse governo no ano passado, dentro da responsabilidade fiscal, extinguiu o Bolsa Família que pagava, em média, R$ 190. Tinha gente, tinha mulheres ganhando R$ 80. Passaram a ganhar, no mínimo, R$ 400. E, agora, com o apoio do nosso parlamento, deputados e senadores, passamos para R$ 600.”

Também exaltou a equipe de seu atual governo, dizendo que fora sua ex-ministra da Agricultura a responsável por garantir segurança alimentar à população do Brasil e do mundo — discurso que Bolsonaro já havia apresentado na Cúpula das Américas e que não condiz com a realidade vivida por 55% da população brasileira que convive com algum grau de insegurança alimentar.

Confirmando o General Braga Netto como vice, Bolsonaro teceu elogios à atuação do militar na intervenção no Rio de Janeiro em 2018. “Falaram que botei muito militar, acho que não botei muito, botei o suficiente”, complementou, em aceno às Forças Armadas. 

Ao longo de sua fala, Bolsonaro relembrou o incidente que ocorrera no período de campanha das eleições em 2018, trazendo também um forte cunho religioso em seu discurso.

Entretanto, o foco central girou entre acusações e ataques tanto ao ex-presidente Lula — seu principal oponente nessas eleições — quanto ao Supremo Tribunal Federal (STF), atiçando seus apoiadores a ideia de um possível golpe.

Afirmando que houveram dificuldades no início de seu governo devido à corrupção que existia anteriormente, Bolsonaro inflamou seus eleitores ao dizer que “hoje vocês sabem o que é Supremo Tribunal Federal” — que foi seguido por vaias e a palavra de ordem “supremo é o povo”.

Sem citar nominalmente, seu discurso buscou relacionar o STF com uma quebra da harmonia entre os três poderes e convocou seus apoiadores a ocuparem as ruas no dia 7 de setembro.

“Convoco todos vocês, agora, para que todo mundo vá às ruas pela última vez no 7 de setembro. Estes poucos surdos de ‘capa preta’ têm que entender o que é a voz do povo”, declarou.

O chamado às ruas se soma às muitas menções que Bolsonaro tem feito ao sistema eleitoral, especialmente às urnas eletrônicas, atribuindo a elas a possibilidade de fraude. Na convenção, Bolsonaro ainda fez menção a intervenção do exército nas eleições, afirmando que o exército “não admite corrupção, não admite fraude”.

Após a convenção, o Partido dos Trabalhadores (PT) entrou com uma ação no Tribunal Superior Eleitoral (TSE) contra o PL, alegando propaganda eleitoral irregular.

De acordo com a ação, a convenção do PL foi transformada em propaganda eleitoral — que ainda não está permitida, podendo iniciar apenas onze dias depois do final do período das convenções partidárias.

Além disso, o partido sustenta que a convenção do PL foi transformada em um “showmício”, prática proibida no Brasil. Na convenção ocorreu a apresentação da dupla sertaneja que compôs o jingle de Bolsonaro. Na ação, o PT elenca pontos que indicam a transformação do evento em showmício:

“a) grande estrutura voltada ao entretenimento do público presente, como palco, telões, sistema de som potente e afins;

b) veiculação de slogan eleitoral de Jair Bolsonaro, “o capitão do povo”;

c) realização de show de dupla do gênero sertanejo;

d) centralização do evento na figura de Bolsonaro, mediante a realização de discursos, exaltações do apresentador, além de o pretenso candidato ocupar lugar de destaque no palanque;

e) locutor com narração, no estilo de rodeio.”

Outros partidos já realizaram convenções de seus candidatos, como a chapa encabeçada pelo PT e Partido Socialista Brasileiro (PSB), anunciando a candidatura de Lula e Alckmin, e o Partido Democrático Trabalhista (PDT), anunciando a candidatura de Ciro Gomes, ainda sem vice.

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