Irineu e Joana em entrevista ao UFSC à Esquerda

[Entrevista] A atuação da DESEG e da PM no campus Trindade e a nova gestão de reitoria

Ana Z. – Redação UFSCàE – 28/07/2022

Diante do aumento de ações de ronda e de repressões realizadas pelo Departamento de Segurança Física e Patrimonial da Universidade Federal de Santa Catarina (DESEG/UFSC) e pela Polícia Militar (PM) contra a ocupação noturna do Campus da Trindade, nosso jornal buscou compreender o posicionamento da nova gestão da reitoria acerca da temática da segurança e ocupação do espaço público da universidade. Para tanto, no último dia 26 de julho (terça-feira) entrevistamos Irineu Souza e Joana Passos, reitor e vice-reitora recém eleitos para o cargo, os quais tomaram posse no último dia 08 de julho.

No último dia 22 de julho, vendedores ambulantes e estudantes foram expulsos do espaço da universidade pela segurança patrimonial e por volta de 00h a Polícia Militar entrou no campus. Confira abaixo, um vídeo que registra a PM no campus, na noite do dia 22, entre o Centro de Comunicação e Expressão e o prédio da Reitoria I:

Quando questionados pelo nosso jornal, a reitoria alegou que foi surpreendida com relação às ações no campus na noite de Sexta-Feira, dia 22, e que não tinha conhecimento das situações até o fato ser noticiado no veículo UFSC à Esquerda.

Segundo Irineu, estão em andamento discussões junto à segurança e estudantes sobre formas de possibilitar festas no campus, sem situações que prejudiquem o patrimônio público. Contudo, não teriam determinado ou solicitado que a polícia entrasse no campus da universidade. A reitoria afirma que é contrária à presença da PM no campus e que irá realizar uma reunião com a equipe de segurança em função das situações que tomaram conhecimento.

Na entrevista, Joana Passos alegou que a concepção de segurança da reitoria envolve a ocupação do espaço do campus com regramentos. Por isso, há a proposta de se reunir com estudantes, assim como com agentes do poder público. Segundo a vice-reitora:

A reunião com agentes do poder público se daria em função do entendimento de que a ocupação do espaço interno da UFSC tem a ver com a expulsão da juventude dos espaços da cidade. Com a ausência de espaços de lazer e de política pública na cidade, a UFSC acaba sendo o espaço seguro para que esses jovens se encontrem. E como a gente não tem nenhuma condição de averiguar quem são todos os jovens que vêm para a UFSC, nesses casos vêm pessoas de todos os tipos. Então essa é uma questão importante para nós. Nós queremos tratar a questão da segurança como uma questão que diz respeito à sociedade de Florianópolis e não exclusivamente da UFSC. Porque há a iluminação que é de responsabilidade do poder público, o acesso a espaços de lazer, que não é ofertado pelo poder público. Então nós queremos dialogar com os agentes públicos também e não pensar que isso é responsabilidade exclusiva da UFSC.

Irineu a complementa:

Nós temos discutido a possibilidade de reunir com a prefeitura, com o governo do estado, com os nossos estudantes e é claro, com os setores de segurança, para trazer uma convivência saudável para o campus da universidade.

Irineu e Joana informaram  que conversaram já sobre isso com estudantes durante a campanha das eleições de reitoria e que pretendem fazer uma audiência pública para discutir esse tema. Entendem que há a dificuldade de medir até onde proteger o patrimônio público e até onde respeitar a comunidade universitária.

Tendo em vista que as tentativas de intimidar a realização de confraternizações estudantis já vinha sendo uma postura da DESEG em diversos momentos desde o retorno das aulas presenciais, ameaçando chamar a polícia, inclusive durante o período de eleições da reitoria, o jornal questionou se houve algum diálogo com a DESEG sobre como conduzir as confraternizações dos estudantes.

O reitor Irineu respondeu que a direção da DESEG foi convidada a permanecer no cargo em função da experiência e capacitação das pessoas que estão à frente da segurança do campus. Disse que foi apresentado à DESEG a intenção da reitoria de valorizar a ocupação do campus pela comunidade universitária, sempre com a preocupação da preservação do patrimônio público.

A vice-reitora Joana fala que a gestão acredita que é preciso ter uma mudança cultural com relação à concepção interna de segurança no campus, que não precisa significar o uso de forças repressivas, mas tem a ver com iluminação e circulação para garantir segurança, principalmente das mulheres. 

Para Joana as reclamações que chegam sobre as festas dizem respeito ao som alto e isso seria fácil de resolver. Ela acredita que há várias formas de proporcionar muitas horas de lazer sem provocar uma tensão com os moradores do entorno, mas que tudo isso precisa ser conversado com estudantes, secretaria de segurança e a comunidade do entorno. 

Irineu ressalta que o diálogo também precisa se dar com os bares do entorno da universidade e fala em políticas de inclusão para envolver a comunidade do entorno nas atividades de esporte, cultura e lazer.

Ao questionarmos sobre a previsão das manutenções de iluminação do campus, foi informado que o secretário do gabinete está fazendo reuniões semanais com a prefeitura do campus para identificar esses problemas e ver o que conseguem resolver pela universidade, e o que podem resolver junto da Celesc e da Prefeitura. Foi informado que as manutenções de iluminação estão sendo negociadas como parte do acordo de concessão de parte do terreno da universidade para a ampliação da Rua Deputado Antônio Edu Vieira. Já estaria em andamento uma determinação para manutenção do trecho do Colégio de Aplicação e entrada pela rótula do bairro Carvoeira.

A entrevista também abordou mudanças no regulamento de funcionamento do Restaurante Universitário (RU), que estão em discussão pela Pró-Reitoria de Assuntos Estudantis (PRAE), a possibilidade de restrição ao acesso do RU e as condições do orçamento da universidade. Estes outros pontos da entrevista serão publicados em uma segunda parte.

Relembrando

Em 2018, houve um episódio bastante violento de repressão ao Geosamba, no qual a polícia fez uso de spray de pimenta, gás e balas de borracha. A reitoria da universidade à época, Professor Ubaldo César Balthazar, não demonstrou solidariedade com os estudantes e disse ter tratado das situações de repressão em diálogo com a Polícia Militar. 

Estes diálogos vem ocorrendo desde a gestão de Roselane Neckel e desde então os episódios de entrada da polícia na universidade só aumentaram, com ameaças, intimidações e repressões à atividades integrativas ou ações como a tentativa desmedida de apreensão de um estudante que proporcionou o levante do bosque.

As ações contra a ocupação do espaço público da cidade tem se repetido em diversas situações nos últimos anos, como, por exemplo, as repressões à batalha da alfândega e à ocupação do centro leste da cidade. Essas ações são orientadas por uma concepção de segurança e de uso da cidade pelos trabalhadores e trabalhadoras, por parte do poder público municipal e estadual. É importante nos questionarmos que concepções são essas e que diálogo é possível estabelecer frente a elas.

Historicamente, as festas e atividades culturais na universidade são momentos de mostrar pela experiência que a ocupação do espaço público pode ser uma das alternativas para pensar as questões de segurança, mas também, são um meio dos movimentos universitários, principalmente o estudantil, construírem sua autonomia financeira e estabelecerem outros laços entre si e com aqueles que frequentam a universidade.

Os dilemas sobre segurança e ocupação do espaço público também dizem respeito às concepções historicamente elaboradas sobre autonomia da universidade, dos movimentos universitários e daquilo que a UFSC, como um espaço de formulação própria, pode fazer de diferente daquilo que está dado na sociedade. Não como forma de se isolar desta e fingir que não a integra, mas para proporcionar e oferecer pelo exemplo, saídas mais criativas e éticas frente aos conflitos e contradições da vida na cidade.

 

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