Mariana Nascimento – Redação UFSC à Esquerda
Há poucos minutos, na sessão ordinária do Conselho Universitário de hoje, a Associação de Pós-Graduandos (APG) realizou a leitura de uma carta endereçada à gestão de reitoria de Irineu Manoel e Joana Célia.
O conteúdo da carta versa sobre a necessidade de que alterações no caráter do projeto político pedagógico na Pós-Graduação da UFSC sejam realizadas no Conselho Universitário, o qual é a instância superior de decisões da universidade. O que vem ocorrendo é que alterações desse porte tem sido feitas somente nas sessões da Câmara de Pós-Graduação (CPG), que não são transmitidas publicamente como o CUn, o que prejudica a participação e ampliação das discussões e decisões sobre mudanças substanciais no funcionamento da Universidade.
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No presente, a alteração que tramita na CPG é a institucionalização permanente na hibridização da pós-graduação que será votado na próxima quinta-feira, dia 29 de setembro. Na proposta original da Pró-Reitoria de Pós-Graduação, que preside a CPG, a matéria deveria ser votada somente nesta instância para imediata implementação da mudança. A posição da entidade representativa dos estudantes da pós-graduação, a APG, é de que essa mudança deve ser melhor apreciada e discutida por toda a comunidade. Leia abaixo a carta lida no CUn na íntegra:
CARTA À REITORIA DA UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINA
Cumprimentamos o Magnífico Reitor, a vice-reitora, o pró-reitor de pós-graduação e todas as pessoas presentes nesta sessão.
A Associação de Pós-Graduandos da UFSC – Gestão Carcará vem, através desta carta, expressar sua profunda preocupação com o destino da pós-graduação em nossa instituição. E também cobrar, das autoridades que lhe cabem, uma posição firme em relação ao projeto político-pedagógico em curso para os pós-graduandos e pós-graduandas.É sabido por parte dos senhores, mas talvez desconhecido para o restante da comunidade universitária, que há uma proposta de Resolução Normativa que visa instituir permanentemente o Ensino Híbrido na pós. Por parte dos senhores membros da reitoria, alguns eufemismos lexicais têm sido evocados para suavizar o conteúdo político desta, como “presença remota ou presença síncrona nas disciplinas da pós”.
Mas, deixemos de floreios e evidenciemos para a comunidade: se trata de uma proposta que permite transformar permanentemente uma porcentagem do currículo dos cursos da pós-graduação stricto sensu na modalidade EaD. A mudança no nome não altera seu conteúdo devastador. Qual o significado disso, se não uma proposta de hibridização dos cursos?
Desde que essa normativa foi apresentada na Câmara de Pós-Graduação (CPG), em junho deste ano, nós estivemos cobrando a reitoria para que houvesse mais debates sobre o tema. Lembremos que a CPG é uma instância que, por si só, não garante a circulação de debates pela universidade, pois as reuniões ocorrem a portas fechadas e, muitas vezes, as pautas são votadas apressadamente.
De fato, prontamente após nosso pedido, a reitoria, na figura do pró-reitor de pós-graduação, apresentou uma proposta de seminário, que buscava debater essa política com outros docentes, discentes e técnicos. Ficamos bastante entusiasmados com a ideia de discutir abertamente as consequências desta política. Agradecemos imensamente à reitoria por organizar um espaço tão importante como este. Este seminário ocorreu no dia 15/09 e foi muito proveitoso. Entretanto, ele foi insuficiente. Os próprios membros da reitoria presentes se manifestaram justamente neste sentido: de que mais debates sobre o tema seriam necessários.
É preciso agora dar consequência ao que foi discutido, caso contrário, do que adianta uma longa discussão com a comunidade cujos debates não são transformados em decisões? Muitas inconsistências foram apresentadas sobre essa política, precisamos honrar a tarefa histórica desta instituição e dar seguimento aos trabalhos!
E aqui estamos, às vésperas da votação da normativa, prevista para ocorrer nesta quinta-feira, dia 28,na CPG, e nenhuma outra discussão sobre o tema foi apresentada por parte da gestão nem foi indicado que este debate será realizado aqui, no Conselho Universitário. Oras, não era essa uma das críticas feitas à antiga reitoria, de que aqueles não incentivavam que as discussões fundamentais ocorressem? Além disso, como uma resolução como esta pode ser
discutida apenas na Câmara da Pós, como se não tivesse um significado impactante para toda a universidade? Nós exigimos que a discussão ocorra também aqui, no Conselho Universitário!Lembremos que durante todo o período de campanha da chapa Universidade Presente, os então candidatos prof. Irineu e Joana, criticaram, em diversas oportunidades, a perda de capacidade decisória deste Conselho. Queridos professores, nós estávamos lá e tínhamos total acordo com os senhores neste ponto. Não é benéfico para uma instituição universitária perder a capacidade de centralizar as discussões no seu principal órgão. Se cabe a cada Câmara decidir sobre a política da universidade, o que todos nós aqui presentes estamos de fato
fazendo neste espaço?Resgatamos o debate realizado entre os candidatos à reitoria que foram ao segundo turno para ilustrar esse ponto.. Quando questionado sobre a política para a pós-graduação, o atual reitor respondeu sobre as novas resoluções da pós: “ Em relação especialmente ao debate do ensino a distância da pós-graduação, nós entendemos que é possível em alguns casos, mas que precisa de uma normativa do Conselho Universitário. Esse assunto não foi exaustivamente discutido no Conselho Universitário, então há necessidade do Conselho se manifestar”.
Ou seja, naquela oportunidade, o então candidato questionou a falta de discussões e a ausência de debates no Conselho Universitário. O que mudou de lá pra cá? Prezados reitor e vice-reitora, nós estamos aqui para pedir o mínimo aos senhores: que os debates necessários sejam feitos antes da votação da proposta; e que a pauta seja apresentada no Conselho Universitário. Até a presente data, nós achávamos que nós teríamos um acordo nesses dois pontos. São duas exigências muito singelas, mas que contém nela um compromisso com o que há de mais importante na universidade: a circulação de ideias críticas e a discussão democrática nos órgãos competentes.
Gostaríamos de sair daqui com um gesto de compromisso dos senhores: que assinem esta carta expressando seu comprometimento com essas exigências ou que assumam enquanto gestão sua recusa , não apenas perante a APG, mas para com toda a UFSC.
Respeitosamente,
APG – Gestão CarcaráFlorianópolis, 26 de setembro de 2022