Flora Gomes* – Redação UàE – 05/10/2018
O cenário das eleições presidenciais mostra-se caótico. O programa do candidato Boulos (PSOL) não revela-se como capaz de propor uma radicalidade à classe trabalhadora e a figura de Cabo Daciolo, quase como uma messias, surge como alguém que tece críticas que não foram evidenciadas na proposta “Vamos” do líder do MTST. Enquanto isso Bolsonaro, com seu programa inconsistente, segue subindo nas intenções de voto, agora com 35% segundo a última pesquisa datafolha.
No meio dessas disputas nacionais, a Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) passa por um período de eleições para a construção do Diretório Central dos Estudantes (DCE). A gestão passada – Ainda há tempo – têm realizados chamados para a construção de chapa propondo seguir a composição de uma entidade por meio de uma unidade de esquerda, a qual seria ainda mais necessária na disputa atual que é, segundo os mesmos, o combate ao fascismo.
Além de repetir falhas da formação de chapa anterior, marcada pela fragilidade da construção artificial e infundada de uma suposta unidade, sem a realização de debates exaustivos para a construção de princípios concretos e norteadores, a antiga gestão também não se propõe a discutir os diversos erros do passado.
Preocupada com a burocratização dos espaços, a gestão Ainda Há Tempo não mostrou-se de fato na luta em prol das demandas estudantis realmente importantes. Recusando-se a debater de forma honesta nos Conselhos de Entidade de Base, os membros da gestão foram incapazes de argumentar com estudantes que mostram-se opostos à burocracia imposta por meio de um regimento pouco discutido com a base. Essas atitudes, no mínimo antiéticas, jamais foram alvo de autocrítica por parte dos membros.
Ademais, a gestão não foi capaz de construir uma base substancial nos centros acadêmicos. Quando ocuparam essa entidade de base, jamais o fizeram como forma construir pensamento crítico, mas sim, com fins de cooptação de novos militantes.
O DCE que se faz necessário, frente a esse cenário terrível de eleições presidenciais, é uma entidade capaz de estar além do terrorismo frente à suposta ascensão do fascismo, que muitas vezes silencia os debates mais profundos, fragilizando a construção de uma esquerda consistente. A entidade de máxima representação estudantil deve ocupar esse espaço como forma de levar a cabo um projeto de universidade necessário para a classe trabalhadora, no qual haja a construção da ciência necessária para a resolução de profundos dilemas, na elaboração das críticas capazes de transformar as formas de vida que se apresentam como determinadas e no convívio e lazer fundamentais para a construção da vida.
*O texto é de inteira responsabilidade da autora e pode não refletir a opinião do Jornal. ]]>