José Braga* – Redação UàE – 08/08/2019
Em março deste ano, o general fantasiado de vice-presidente, Hamilton Mourão visitou a Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (FIESP) e falou para 700 empresários. Sua mensagem foi explícita: o governo tem, sim, uma agenda e ela é brutal – trata-se da mais avassaladora expropriação dos direitos da classe trabalhadora, o aprofundamento da abertura para o trânsito para os capitais internacionais e o incentivo a associação subordinada da burguesia interna ao grande capital dos países centrais, a defesa intransigente da propriedade privada.
Mourão foi preciso em dizer para que o governo de Bolsonaro e seus asseclas (no qual se inclui) estão aí – produzir uma transformação da sociedade brasileira, mas uma transformação sem transformação. Uma transformação para salvar a classe dominante e a manutenção de sua lucratividade.
E é na implementação dessa agenda que o governo tenta se sustentar captando e mantendo o apoio da burguesia interna. Trabalha por isso na implementação nos ataques a previdência, a universidade pública, a proposta de reforma tributária que visa desonerar ainda mais o capital, a agenda silenciosa de privatizações. E no âmbito externo na abertura e fechamento de negociações que visa abrir os mercados brasileiros.
Às linhas principais do governo para operar nesse sentido: a entrada na Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), o estreitamento de laços com os Estados Unidos, com a China, e o acordo de livre comércio entre Mercosul e União Européia.
Mas, também investe nas relações bilaterais. E trabalha abrindo negociações com Suíça, Alemanha, Itália, Peru, Israel. Bem como fechando acordos com México, com abertura comercial para automóveis e peças automotivas, carnes de aves, arroz; Chile, para construção de um corredor do centro-oeste para os portos daquele país, e a formação de um acordo de livre comércio, tratados de extradição com Hungria, Argentina. E também fechando acordos para facilitação do trânsito de capitais com Marrocos, Emirados Árabes, Uruguai.
Ernesto Araújo, ministro das relações exteriores, em seu discurso no encontro da Organização Mundial do Comércio em Davos, em janeiro deste ano afirmou:
“Um enorme esforço está em curso, por parte do governo brasileiro, para aprovar reforma há muito necessárias, reduzir custos, desregulamentar, facilitar os negócios e o empreendedorismo, abrir a economia”.
O ministro é bastante direto ao sinalizar que toda a truculência deste governo nas reformas contra a classe trabalhadora está orientada para baratear ainda mais os custos da força de trabalho, e em abrir possibilidades de valorização para os capitais deixando o país ao gosto dos “investidores”.
O acordo entre Mercosul e União Europeia que passa agora a análise dos países membros dos blocos impõe uma abertura não apenas para às mercadorias produzidas nos dois blocos mas ao movimento de capitais entre os países. Este fato somado a liberalização ainda maior para a entrada de produtos europeus como máquinas e equipamentos, tende a aprofundar a dependência de capital estrangeiro no ciclo da economia dos países do Mercosul, e ainda a abertura às compras governamentais tenderá estreitar ainda mais a associação desde uma posição subordinada das burguesias internas às burguesias dos países centrais.
Frente a este acordo, Paulo Skaf, presidente da FIESP declarou em 28 de junho:
“O acordo cria um mercado de 730 milhões de consumidores, com um PIB agregado de US$ 21,2 trilhões. O tratado incentivará investimentos europeus no Brasil e acesso às inovações tecnológicas. A Fiesp atuou diretamente em prol das negociações desde o seu início, e mais fortemente após o seu relançamento, em 2010. Aguardamos a divulgação dos detalhes finais do acordo para avaliarmos o impacto em cada um dos setores da nossa economia. Acreditamos que o governo brasileiro tem, agora, uma obrigação ainda maior de reduzir o custo Brasil para que as empresas que produzem em nosso país tenham condições isonômicas de competir com as europeias e, assim, aproveitar a oportunidade histórica que se abre a nossa frente.”
A expectativa do empresariado brasileiro frente a esses acordos, e às reformas contra a classe trabalhadora, não nos deixam dúvidas: não é pelas vias do capitalismo que sairemos da crise. Não há mais tempo para guardamos ilusões com “frações industriais” da burguesia, que mais uma vez na história do país demonstram sua associação com o setor financeiro e com capital internacional. Tampouco podemos ter esperanças com setores desenvolvimentistas, ou com um esquerda que ainda propõe uma saída na ordem burguesa.
A burguesia não tem pudores: sempre que necessário farão as reformas mais destrutivas para garantir suas taxas de lucro. Nós não romperemos a dependência com mais capitalismo. É hora de deixarmos para trás aqueles setores que ao insistir nisso entregam nossa classe. Precisamos derrotar Bolsonaro e sua política neoliberal, dependente e associada ao grande capital internacional. Nós não temos um passado de ouro ao qual retornar, a história recente do Brasil é de aprofundamento da dependência e de superexploração dos trabalhadores. Nós temos é um futuro a construir a ferro e fogo em direção ao socialismo.
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