Imagem: Assembleia estudantil UFSC à Esquerda

[Debate] O fim da greve está dado? Mensagem aos que constroem a greve

Imagem: UFSC à Esquerda

Mariana Nascimento* – Redação UàE – 19/09/19

Este texto visa debater com aqueles que estão construindo a greve com convicção. Sabe-se que o cotidiano de uma luta como essa não é nada tranquilo, mas apesar do cansaço do dia-a-dia, o objetivo aqui não é jogar a toalha e não dar nenhum passo atrás, mas sim um texto para debater com argumentos de que esta greve está acabando. E bom, na opinião de quem escreve, essa greve apenas começou e é necessário dar tempo ao tempo, imediatismo não combina com movimentos como o que se constrói na UFSC atualmente.

 

A greve estudantil da graduação e da pós-graduação que vivemos completa pouco mais de uma semana na UFSC. E ela já carrega consigo toda uma história, tem todo um processo de construção muito anterior ao seu curto tempo de vida. A ideia não brotou nas cabeças dos estudantes nos dias das assembleias e foi assimilada rapidamente pela plenária que votou os encaminhamentos em seguida. Pelo contrário! Há, em propostas como essas, toda uma construção e um  acúmulo de debates por trás, dia a dia, texto a texto, até que estejam colocadas à mesa as condições materiais que permitam que algo dessa magnitude seja votada e encaminhada. 

Tanto é verdade que mesmo na maior assembleia geral que essa universidade já viu, a assembleia do dia 02 de setembro, a proposta de greve passou com uma data futura, uma proposta a ser construída, mesmo sendo a greve a única saída vislumbrada, por expressiva maioria dos presentes, para barrar os ataques a universidade. Sendo somente encaminhada pela graduação no dia 10 de setembro e pela pós-graduação do dia 11 de setembro.

Então, deflagrada a greve, como ela poderia em menos de 10 dias ter construído as respostas para todas as tarefas que se propôs? Sendo essa uma greve que colocou para si, entre outras, as tarefas de (1) se nacionalizar como uma greve da educação, ou seja, não ser só estudantil, mas crescer também entre os técnicos e professores, e além da nacionalização (2) barrar os cortes nos orçamentos das universidades que estão acontecendo desde 2015, (3) reverter o Projeto de Lei Orçamentária Anual para 2020 e (4) derrotar o Future-se. 

Não se pode esquecer por um minuto a história dessa greve, os primeiros debates sobre o que se faria na UFSC começaram nas férias de julho quando o Centro Acadêmico Livre de Geografia (CALIGEO) chamou uma reunião para debater a apresentação que o Ministério da Educação fez do Future-se. O movimento estudantil atendeu ao chamado em peso e foi tomando corpo o movimento UFSC contra o Future-se, somado a isso e a conjuntura de aniquilamento do orçamento da universidade, foi-se ventilando qual era a saída para a extensa pauta de reivindicações. Ou seja, a greve não brotou no imaginário inconsequente de um ou outro, ela foi sendo debatida e o debate foi sendo ampliado até que se teve as condições de fazê-la acontecer.

Alguém achou que não teriam professores forçando dar aula no meio de uma greve estudantil? Se afirmar que sim, ou por inocência ou por mau caratismo, é sabido que há entre os professores aqueles muitíssimos a favor tanto do governo, quanto do Future-se (se não na íntegra, em partes) e de que professores que tem aversão a qualquer ação do movimento estudantil quando esse está claramente posicionado à esquerda. Ou até pior, aqueles que avaliam que a implementação do Future-se não implica em mudança qualitativas no interior das universidades, uma vez que, de acordo com eles, elas já serviriam à burguesia em sua totalidade. Esses são os desafios locais, digamos, mais óbvios que essa greve enfrentaria de imediato e é importantíssimo que se combata quem que não respeita as deliberações coletivas. 

É irresponsável dizer que, porque existem professores que insistem em continuar dando aula, que a greve está definhando, enfraquecendo ou qualquer coisa do tipo. O que não pode acontecer com essa greve é ela se limitar em “apagar incêndios” internos, ficar ensimesmada, seja em seus cursos, programas ou centros e não conseguir encaminhar as tarefas enumeradas acima –  veja bem: ‘encaminhar’, não ‘cumprir’, por que chamo atenção para isso? Pois pode acontecer sim dessa greve não conseguir cumprir essas tarefas, e o real problema é não tentar, pior é não conseguir tentar! E os “incêndios” internos, seja com professores, seja nas disputas próprias do movimento, seja nas tarefas demandadas internamente, são um prato cheio para se perder das tarefas principais, dos motivos desta greve existir. 

Há de se tomar muito cuidado no processo de luta onde a energia é gasta e se ela está sendo gasta de forma produtiva ou improdutiva. E a saída para esse tipo de desafio só tem uma: organização das tarefas – aqui não se trata de uma polêmica com o que se passa na graduação sobre o comitê de greve, ainda que pessoalmente acredite que essa polêmica está sim puxando o freio para as tarefas centrais da greve e que reuniões de comitê geral tem que ser abertas, assim como sempre foram as reuniões do comando de greve do Técnicos Administrativos em Educação da UFSC, o qual até os estudantes quando queriam podiam participar, isso por si só não inviabiliza a organização, pelo contrário, pode sim dinamizar e acelerar o movimento em suas tarefas.

Dito isso, uma das vitórias que essa greve estudantil local já teve foi fazer a Federação de Sindicatos de Trabalhadores Técnicos Administrativos em Instituições de Ensino Superior Públicas do Brasil (FASUBRA) debater greve nacionalmente na última plenária que aconteceu nos dias 14 e 15 de setembro, para além do chamado de paralisação nos dia 02 e 03 de outubro. 

Então resta a dúvida: O que querem aqueles que dizem que a UFSC não está impulsionando discussões no sentido da nacionalização? Como uma universidade como a nossa, que tem diversos campi espalhados pelo estado de Santa Catarina teria dado conta de, em menos de dez dias, ter nacionalizado uma greve que em um campus demorou de meados de julho até meados de setembro para ser deflagrada? 

Outro argumento que tem-se feito presente é de que porque a União Nacional dos Estudantes (UNE) e/ou a Associação Nacional de Pós-Graduandos (ANPG) não irão chamar a greve nacional ela não irá acontecer, que o mais acertado seria então aglutinar forças, fazer a crítica às direções da UNE e ANPG, para daí enfraquecê-la, para quando tivermos forças suficientes tocar uma greve nacional, para daí então pautar a UNE e ANPG. Sentiu cheiro de etapismo? Pois é, a questão é que pautar uma entidade, aglutinar forças, nacionalizar uma greve, não são receitas de bolo “um depois o outro”, é um movimento que acontece no mesmo processo político de lutas. O acúmulo e articulação que precisamos para algo dessa magnitude só se dá quando assume-se a tarefa histórica que nossa geração tem e todas suas consequências, não há atalhos. 

A análise que esse não é o momento de enfrentamentos e só se deve crescer internamente nos movimentos e nas organizações políticas é fadar a nossa geração ao fracasso em todas as lutas atuais de forma irreversível: seja pela educação, pela previdência, saúde, etc.

Voltando para a UFSC, ainda que o senso de urgência esteja evidente para todos que estão minimamente atentos ao que se passa por aqui, isso em nenhum momento pode ser traduzido como um imediatismo irresponsável de querer as respostas prontas, é oportunista e canalha dizer que se os caminhos não foram construídos até agora não serão construídos mais. É exatamente o senso de urgência e a iminência do fim dos recursos da universidade que deve nos manter conscientes, acabar com a greve sendo que a  UFSC só tem recursos para funcionar até 15 de outubro vai nos levar onde? 

A greve é nossa chance de fazer acontecer a mudança na correlação de forças e a nacionalização a única forma de sobreviver. Que gastemos energia com o que importa de fato.

 

*O texto é de inteira responsabilidade da autora e pode não refletir a opinião do Jornal.

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