[Notícia] Aumento de casos de Covid-19, retomada de medidas de isolamento e a situação de hospitais em SC

Martim Campos – Redação UàE – 23/06/2020

Florianópolis, que chegou a ficar 33 dias consecutivos sem mortes por Covid-19 (no período entre 04/05 até 06/06), vê seus índices piorarem.

Com as ocupações dos leitos de UTI e as notificações e confirmações de casos de COVID-19 em constante ascensão, sem contar ainda com os números a confirmar pelos resultados de testes do Laboratório Central (LACEN) que estão atrasados, a taxa de reprodução do vírus (o fator rt) COVID-19 se encontra acima de 1, desenhando um quadro que está distante de ser controlado. 

Nesta segunda-feira (22/06), após uma tarde de reuniões com equipes técnicas do município e prefeitos da região, o prefeito de Florianópolis, Gean Loureiro (DEM), por meio da Secretaria Municipal de Saúde, informou as novas medidas restritivas que serão aplicadas na cidade a partir da quarta-feira (24/06) após o aumento de casos de contaminados por COVID-19. Atualmente em Florianópolis somam-se 1.388 casos confirmados, 7.856 casos suspeitos, 14 óbitos e 349 pacientes em acompanhamento. Além disso, há um total de 55 leitos livres de UTI e 10 pacientes internados. 

Entre segunda (22) e terça-feira (23), o Hospital Baía Sul, que há duas semanas não contava com nenhum paciente confirmado, agora está com 10 pacientes internados – cinco com diagnóstico confirmado e cinco em investigação. Outro paciente está em leito de internação. O aumento nos números de internação por COVID-19 faz com que a capacidade de giro de leitos diminua, uma vez que os doentes por COVID-19 costumam ter internações mais longas do que a média, sendo difícil dar das internações com um de um pico de aumento, que está previsto para as próximas duas semanas. 

“Estamos apertando agora enquanto temos controle. Se esperarmos mais algumas semanas, vamos ter que fechar por ter perdido o controle e a batalha contra a doença na nossa cidade”, disse o prefeito Gean Loureiro.

Entre as mudanças restritivas, está o fechamento total de academias e shoppings e limitações nos usos de áreas de lazer, como Beira-Mar Norte e Ponte Hercílio Luz ficarão fechadas nos finais de semana, quando vinha ocorrendo aglomeração. Também está vetado a permanência na orla praia, exceto para esportes náuticos e pesca. Outra medida tomada foi o aumento no valor da multa para quem não usa máscara, subindo para dez vezes do valor antigo, que era R$ 125 e agora será R$ 1.250. Casos reincidentes podem acarretar multas de até R$ 2.500,00. A população pode denunciar o descumprimento no site da prefeitura.

As medidas implementadas serão revisadas em 15 dias, segundo a prefeitura.

O secretário de Saúde da Capital pede que as decisões sejam comuns entre os municípios próximos que compõem a mesma massa urbana. A tese também é defendida pela médica infectologista Regina Valim, que vê a possibilidade de migração das demandas para as cidades vizinhas.

— Ocorre uma circulação entre municípios muito próximos que quando um deles restringe mais, as pessoas de alguma forma migram para as cidades vizinhas, onde atividades permanecem abertas. Com isso ocorre um risco dos outros municípios também terem impactos na taxa de transmissão. O ideal é que as medidas sejam adotadas em conjunto — pontua a infectologista.

Segundo dados divulgados hoje pelo Governo de Santa Catarina, o estado já contabilizou 19.244 casos do novo coronavírus, desde o início da pandemia, com 263 óbitos.

Ainda conforme o governo estadual, a taxa de letalidade pelo coronavírus em Santa Catarina é de 1,37% e a taxa de ocupação dos leitos de unidades de terapia intensiva (UTI) do Sistema Único de Saúde (SUS) está em 64,1%, com 238 pessoas internadas em tratamento contra a Covid-19 ou com suspeita da doença.

Chapecó voltou a ser a cidade com mais casos de coronavírus, com 1.634 casos confirmados. Itajaí, no Vale, vem na sequência, com 1.389 diagnosticados, seguida de Concórdia, com 1.189, Florianópolis com 1.181, Joinville com 1.055 e Balneário Camboriú com 1.007. As demais cidades catarinenses têm menos de mil casos confirmados pelo governo, até a noite desta terça-feira (23/06). Além de Florianópolis, outros municípios em ascensão dos casos por COVID-19 no território catarinense também discutem novas medidas e planejamentos de restrição. 

Chapecó, a cidade com mais casos confirmados por COVID-19, até esta tarde de terça (23/06) tinha 1.470 casos monitoradas. Além disso, 385 pacientes aguardam resultados de exames do Lacen (Laboratório de Saúde Pública). Ainda que o município esteja passando por um notório aumento de casos, o prefeito o prefeito de Chapecó, Luciano Buligon (PSL), afirmou que vai manter, por enquanto, as atuais medidas de isolamento social decretadas no município.

O Plano de Resposta de Enfrentamento da COVID-19 elaborado desde o início da pandemia estaria pautado por três “termômetros” que indicariam ou não o rigor da implementação de medidas de restrição sociais. Estes teriam relação com a porcentagem  do número de ocupação dos leitos hospitalares e a curva ascendente de casos e de óbitos. A ocupação dos leitos de UTI de Chapecó atualmente são de  35%, e da enfermaria 22%. Os números contemplam dados também de um hospital privado. Apenas a partir de 50% de ocupação de leitos hospitalares destinados ao COVID-19 é que seriam então implementadas medidas mais restritivas, determinando o fechamento de bares e similares e, outras atividades de lazer que estariam em funcionamento. 

A partir desta quarta-feira (24/06) será implementada no município uma ação de testagem pelos técnicos da saúde de Chapecó, realizada em parceria com a Secretaria de Saúde de Chapecó, cursos de medicina da Universidade Federal da Fronteira Sul (UFFS) e Universidade Comunitária da Região de Chapecó (UNOCHAPECÓ),  com o objetivo de descobrir a porcentagem da população chapecoense que já tem anticorpos contra o coronavírus. A pesquisa científica fará testes rápidos para detecção de anticorpos contra de coronavírus em indivíduos sorteados por todos os bairros do município. A pesquisa fará testes em 2.322 chapecoenses ao longo de 6 semanas, sorteando 387 pessoas por semana. 

Após superar mil casos de coronavírus e ver a taxa de ocupação das UTIs (Unidades de Terapia Intensiva) aumentar, a Prefeitura de Joinville emitiu nesta terça-feira (23/06) o Decreto 38.520/2020 com novas medidas restritivas voltadas à prevenção ao Coronavírus no município.

A principal medida foi a determinação do isolamento domiciliar de pessoas com idade igual ou superior a 60 anos, baseadas no cenário de que aproximadamente 84% dos óbitos decorrentes da COVID-19 são de pessoas idosas, além de ser um público que apresentar maior vulnerabilidade à infecção pelo vírus. O decreto também destaca a obrigatoriedade do uso de máscaras de proteção por todas as pessoas e também restringe a práticas esportivas ao ar livre, concentração e a permanência de pessoas em parques, praças e demais espaços públicos de uso coletivo.

Neste momento foi decretada a limitação do atendimento de bares e restaurantes a 50% da capacidade neste momento, em medida válida a partir desta quinta-feira e outras possibilidades já começaram a ser examinadas, como limitação horário de funcionamento nos finais de semana, principalmente à noite. 

O município também tem realizado uma expansão em seu processo de testagem. 

A ocupação de leitos de UTI atingiu 72,8% no Norte de Santa Catarina. Os números levam em consideração a internação por COVID-19 e outros problemas de saúde nos 290 leitos existentes na região. 

Nesta segunda-feira (22), ao divulgar o maior número de internações em UTIs devido ao novo coronavírus desde o início da pandemia em Blumenau, o prefeito Mário Hildebrandt e o secretário de Saúde, Winnetou Krambeck, sinalizaram que medidas mais restritivas podem ser adotadas em breve. O alerta chega após a cidade registrar aumento de ocupação em leitos hospitalares e no número de infectados. Nesta segunda havia 21 pessoas internadas, entre casos suspeitos e confirmados, configurando quase metade dos 43 espaços disponíveis para pacientes com Covid-19.

O aumento no número de casos de Covid-19 no Vale do Itajaí chegou às Unidades de Terapia Intensiva (UTIs) dos hospitais. Houve alta repentina nas internações de pacientes em estado crítico nos últimos dias, o que obrigou o acionamento de leitos de reserva e elevou temores de uma disparada nas próximas semanas. Dois tipos de medicamentos estão sendo racionados para que não faltem. Segundo o governo estadual, estão ocupados 60% dos 201 leitos de tratamento intensivo SUS nos hospitais do Vale.

No Hospital Santo Antônio, só quatro dos 25 leitos de UTI Geral estão desocupados. Oito pacientes em tratamento intensivo lutam contra a Covid-19, sendo que quatro deles deram entrada nesta segunda. Outra dificuldade enfrentada no hospital, assim como em tantos outros hospitais brasileiros refere-se a dois medicamentos que já encontram-se escassos nas casas de saúde da região, por absoluta falta no mercado: o opióide fentanil, para anestesia, e o pancurônio, um paralisante muscular adotado em pacientes entubados. Até o momento, garantem os médicos, não houve prejuízo aos atendidos.

O aumento do número de casos e o discurso da irresponsabilidade

Ao anunciar as novas medidas, o prefeito Loureiro, deixou expressa a reclamação sobre a irresponsabilidade de parte da população. 

“Esse final de semana foi um exemplo. Está havendo abuso, irresponsabilidade. Resultado: número de doentes, que vinha caindo, subiu de 100 para mais de 300, em UTIs, o número de internados dobrou. No Hospital Regional de São José, a UTI atingiu 100% da sua capacidade”. 

Além de Loureiro, o prefeito da cidade de Criciúma, Clésio Salvaro (PSDB), se pronunciou nesta segunda-feira (22/06) em suas redes sociais através de vídeos, onde mostrou irritação com as pessoas que estão desrespeitando as medidas sanitárias estabelecidos para as retomadas das atividades econômicas no município. Salvaro afirmou que esteve reunido com a Secretaria de Saúde e que deverá adotar novamente medidas restritivas na cidade. 

“Não tem sido fácil. Nós procuramos flexibilizar as coisas na cidade, porque gostamos de ver a cidade, crescendo, evoluindo, com o povo na rua, trabalhando nas empresas, no comércio. Mas eu preciso dizer uma coisa. Estou um pouco triste. As pessoas não estão colaborando. Ou vão querer transferir toda a culpa para o prefeito? Claro que tenho a responsabilidade, mas é responsabilidade de todos. Do prefeito, de todo o governo e de toda a sociedade”, afirmou o prefeito. 

Em 24 horas, mais 15 pessoas foram internadas por conta da COVID-19 o número de pessoas internadas em Criciúma saltou de 46 para 61 pacientes em leitos hospitalares. A Vigilância Epidemiológica afirmou que são 61 pessoas em leitos hospitalares, somando casos confirmados e suspeitos e os residentes de Criciúma e de outros municípios. São 15 pacientes a mais em relação ao informativo que havia sido divulgado nesse domingo, dia 21, quando eram 46 internações. 

São 20 pacientes na Unidade de Terapia Intensiva (UTI), sendo 13 casos confirmados e sete suspeitos. Em leitos clínicos estão 41 pessoas, sendo 12 com exames confirmados para o novo coronavírus e mais 29 suspeitos. 

O Hospital São José possui 28 leitos de Unidade de Terapia Intensiva (UTI) destinados a pacientes suspeitos e confirmados com coronavírus. Destes, 14 estão ocupados, ou seja, 50% da capacidade. 

O prefeito, que ressaltou inúmeras vezes sua preocupação com o crescimento da cidade, coloca sob uma espécie de ameaça que se não houver colaboração, voltariam a ser discutidas as medidas restritivas novamente. O problema expresso na fala dos governantes, discurso que vêm se proliferando, estabelece a falsa lógica em localizar uma irresponsabilidade e culpa na população por circular, relativizar o afastamento social e negligenciar cuidados, eximindo dessa equação toda a flexibilização que instaurou-se nas últimas semanas em diversos municípios com a reabertura dos comércios, volta dos transportes públicos e inclusive planejamento de volta às aulas presenciais e nos impactos que tais atividades têm no aumento dos casos. Das tentativas desesperadas para um retorno ao estado normal, nasce essa prematura “nova normalidade”, que de frágil não consegue responder questões cruciais para a crise sanitária atual mas sim, multiplicar números que deixam mais distantes a possibilidade real de contenção da crise. 

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