Morgana Martins – Redação UàE – 02/07/2020
Na última semana, aumentou o número de universidades que estão trabalhando para implementar o ensino remoto para o retorno das atividades de ensino. Em contrapartida, diversas universidades começaram a realizar mobilizações contra o ensino remoto, como UFGD, Unesp, UFRJ, UENP e, da qual trataremos com mais detalhes, a Universidade de São Paulo (USP).
A USP, mantida pelo governo estadual, optou por manter as aulas remotamente, autorizadas pelo Ministério da Educação. No entanto, diversos relatos, reunidos pela página de Facebook “USP contra o EAD”, demonstra as dificuldades que os alunos desta instituição vem enfrentando.
A mobilização tem por objetivo revogar o ensino remoto na universidade, através de boicotes às aulas, às provas e entregas virtuais de trabalho, bombardeios às caixas de email das diretorias e reitorias, cartas e denúncias para a população. Para, assim, pressionar a reitoria de sua universidade pela suspensão do semestre, não deixando que os cursos sejam precarizados com o ensino a distância.
Com o objetivo de “garantir” que todos pudessem ter acesso a internet, a USP adquiriu 2.250 kits de internet para seus alunos, compostos de um chip para celular ou um modem portátil de 20GB e mínimo de 100 horas-aulas por mês. Porém, os alunos relatam que o acesso a internet não garante tudo.
Confira um desses relatos:
“Desde que a USP afirmou que continuaria com as atividades mesmo que à distância, vivemos no meio do caos. Como se não bastasse todas as preocupações que este momento sombrio nos trouxe, ainda precisamos nos virar nos 30 para dar conta de um ensino precarizado, imposto por uma direção que não parece nem um pouco preocupada em nenhum aspecto com os alunos e a heterogeneidade existente entre os mesmos, pois até o momento, a solução de ouro que encontraram para respaldar esse modelo de ensino frágil (que nem se pode chamar de “EaD”), foi a distribuição de chips e modem para aqueles que não têm acesso regular à internet, o que, aliás, não parece acontecer em curto prazo. O grande porém dessa história é que os alunos que não dispõem de recursos para acessar os conteúdos online são apenas a ponta do iceberg.
Existem muitos outros fatores que devem ser levados em conta, como por exemplo, o estado físico e emocional dos alunos e dos professores, e, obviamente, a qualidade do ensino que se oferece. Os professores vêm trabalhando sobremaneira para tentar dar continuidade nas disciplinas mas o ensino não está fluindo porque não temos as mínimas condições para seguir com o semestre letivo. A questão é muito mais complexa do que a Direção expõe nos comunicados, onde, para os desavisados, a USP se mostra perfeitamente adequada a este novo momento. Eu entrei na Universidade este ano e não estou conseguindo me adaptar ao modelo imposto aos alunos e professores.
Tenho um notebook e internet na minha casa, no entanto, a conexão é péssima, oscila demais e, desde o início das “aulas” a distância, se consegui assistir a duas transmissões foi muito. Tenho crises de ansiedade constantemente, pois tenho familiares que estão trabalhando na linha de frente desta pandemia, portanto, expostos aos riscos diariamente. Não percebo, nem nos meus dias mais otimistas, que estou recebendo um ensino minimamente qualitativo que faça valer todo o calvário que eu passei e todos os candidatos passam para entrar na USP, pois o que tive até hoje foram, no máximo, plantões de dúvidas referentes a atividades que não contabilizam nota e discussões de textos no fórum do Moodle ou pelo Google Meet, onde ambas ferramentas não propiciam, nem de longe, um bom aproveitamento.
Sabemos que ninguém escolheu passar por isso, que a culpa não é da Instituição, que vivemos um momento sem precedentes e todos precisamos nos adaptar de imediato às mudanças, mas ainda assim, por todo prestígio nacional e internacional ligado a USP, esperava uma outra postura.
A direção se nega a cancelar o semestre letivo como a UnB e a UFMG, por exemplo, fizeram ainda em março, e o slogan é “a USP não vai parar”, e eu pergunto, a que preço? Excluindo estudantes? Precarizando o ensino? Abrindo margem para que as medidas de exceção se tornem fixas no futuro? Virando as costas para os projetos de “inclusão” e “permanência”? Permitindo que alunos excluam/tranquem disciplinas mesmo sabendo que os bolsistas, portanto, alunos menos favorecidos, não podem fazer uso desta ferramenta, do contrário podem perder os auxílios que recebem? Se vale a pena não prezar pela tão enaltecida qualidade e passar por cima de tudo isso e mais um pouco em nome de “não parar”, acredito que todos precisamos rever nossos conceitos sobre a USP, pois desse jeito, não é, de forma alguma, o paraíso na terra que aparenta ser.”
Condições no Crusp é ainda mais precária
Os estudantes residentes do Conjunto Residencial da USP (Crusp), apontam que estão com apenas um quarto das cozinhas em condições de uso, as máquinas de lavar e de secar não estão funcionando, há falta de segurança e, no começo da pandemia, um dos blocos ficou uma semana sem água.
Em março, a Superintendência de Assistência Social testou todos os 1,6 mil moradores e registrou cinco casos confirmados de covid-19 no local. Em comunicado, a USP comunicou que existem projetos para a reforma do local.
Juntamente do USP contra o EAD, o Centro de Estudos Geográficos (CEGE-USP) também tem feito materiais contra o ensino a distância. Confira um desses materiais: