Morgana Martins – Redação UàE – 03/08/2020 – Publicado originalmente em Universidade à Esquerda
Na última quinta-feira (30/07), o Conselho Superior de Ensino, Pesquisa e Extensão (Csepe) da Universidade Estadual do Rio de Janeiro (UERJ) aprovou a adoção do ensino remoto para substituir as atividades letivas. Intitulado de Atividades Letivas Emergenciais (ALE), a UERJ aprova plano de 13 semanas para o semestre 2020.1 a distância.
Segundo o reitor Ricardo Lodi, a decisão foi feita a partir de discussões entre os representantes do Csepe. Foram realizados encontros com segmentos da Universidade e reuniões de trabalho, principalmente entre a Pró-reitoria de Graduação (PR-1), os centros setoriais e as unidades acadêmicas, visando ao planejamento da retomada das atividades de forma remota.
No dia 29 de julho, a Diretoria de Comunicação da UERJ publicou o resultado de um levantamento com alunos de graduação sobre o acesso às tecnologias de informação e comunicação digitais, apresentando que “quase 90% dos respondentes têm acesso à banda larga”. No levantamento, porém, apenas 8.519 dos 32 mil alunos da UERJ responderam, cerca de 30% apenas.
Como será o retorno?
As atividades a distância iniciarão a partir de setembro. Segundo o calendário emergencial da UERJ, haverá novo prazo para inscrição em disciplinas, que se inicia em 3 de setembro. As aulas do primeiro semestre de 2020 começam em 14 de setembro e se estendem até 12 de dezembro. O encerramento, após as avaliações finais, está previsto para 19 de dezembro.
A carga horária das disciplinas será equivalente a das aulas presenciais anteriormente programadas e não haverá controle de frequência; no entanto, haverá controle de participação de acordo com a proposta da disciplina.
Mobilização estudantil
Na UERJ, no 02 de julho, os estudantes criaram a Campanha Contra a Precarização da Educação – ERE na UERJ não, apresentando que o Ensino Remoto Emergencial, ERE, trará inúmeros prejuízos à comunidade uerjiana e ao seu corpo estudantil, pois faz parte de um projeto que visa atacar as universidades brasileiras, aprofunda as desigualdades e as difíceis condições de permanência dos estudantes e não considera que a universidade é muito mais do que o ensino.
Os estudantes realizam publicações diárias com a resposta de estudantes a pergunta “Como seria sua experiência caso o Ensino Remoto fosse aprovado na UERJ?”. Diversos são os relatos; um deles propõe o seguinte questionamento “Vale a pena diminuir cargas horárias, agrupar disciplinas numa única, abrir mão de experiências de laboratórios, de pesquisa e de campo, a fim de possuir um certificado de conclusão de curso?”.
Em nota sobre o Csepe, os estudantes afirmam que a decisão feita pelo conselho não considerou os estudantes contrários ao ensino remoto por não se sentir representado pelas insuficiências e fragilidades da proposta apresentada; que a decisão não considerou a democracia universitária e que a discussão não foi feita com a comunidade uerjiana de maneira ampla.
Mobilização docente
Em assembleia realizada no dia 28 de julho, os professores da UERJ votaram contra o ensino remoto. A assembleia ocorreu com a participação de 224 docentes da Associação de Docentes da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Asduerj).
Em nota publicada posteriormente a assembleia, os docentes afirmam que “após um amplo e profundo debate, a assembleia se posicionou contrária ao Ensino Remoto Emergencial na Uerj, ratificando a posição defendida pela diretoria da entidade”. A Diretoria da Asduerj já havia se posicionado contrária a esse formato de ensino desde quando foi publicada a Portaria nº 343, de 17 de março de 2020, do Ministério da Educação.
Segundo os docentes, o debate sobre o ensino emergencial não ocorreu de forma legítima, isso ficou explícito na decisão sobre a pós-graduação, em que o início do Ensino Remoto Emergencial na pós-graduação lato e stricto sensu foi “pautado e aprovado, no Csepe, sem nenhuma consulta à representação sindical dos Docentes”. Por isso, defendem que o debate deveria ser feito com a participação de todos os segmentos da Universidade, com muito respeito para a consolidação de nossa autonomia universitária.
Confira a nota completa realizada pela Asduerj.
Confira o Manifesto dos/as Docentes do CAp-UERJ.
Logo, desconsiderando a mobilização estudantil e docente, a UERJ adota o ensino remoto. Nem mesmo a solicitação feita pelos docentes para adiar a votação sobre o ensino remoto, a ser realizada na sessão do Conselho Superior de Ensino, Pesquisa e Extensão (Csepe), para que o debate pudesse ser feito amplamente pela comunidade acadêmica foi acatada.