A resposta precisa ser tão grande quanto foram a vida e as lutas de Marielle

Marcos Meira para o UàE – Redação – 15/03/2018

A notícia da execução da vereadora Marielle Franco (PSOL-RJ) e do motorista, Anderson Pedro Gomes, no Estácio (região central do Rio de Janeiro) tomou de consternação, revolta e luto toda a esquerda brasileira. Estávamos atônitos pelas imagens terríveis da repressão violenta da Guarda Metropolitana de São Paulo contra os servidores públicos municipais que protestavam contra a imposição da reforma da previdência municipal de João Dória (PSDB-SP). Circulavam as imagens do espancamento de uma professora dentro da Câmara e informações sobre, pelo menos, 7 feridos graves atendidos em hospitais próximos quando fomos arrebatados pela notícia da execução de Marielle e Anderson.

Marielle, negra, mulher, lésbica, mãe, militante, construiu uma trajetória incansável de lutas em defesa de um Rio de Janeiro real – o Rio das favelas, dos pretos e dos trabalhadores. Eleita vereadora em seu primeiro pleito como a 5ª vereadora mais votada na cidade do Rio de Janeiro, devolveu com sua coragem e disposição militante o fôlego militante à esquerda carioca. Marielle reconhecia seu papel como interlocutora capaz de dar voz à desnaturalização da violência cotidiana nas favelas cariocas e por isso dispôs de todos os seus canais para denunciar, entre outras, a violência policial e o genocídio dos trabalhadores e da juventude preta.

Antes de colocar seu nome à disposição para a militância como vereadora, Marielle foi assessora parlamentar do deputado estadual Marcelo Freixo, seu companheiro de partido, e participou ativamente da Comissão de Defesa dos Direitos Humanos e Cidadania da Assembleia Legislativa. Marielle era socióloga pela PUC e formou-se mestre em Administração Pública pela Universidade Federal Fluminense (UFF), na qual defendeu a dissertação intitulada “UPP: a redução da favela a três letras”. Como vereadora, presidia a Comissão de Defesa da Mulher, apresentou projeto para a criação do Dossiê da Mulher Carioca, que procura obrigar a prefeitura a compilar os dados sobre a violência contra as mulheres no Rio e trabalhava para ampliar as Casas de Parto (espaços que dão assistência para o parto normal), além de ampliar a assistência social e de saúde nas situações em que o aborto é permitido. Passou a fazer parte, no final de fevereiro, do grupo de 4 relatores nomeados para uma comissão cujo objetivo é o de monitorar os trabalhos da intervenção militar federal na segurança pública do estado.

Seu engajamento pessoal foi interrompido brutalmente na noite de ontem, 14, quando o veículo no qual estava acompanhada do motorista e de sua assessora de comunicação, foi seguido, emparelhado e alvejado com 9 tiros. Marielle retornava de um encontro intitulado “Jovens Negras Movendo as Estruturas”, na Rua dos Inválidos, na Lapa, e foi executada por 4 tiros na cabeça. As marcas deixadas no veículo, totalmente escurecidos por películas, não deixam dúvidas de que seus executores sabiam exatamente qual posição ocupada pela vereadora e que, sabiam exatamente como realizar a execução.

Anderson, acabou sendo alvo dos tiros, tendo sido atingido na lateral das costas. Segundo sua companheira, servidora pública no Rio de Janeiro, como tantos outros trabalhadores, Anderson trabalhava como motorista para complementar a renda familiar destroçada pela crise. Ambos são velados na manhã de hoje, 15, na Câmara dos Vereadores da cidade do Rio de Janeiro.

Em nota, o PSOL se manifestou afirmando que está “ao lado dos familiares, amigos, assessores e dirigentes partidários do PSOL/RJ nesse momento de dor e indignação” e que “a atuação de Marielle como vereadora e ativista dos direitos humanos orgulha toda a militância do PSOL e será honrada na continuidade de sua luta”.

A morte de Marielle e Anderson enluta todos os ativistas, lutadores sociais e militantes políticos. A revolta transcende quaisquer diferenças partidárias. Estamos juntos na dor, na solidariedade, no luto e na revolta pela execução de uma de nossas lutadoras mais brilhantes. Essa execução é um duro golpe para todos nós, responder a ela é imprescindível para estancar o assassinato de lutadores sociais, ativistas de direitos humanos e militantes de esquerda e permitir que sigamos todos nós em um caminho comum, unidos contra os assassinatos de LGBTs, mulheres, pretos, povos originários.

A resposta precisa ser tão grande quanto foram a vida e as lutas de Marielle.

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[Atualizado em: 15/03 às 10:27]

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