Foto: Movimento dos Atingidos por Barragens
Beatriz Costa – Redação UàE – 06/11/2018
Há três anos atrás, o o Brasil e o mundo acompanhavam o desastre que se tornaria a maior tragédia socioambiental deste país. O rompimento da barragem de Fundão, da mineradora Samarco (Vale/BHP Billiton), despejou 50 milhões de metros cúbicos de rejeitos de minério de ferro ao longo de 43 municípios de Minas Gerais e Espírito Santo, até desembocar no mar. O crime deixou 19 mortos e afetou de diferentes formas quase 2 milhões de pessoas, segundo estimativas do Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB). A estimativa inclui pessoas com problemas de saúde decorrentes do contato com a lama, famílias cujas casas foram destruídas ou danificadas, famílias que perderam seu fornecimento de água, trabalhadores que tiveram sua fonte de renda afetada pela destruição do rio ou pela necessidade de mudança de cidade, entre outros.
Passados três anos do crime, os atingidos seguem sem reparação efetiva e milhares de famílias nem são reconhecidas como atingidas. A Fundação Renova, criada pela Samarco para restituir a sociedade e o ambiente da bacia do Rio Doce, realiza somente ações paliativas, como o fornecimento de um cartão emergencial e aluguel de moradias temporárias para algumas famílias. Nenhuma casa do reassentamento prometido aos moradores de Bento Rodrigues (MG), município completamente inundado pela lama, foi construída. Esta forma de lidar com os atingidos impossibilita a reorganização econômica e social das comunidades e impede que as famílias reconstruam sua vida com dignidade.
Um exemplo de comunidade que a Fundação Renova não reconhece como atingida é a comunidade de Ipaba, no Vale do Aço (MG). São 93 famílias que estão sem água desde o rompimento da barragem, sendo abastecidas por caminhões pipa três vezes por semana. Na cidade de Barra Longa (MG), 15 moradores já tiveram a contaminação por metais pesados confirmada por análises da Faculdade de Ciências Farmacêuticas de Ribeirão Preto e do Instituto Saúde e Sustentabilidade, realizadas em São Paulo, em março de 2017 e março de 2018. A alta presença de níquel no organismo é capaz de causar doenças de pele, queda de cabelo e outras ainda desconhecidas.
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Diversos estudos realizados após o crime evidenciam negligência por parte da empresa. Um laudo realizado pela Polícia Federal, apresentado em 2016, apontou falhas graves de manutenção da barragem e a omissão da Samarco em reparar os problemas detectados ainda em 2014. Ainda de acordo com o estudo, 28% da lama despejada em Fundão em 2014 vinha da Vale e não havia licença ambiental para a operação.
Marcha dos atingidos
A fim de denunciar a lentidão e a injustiça desses três anos, iniciou-se no domingo, dia 4, uma marcha que percorrerá o trajeto da lama de rejeitos de minério de ferro, entre Mariana (MG) e Vitória (ES). Na marcha “Lama no Rio Doce: 3 anos de injustiça”, os atingidos percorrem doze municípios com manifestações, atos culturais, celebrações religiosas e assembleias até a chegada em Vitória, no dia 14 de novembro.