[Notícia] Polícia no Campus: Estudante relata momento em que a PM entrou no Campus na última quinta

Lara Albuquerque – Redação UàE – 06/11/2018

“A gente fica com uma sensação forte de que foi uma emboscada”, assim relata Paula (nome fictício), estudante da UFSC que estava no último GeoSamba, dia 01/11, que foi fortemente reprimido pela Polícia Militar. O jornal UFSC à Esquerda conversou com a estudante que preferiu manter anonimato para não ser identificada. Na última quinta-feira os participantes  do Geosamba, roda de samba organizado por estudantes do curso de Geografia da UFSC, sofreram forte repressão.

Paula conta que próximo à uma hora da manhã as pessoas estavam indo embora, pois o samba já tinha acabado, estava com alguns amigos ajudando a recolher o lixo quando muitas pessoas começaram a correr: “de repente eu vi a galera correndo em minha direção, eu fui na direção contrária a que as pessoas estavam correndo e vi na rua um carro da Polícia Militar passando, eram quatro carros, todos com armas pra fora, um deles ficou parado próximo ao CED e os outros três correram em direção às pessoas que estavam indo juntas embora. Os carros começaram a acelerar, dar cavalo de pau, disparar com bala de borracha e spray de pimenta contra quem estava nesse grupo grande saindo da UFSC. Nessa hora procurei me proteger com meus amigos e não vi mais, ouvimos muitos tiros de bala de borracha, eu nunca tinha ouvido tiro na minha vida antes. Ficamos muito tensos sem saber o que fazer.” Paula relata que não sabiam se era seguro sair do campus ou esperar mais um tempo “Estávamos todos apavorados, calmos, mas em choque”.

Quando conseguiram sair encontraram com pessoas próximo à rótula da Carvoeira: “Tinha bastante gente por alí, estava bem confuso, tinha gente mal por causa do spray de pimenta, gente que estava assustada por causa das armas e tiros, algumas pessoas que saíam de um bar que tem na esquina estavam solidários ao que estava acontecendo”.

Em nota sobre o ocorrido, a reitoria não se solidariza com a comunidade universitária e do entorno que sofreu os ataques da PM. Afirma que vem ocorrendo ação conjunta com os envolvidos, porém não cita os estudantes e trabalhadores da Universidade, nem comunidade do entorno que historicamente ocupam o campus para arte, cultura e lazer. Desde que os portões da UFSC foram instalados há cinco anos, existe uma forte investida de acabar com as festas universitárias que eram mais frequentes e sempre cumpriram importante papel na vida universitária e de organização dos Centro Acadêmicos.

Não se pode olhar para este fato como algo isolado na história da UFSC, há de se resgatar a memória do Movimento Estudantil sobre esta pauta, seja rememorando o UFSCtock – que já foi o maior festival catarinense de música e arte independente; seja a Semana de Festas na antiga Concha Acústica, organizada pelo DCE e CA’s em 2010 quando houve também tentativas de proibição às festas no Campus.

Não se pode olhar para este fato também de forma descolada da conjuntura nacional, de forma despolitizada e/ou ‘apartidária’ como alguns reivindicam leviana ou cinicamente. Paula relata que os policiais gritavam contra os grupos de pessoas:

“O que mais desespera são alguns fatos […] a PM dentro do Campus, que foi liberado há um pouco mais de dois anos, essa opressão com a população ocupando a universidade fora do horário de aula, que não seja pra aula. Mas eu acho muito significativo, menos de uma semana depois das eleições terem acontecido, a PM estar dentro do Campus da universidade federal  atirando bala de borracha nas pessoas e gritando ‘toma petralhada’, acho que isso carrega muito significado.”

Amanhã, 07 de novembro, ao meio dia, os Centros Acadêmicos da UFSC se reunirão no Conselho de Entidades de Base para tratar sobre o ocorrido, debater sobre segurança e festas e também cobrar esclarecimentos frente a reitoria e a Polícia Militar.

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