Future-se Imagem: Ariely S.

[Debate] As paredes brancas do CCE

Imagem: Ilustração de Ariely S.

Ariely S.* – Para o UàE – 29/08/2019

Seria tolice dizer que modelos empreendedores e liberais estão rodando as universidades federais apenas hoje com o eminente perigo do Future-se. Eles se estabelecem há anos com empresas privadas e empresas juniores dentro de tais instituições. Não somente o atual tramite dentro do  Centro de Comunicação e Expressão (CCE – UFSC)  sob a óptica da criação de uma pós em Empreendedorismo e Inovação, vemos uma total falta de conhecimentos do que cercam essas medidas. Os argumentos de debate contido em docentes que insistem em dizer da importância da inserção no mercado de trabalho, faz com que sejam criados estudantes sem senso algum de crítica sobre a política que vivem. Sua mão de obra é pautada em projetos que visam saciar empresas privadas, e até mesmo pessoalidades de docentes cujo único pressuposto é portfólio. É cabível dizer que o Future-se, então, vem sendo aplicado a muito tempo massivamente dentro das universidades visando que projetos que não geram lucro, de nada adiantam e não devem ser investidos/incentivados. A teoria é, então, colocada em escanteio junto com a crítica criando massivos alunos que cruzam os prédios do centro sem ao menos se questionarem dos porquês das próprias práxis. 

Em conjunto com a penumbra dos vários cursos que existem ali, temos no EGR (Departamento de Expressão Gráfica) a eleição de uma mulher racista, e que parece impune de todas acusações, saindo no seu primeiro dia de mandato arrancando cartazes pelo andar. Conservadorismo depende do capitalismo. Um Centro de expressão de paredes brancas, não tem expressão.

Há muitos anos as paredes vêm sendo pintadas a cada nova frase. Essa tentativa de higienização de um lugar que se arrasta para se manter vivo sem estrutura suficiente para comportar suas graduações. E para onde vai todo esse dinheiro além dos baldes de tinta branca? Ao passar por alguns laboratórios é fácil ver os contrastes com as salas de aula, no primeiro caso computadores com todas as ferramentas necessárias e a decepção ao chegar no segundo e ver uma sala sem nem o básico a oferecer.


Notamos que o problema não está somente na docente racista, no silencio que se instaura sobre todas as problemáticas que assombram não somente esse centro, mas a universidade toda, está em um sistema que protege tais pessoas de processos e penalidades.

É inadmissível a estagnação do coletivo em tais circunstâncias. As formas de reprodução do capital e da venda do neoliberalismo pelas ilusões que ele cria e não pelas perversidades que ele esconde nas universidades públicas.

De tal forma, vemos um Jornalismo que se limita a ficar no aquário (como é chamado o conjunto de salas da graduação), uma letra e cênicas que tenta sobreviver com o mínimo, um Cinema, Design e Animação sem recursos. Resgatemos, então, as bases de pensamento e crítica do CCE. Precisamos repensar nossas materialidades e formas expressão, não apenas voltar a pintar as velhas paredes do centro, mas construí-las, e, se necessário destruí-las.

 

*O texto é de inteira responsabilidade do autor e pode não refletir a opinião do Jornal

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