Praça da cidadania. Foto de Henrique Almeida. Agecon UFSC

[Debate] O uso do espaço da universidade

imagem: Praça da cidadania. Foto de Henrique Almeida/Agecom UFSC

Beatriz Costa*  – Redação UàE – 29/11/2018

Muitos estudantes veem a UFSC como uma extensão de sua casa. Alguns passam das 7:30 da manhã até depois das 22h no campus, constroem suas vidas a partir deste espaço. Um dia típico pode incluir assistir à aula, se dedicar a um grupo de pesquisa, extensão ou laboratório, almoço (e janta) no RU,  reunião do Centro Acadêmico (CA), estudar um pouco na BU,  sentar na grama e conversar com os amigos, assistir a uma mesa redonda interessante e curtir um samba no final do dia, porque ninguém é de ferro.

Todas estas atividades fazem parte da rotina estudantil e são importantes para o propósito da existência da universidade. Não devemos restringir sua função à formação de profissionais. A própria missão da UFSC evidencia isso. Por isso, os espaços da universidade devem ser utilizados não só para atividades curriculares obrigatórias, mas também para aquelas que são organizadas por iniciativa estudantil, sejam elas um curso sobre um software ou atividades de confraternização. Debates políticos e apresentações artísticas, por exemplo, possibilitam uma visão crítica da nossa realidade, muito importante para a formação integral do ser humano.

É assim que a universidade gera conhecimento: acesso à pesquisa, realização de eventos, ideias sendo trocadas entre pessoas de diferentes áreas do conhecimento, discussão de temas atuais da realidade nacional, confronto entre diferentes ideias embasadas cientificamente, acesso a arte, entre outras oportunidades que o ambiente universitário deve fornecer. Para todas estas atividades, é necessário espaço físico.

Hoje, existe uma crescente dificuldade de uso dos espaços da universidade para iniciativas estudantis. Alguns Centros só permitem que professores reservem os auditórios. Até mesmo aos Técnicos Administrativos em Educação (TAEs) tem sido restringida a reserva de auditórios e outros espaços físicos, restringindo a possibilidade de realização de palestras, reuniões, grupos de discussão, etc.

A política de festas na UFSC também é lamentável. Ao invés de permitir que os estudantes socializem no campus, após o término das aulas, cria uma série de empecilhos que relegam todos aos bares no entorno da Universidade ou festas em outros locais. Veja, poderia ser um CA vendendo bebidas a um preço acessível, arrecadando dinheiro para trazer um palestrante para a semana acadêmica e possibilitando que toda a comunidade usufrua do espaço público.

Ao invés disso, as atividades geralmente permitidas pela universidade seguem outra lógica. Fechar a Praça da Cidadania com tapumes e cobrar entrada, como o Trote Integrado faz, pode ser permitido. Com o espaço universitário cada vez mais difícil de acessar, as festas universitárias têm sido feitas em locais alugados, restritos àqueles que podem pagar a entrada e que agregam milhares de pessoas em um modelo que inviabiliza o diálogo e até o encontro com colegas de curso e outras pessoas.

Para defender a universidade pública, temos que defender o uso dos espaços além da sala de aula. Manifestações artísticas e políticas devem ser incentivadas. Palestras, oficinas, happy hours, clubes de leitura, atos políticos, apresentações artísticas, são usos pertinentes do espaço do campus e usos pertinentes de parte do tempo dos universitários.

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*O texto é de inteira responsabilidade da autora e pode não refletir a opinião do Jornal.

A sessão de debate acolhe textos de autores com ou sem vinculação ao UFSC à Esquerda. Os textos relacionados ao debate aqui exposto podem ser enviados para: [email protected]

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