Morgana Martins* – Redação UàE – 21/09/2018
Em junho deste ano, o Ministério Público de Santa Catarina (MP-SC) e os órgãos de segurança pública em Florianópolis se reuniram para debater medidas de segurança contra a violência no entorno do campus Trindade. Isso porque no dia 02 daquele mês, um adolescente de 16 anos foi morto por arma de fogo em frente aos bares do Pantanal, bairro que está localizado no entorno da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC).
Leia também: [Notícia] Após dois homicídios ao redor da UFSC, MP define medidas contra violência
Nesse processo, que culminou com a tragédia citada acima, as reclamações e processos das vizinhanças do local ganharam força significativa. E, agora, três meses depois, algumas das questões parecem ter sido amenizadas, como a diminuição dos barulhos – são feitas rondas policiais para averiguar essas situações -, existem grades delimitando os espaços dos bares para que as pessoas não fiquem na rua e os carros estacionados irregularmente estão diminuindo.
Porém, será que eram esses mesmos os principais problemas?
Tratar do problema da superlotação dos bares ao redor da UFSC apenas como um problema de perturbação da paz e de segurança faz com que mal seja pensado nos pontos chaves da questão. Parece apenas mais uma forma de tapar buracos. Há dois ângulos para pensar a superlotação dos bares: as políticas de integração e cultura, com centralidade nas festas no campus e a relação do espaço do campus com o entorno e a comunidade e formas de planejar outras relações.
Os bares sempre foram espaços de integração dos estudantes e da comunidade universitária; no entanto, é possível perceber um aumento na lotação deles desde que as festa foram proibidas no campus. Mas não só isso, foi quando também começaram a aumentar as reclamações das vizinhanças no entorno e o momento em que o MP-SC e outros órgãos de segurança começaram a intervir.
A proibição das festas, nesse sentido, se caracteriza como um marco de alteração da própria relação com o espaço universitário. Pois, é visível como as festas foram e ainda podem ser importantes para a integração entre a Universidade, para que possamos sentir que aquele espaço ali também é nosso, além de ser o modo como o Movimento Estudantil consegue se sustentar.
Além de integração, as festas também propiciavam vida ao campus, todos aqueles que saem das aulas às 22 horas sabem como é mais confortante passar por espaços iluminados e com movimentação de pessoas. É também uma questão de segurança com o espaço.
A partir desses elementos, a proibição de festas e, em consequência, a diminuição de espaços integrativos, configura-se como um pontapé inicial para a questão da superlotação dos bares no entorno da Universidade. Aqui, tratamos das festas somente, mas podemos pensar em eventos culturais, como exibições de filmes, apresentações teatro e também um evento que ocorria na UFSC, como o Ufsctoock.
Uma outra questão é a falta de planejamento da relação do espaço da UFSC com o entorno, a qual facilita para que hajam aglomerações em alguns espaços únicos onde existem bares e lancherias. O limite da UFSC que segue a Rua Desembargador Vítor Lima é um dos exemplos mais gritantes, em que a Universidade é delimitada por árvores e cercas, sem iluminação, as quais escondem os prédios do Centro de Ciências Físicas e Matemáticas.
Por que não, ao invés de uma rua escura e vazia, espaços de lazer, praças e alguns estabelecimentos fundamentais para os estudantes e para a comunidade ao redor, por exemplo aqueles grandes mercados com preços mais acessíveis? Por que não planejar um entorno iluminado, agradável e que condiga com as necessidades da região? Principalmente na rua em que está localizada a Moradia Estudantil, onde com certeza será um local em que haverá circulação de estudantes.
Essas são só algumas questões que nos possibilitam pensar que os espaços poderiam ser diferentes. Há muitas delas ainda a serem feitas e a serem também respondidas, mas o importante é pensar que isso tudo que nos ronda poderia ser diferente: é possível criar uma Universidade que possa expressar minimamente os desejos da comunidade que dela faz parte – e isso engloba toda a sociedade.
*O texto é de inteira responsabilidade da autora e pode não refletir a opinião do Jornal.
A sessão de opinião acolhe textos de autores com ou sem vinculação ao UFSC à Esquerda. Os textos relacionados ao debate aqui exposto podem ser enviados para: redacao@ufscaesquerda.com.br.