[Debate] Uma resposta indignada à uma ridícula nota de uma triste direção de uma certa entidade sindical: a GREVE na UFSC não depende de vocês!  

Foto: Arquivo UFSC à Esquerda

Luiz Pustiglione* – Para UàE – 23/09/2019

A pergunta que não saía da cabeça quando terminei de ler a nota da diretoria da APUFSC sobre o resultado da enquete de facebook, digo, consulta online para decidir sobre a greve ou não da categoria docente da UFSC era: é sério que é isso que vocês têm a dizer sobre esse resultado de merda que vocês ajudaram a produzir?

A UFSC está há 2 ou 3 passos de parar completamente de funcionar em 2019, com um horizonte para 2020 que mais parece um filme de terror, e a preocupação de vocês era jogar a culpa pelo resultado na pergunta, supostamente mal elaborada, “na primeira parte” (sic) da assembleia?  

“A escolha por um modelo restritivo de cédula – com opções apenas de greve por tempo indeterminado ou não greve – pela maioria presente na primeira parte, presencial, da Assembleia, na segunda-feira, acabou por restringir a possibilidade de escolha. Basta lembrar que tivemos 524 votos em favor da greve de um dia em agosto, número que não se repetiu desta vez.”  

Não contentes com jogar a culpa na base da categoria, como todo bom burocrata faz, diga-se de passagem, mais adiante eles procuram nesse cenário desgraçado desse resultado, fazer politicagem com supostos setores “extremistas” à direita e à esquerda:  

“Duas correntes de opinião parece que se associaram a tal escopo: de um lado, o grupo dos extremistas de direita, satisfeitos com as medidas do governo mesmo que contra a Universidade e, de outro, um outro grupo sectário, cada vez menor, que insiste em manter um sindicato paralelo (julgado pelo TST como ilegal), fazendo assembleias irregulares, falando indevidamente em nome dos professores, semeando confusão e dividindo a categoria. Os dois extremos se encontram, fazendo o jogo que interessa aos inimigos da universidade pública.”  

Na verdade, na verdade, diretoria da APUFSC, se vocês quisesse realmente ser sinceros deveriam ter dado o destaque devido a um elemento central – ESSE SIM! – presente no texto e que não pode ser nem perdoado nem passar despercebido:  

“O que o resultado da votação mostra é que a maioria dos professores avalia como nós que, a despeito da justeza ou não do instrumento de luta, não há neste momento possibilidade de uma greve nacional forte por tempo indeterminado.”  

Esse parágrafo, sim, demonstra o nível de covardia e de falta de capacidade de fazer uma análise concreta da situação concreta, pois, a despeito de um enorme movimento construído pela grande maioria dos estudantes de graduação e pós-graduação da UFSC e de um crescente movimento de considerar a ida à greve da parte dos técnico-administrativos tanto em nível local como nacional, a diretoria assume SER CONTRA A GREVE.

Além disso, em nenhum trecho dessa nota lamentável foi feita uma crítica sequer a esse processo bizarro de decisão sobre um assunto tão grave e urgente ser tomada online, sem que as pessoas tenham presenciado um debate sobre a conjuntura, a situação da UFSC, etc.  

À uma diretoria de sindicato cabe cumprir o estatuto? Sim, sem dúvida.

Essa diretoria não pode criticá-lo? É claro que pode. Pode também construir com a categoria uma forma que não permita distorções entre as realidades concreta dos espaços de debate e deliberação de uma categoria e a realidade virtual, na qual cada um vota “escondido” e no conforto do seu lar, independente de ter ou não presenciado ao menos um debate (mesmo que por transmissão online).  

A diretoria da APUFSC, portanto, aposta na dupla desmobilização: atacando sua base e, de forma mais incisiva, os setores de oposição e sendo EXPRESSAMENTE contra a greve. Uma kombi passando pelo campus orientando aos associados votarem online é mais que insuficiente para chamar a base à mobilização, é uma VERGONHA pro movimento sindical de conjunto e imagino que assim seja para uma parcela significativa da base dessa importante categoria de luta.  

Da nossa parte, dos estudantes em greve que estão de pé e em luta contra esse governo e suas medidas para destruir a universidade, esperamos que os 378 que votaram pela GREVE na bisonha enquete se juntem a nós nas atividades de luta e na mediação dos conflitos que professores reacionários tentam causar ao perseguir colegas que estão na luta.

À luta, companheiros de todas as categorias da universidade e do conjunto da classe trabalhadora – e passem por cima de suas direções sindicais e estudantis, se for o caso: a realidade não vai esperar 2020 e nem vai se adequar a essa realidade paralela de enquete de rede social para tomar decisões.  

Luiz Pustiglione é Técnico em Assuntos Educacionais na UFRJ e Doutorando-grevista no Programa de Pós-Graduação em Educação na UFSC  


*O texto é de inteira responsabilidade do autor e pode não refletir a opinião do Jornal. 

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