Foto da assembleia ocorrida no HU em 30 de junho. Fonte: SINTUFSC.

Editorial: 30 horas no HU, vitória dos trabalhadores ou manobra eleitoreira?

Foto: SINTUFSC

Editoria Geral – 04.08.2016 – UàE

O recente “furo de reportagem” do SINTUFSC que revela a publicação da portaria 084/2016/GR assinada pelo Reitor Luís Carlos Cancellier que estende as 30 horas no Hospital Universitário (HU) para as Diretorias Administrativas e de Medicina, contemplando mais 186 técnicos administrativos, tomou conta do debate público nesta semana[1]. Em meio à eleição para a direção do sindicato dos TAEs que ocorre no dia 10 de agosto, e poucos dias antes do debate entre as chapas no auditório do HU, a notícia tem mobilizado discursos apaixonados e respostas simples. No entanto, há diversos ângulos pelo qual o acontecimento precisa ser analisado, ou melhor, há diversos movimentos que confluíram para que pudesse ser concretizado.

Para compreender o processo que culminou nesta portaria é preciso recordar que em 2015, depois de reprimir duramente as lutas pelas 30 horas nos anos anteriores, a Reitoria de Roselane baixou, em meio ao processo eleitoral, uma portaria que reduzia a jornada para parte dos trabalhadores do Hospital, deixando de fora não apenas, mas especialmente os setores administrativos. Desde então uma série de movimentos tiveram lugar no HU.

Por um lado, este acontecimento só foi possível com a silenciosa luta dos trabalhadores do HU que vem se organizando desde o ano passado a despeito da direção atual do sindicato. Desde as entranhas do Hospital, os trabalhadores vêm organizando grupos de discussão sobre as 30 horas, produzindo relatórios e documentos e reivindicado a extensão para todos os setores a redução da jornada sem redução de salários. Esta luta teve seu ponto de inflexão no dia 30 de junho, quando os trabalhadores entregaram ao reitor um abaixo-assinado com 569 assinaturas dos trabalhadores do HU exigindo a extensão das 30 horas, e em uma assembleia pública abriram processo de negociação com a reitoria. Nesta assembleia a direção do sindicato foi levada a reboque pelo reitor para posar como mediador entre a luta daqueles trabalhadores e a reitoria – o que se viu foi exatamente isso, um sindicato “papagaio de pirata” que só estava lá para os discursos e as fotos. Então, neste sentido, as 30 horas no HU podem ser vistas como uma vitória dos trabalhadores organizados à revelia do sindicato.

Por outro lado, e é preciso abandonar toda a ingenuidade, há um movimento oportunista da reitoria de Cancellier e da atual direção do SINTUFSC. Por isso, no dia 30 de junho estava lá a direção do sindicato e nos últimos meses os fantasmas da direção do sindicato voltaram a aparecer no HU, fato é que não estão por lá para aparecer por aparecer mas precisam indicar que são a via de acesso ao reitor. Precisam demonstrar que são eles que garantirão o tão famoso diálogo com a reitoria. E esta reitoria tem interesses na eleição sindical, em garantir um sindicato dócil e passivo em relação ao seu projeto privatista. A chapa 2 – “Determinação sindicato para todos!”, que representa a continuidade da atual direção, com figuras carimbadas como Celso Ramos Martins dentre outros, é a chapa da reitoria! Foi seu comitê de campanha dentre os TAEs, e agora são sua blindagem contra o movimento dos TAEs.

E é no contexto de acirramento da eleição, com a chapa da esquerda (a chapa 1 – TAEs Livres: Sindicato Democrático e de Luta) ganhando terreno, nos dez últimos dias, que o reitor tenta discretamente[2] sair em defesa da atual direção do sindicato. Não à toa a portaria é emitida antes mesmo que a comissão, saída da negociação com os trabalhadores, encerre os seus trabalhos. Não surpreenderia a ninguém se dias antes da eleição outro setor de grande expressão, como a Biblioteca Universitária, por exemplo, seja contemplada também com as 30 horas. E aí reside a perversidade desse movimento, não há qualquer compromisso do gabinete da reitoria, e nem mesmo da Chapa 2, atual direção do SINTUFSC, com a pauta das 30 horas para todos os trabalhadores da universidade. Mas, sim, o uso oportunista e eleitoreiro dos anseios, das reinvindicações e da luta dos trabalhadores.

Assim, se por um lado há de fato uma vitória dos trabalhadores – que com sua experiência recente podem contribuir e engrossar as fileiras de luta pela histórica reivindicação da categoria dos TAEs por 30 horas para todos – há por outro um movimento oportunista da atual direção do SINTUFSC e da Reitoria de canalizar o movimento daqueles trabalhadores para o apoio à chapa 2 na eleição do sindicato. Note-se que esta é uma reitoria com uma habilidade política tremenda, e que com este resultado pode ter na mão duas decisivas entidades do movimento universitário – além do Diretório Central dos Estudantes, ganhará também o SINTUFSC – enquanto conta com o apoio indireto da APUFSC. Com isso queremos dizer que não há mais espaço para ingenuidades na política da UFSC. Há em curso um projeto conservador e privatizante para as universidades, dirigida na UFSC pelo gabinete da reitoria. À esquerda cabe muita organização, retomar as entidades e fazer frente à a este projeto à altura.

[1]http://www.sintufsc.ufsc.br/?p=18656 e http://www.sintufsc.ufsc.br/wp-content/uploads/2016/08/Portaria_30h_HU.jpeg

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