[Editorial] Folha: um jornal a serviço do Capital

Editorial UàE – 02/12/2016

Ontem, 01 de dezembro de 2016, o jornal Folha de São Paulo publicou o editorial “Teto Necessário”[1], no qual advoga abertamente a favor da PEC 55 – a PEC da Morte – e contra o movimento de trabalhadores e estudantes que tomou as ruas de Brasília no dia 29 de novembro. O cinismo do editorial é tamanho que não pode passar incólume, é preciso desnudá-lo.

Em primeiro lugar, a Folha afirma que apesar das turbulências políticas e das decepções econômicas o governo Temer teria conseguido uma vitória acachapante na votação em primeiro turno da PEC no Senado, 61 votos a 14. Ora, Folha, nada surpreendente. Ou vocês que se arvoraram ao Golpe, esqueceram-se que o papel fundamental da subida de Temer ao cargo da presidência era o de aprofundar as medidas de ataque do Capital sobre as condições de vida da classe trabalhadora? Pensamos que não. A risível abertura de seu editorial é apenas uma subscrição do jornal de que apesar de tremulante este governo poderá demonstrar a que veio.

Em segundo lugar, em uma breve passagem, que parece no texto como de menor importância – como se os editores enquanto escreviam tivessem cochilado e retornassem ao texto donde ele realmente importa – indicam que este “pilar do ajuste fiscal” estaria levantando “controvérsias”, em parte “insufladas por falsas questões e pelo ressentimento político de setores ligados a Dilma Roussef”. Não menos significativo poderia ser este trecho do texto. Com isso, a Folha empurra a opinião pública a identificar aqueles que lutam com o Partido dos Trabalhadores, quando sabe bem que as ruas estão sendo ocupadas pela nossa classe, em larga medida convocada por quem esteve na oposição de esquerda aos governos do PT, quem esteve lutando contra a sanha do Capital organizado naquele governo nos últimos 13 anos.

Esta jogada do editorial não nos parece à toa. Operam com isso uma tentativa de mobilizar a rejeição as manifestações, seja pelo emblema do PT, ou pelo simples fato de sua “politização” (tomada aqui, obviamente, em termos simplistas). Tentam mobilizar os afetos anti-partido que circulam largamente nas ruas desde 2013 para deslegitimar as lutas travadas pela classe trabalhadora contra o conjunto de medidas de Temer. E, como bônus, uma amenização do conteúdo das lutas que tem a cada dia que passa questionado mais intensamente o Estado Burguês.

Em seguida, aclamam a PEC 55 como a grande medida – como um generoso ato de responsabilidade com as contas públicas. Afinal, “a gravíssima crise fiscal dos últimos anos” seria fruto de um padrão irresponsável vigente nas últimas décadas: “O Estado gasta mais do que arrecada” e por consequência corre atrás do prejuízo aumentando os impostos e “sufocando o contribuinte”. Pasmem leitores, esta é toda a complexidade do argumento deste jornal para defender a indefensável PEC 55!

A amnésia tomou a redação e os editores daquele jornal. Mesmo, publicando em absoluto destaque a matéria recente sobre a “Bolsa-Empresário”[2] não podem imaginar que o Estado, na verdade, não sufoca o contribuinte – sufoca uma classe de contribuintes, os trabalhadores. Mas, não ousa onerar o Capital. Apenas, no campo da arrecadação aquele jornal não pode mesmo imaginar que o Estado (e vejam que isto nada mais seria do que a velha promessa da República burguesa) possa onerar os grandes monopólios, os oligopólios, taxar grandes fortunas, executar as dividas dos capitalistas com o Estado já transitadas em julgado, forçar e apropriar todos os recursos repatriados,  taxar grandes heranças, inverter a lógica insidiosa do imposto de renda sob os trabalhadores (quem ganha mais, paga mais – ou seja, os capitalistas que paguem maiores valores), e no campo dos gastos, o mínimo de auditar e combater o sistema da dívida pública[3] – dentre outras medidas. Enfim, este jornal não pode nem mesmo aventar qualquer possibilidade que toque o Capital, pelo contrário, já anunciam o segundo pilar do ajuste fiscal: “Racionalizar a previdência”, que nada mais é do que arrochar a previdência da classe trabalhadora.

De certo, a incapacidade imaginativa deste jornal em relação a uma saída para a crise que incida sobre o Capital é o que de mais verdadeiro pode assumir. Afinal, a Folha não é ingênua e sabe que o Estado não pode tocar o Capital, porque este Estado é Capital. É o seu Império sob a forma republicana. A democracia entre as finanças. Seu cinismo reside apenas em afirmar as conclusões desta premissa, e não defendê-la abertamente. E em seu cinismo, o silêncio febril de seus fundamentos, reside sua posição de classe: A Folha – Um jornal a serviço do Capital.

Por último àquele editorial ainda esbraveja contra os manifestantes que ocuparam Brasília naquele fatídico 29 de novembro. “Um espetáculo de violência” – vocifera. Depredaram os pobres prédios públicos, profissionais de imprensa sentiram-se hostilizados – lamenta. Não diz, a Folha, qual imprensa, dizemos por ela então: a sua, a do Capital. Não diz, a Folha, da violência que é a degradação mais profunda das condições de vida da classe trabalhadora. Não diz do vandalismo da Reforma da Previdência, da Reforma Trabalhista, da Reforma do Ensino Médio, enfim do conjunto de medidas que se impõe por sobre os ombros de nossa classe.

Tampouco diz da violência massacrante do aparato repressivo do Capital – as cavalarias, os cães, os choques – o sufocante ar corrompido pelas bombas de gás e sprays de pimenta, o sufocante respirar dos manifestantes por sob a chuva dos cassetetes. A Folha, a folha não diz. E este é seu papel fundamental, dizer apenas o que lhe cabe, da forma com que lhe compete, para tecer a verdade extasiada requerida por quem lhe põe a mesa.

Enfim, queremos deixar a Folha e a nossos leitores uma mensagem:

Ninguém é obrigado a ler a Folha, tampouco a aderir às suas opiniões e discursos vis, mas esse tipo de redação, que já há muito é frequente no país, especialmente naqueles grandes jornais, é intolerável em sua agressiva violação à inteligência da classe trabalhadora e seu absoluto descaso com a vida daqueles que erguem cotidianamente, no lombo, as instituições pretensamente democráticas desse país.

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