[Editorial] Roselane e Amante: Não!

Imagem: USFC à esquerda

 

Nos últimos dias a equipe de cobertura do UàE tem produzido uma série de materiais analisando criticamente as candidaturas em cena para a eleição da reitoria da UFSC. Todo o material foi produzido e divulgado após o lançamento de nossa série de entrevistas com os reitoráveis. Três candidatos aceitaram realizar entrevista com o UàE: Edson de Pieri (Chapa 84 – “UFSC Mais”), Luís Carlos Cancellier (Chapa 82 – “A UFSC Pode Mais”) e Irineu Manoel de Souza (Chapa 85 – “Somos Tod@s UFSC”). As entrevistas destes candidatos foram seguidas da divulgação de editoriais nos quais realizamos uma análise de suas candidaturas com base nos seus materiais programáticos e na fala realizada.

As chapas de Roselane Neckel e Cláudio Amante declinaram a entrevista com a nossa equipe. Isto não os eximiu de nossa crítica, que foi expressa em textos e noticias. Apresentamos agora um novo editorial, em que aprofundamos a crítica a suas candidaturas.

Roselane “para barrar o retrocesso”?

Todos ainda devem se lembrar das eleições presidenciais que ocorreram em 2014 e, além disso, devem estar sentindo seus resultados. Desde o início de 2015, houve quase 12 bilhões de Reais em cortes na educação superior pública, ataques contra direitos trabalhistas, direitos dos indígenas, das minorias e um ajuste fiscal neoliberal e privatizante.

Na UFSC, em tempo de eleições para a reitoria, temos um cenário parecido. Alguns sujeitos políticos, como a “Juventude Comunista Avançando/Polo Comunista Luís Carlos Prestes” (JCA/PCLCP), tentam pintar Roselane Neckel como alternativa aos velhos grupos políticos, à maçonaria, que quatro anos atrás habitavam o gabinete do prédio da reitoria. É justo nos perguntarmos que, se Roselane é alternativa, quais são as grandes diferenças que apresenta diante de seus opositores?

Eis a surpresa: Roselane não apresenta nada de substancialmente diferente das candidaturas de Cancellier, Claudio Amante ou Edson de Pieri. Defende abertamente a falsa saída das parcerias público-privadas para a crise orçamentária da universidade, aprofundando a terceirização, a privatização e a inserção do capital dentro da universidade, trazendo com ele os mais perversos efeitos imagináveis e inimagináveis.

José Paulo Netto, professor emérito da escola de serviço social da UFRJ e referência nacional entre os Marxistas afirma: “A luta de classes dentro da universidade passa pela direção social que você dá ao ensino, a pesquisa, e a extensão.” Nos perguntamos, durante a última gestão de Roselane, e agora, com a proposta de avanço das parcerias público-privadas, qual o direcionamento social apontado para a UFSC?

Mesmo após o plebiscito sobre adesão do HU à EBSERH, no qual a comunidade universitária, por ampla maioria, foi contrária à sua implantação, Roselane e Lúcia não expressaram qualquer posicionamento. Se antes do plebiscito ocorrer escondiam-se atrás de uma suposta neutralidade, diga-se de passagem, danosa à universidade pública, qual será a desculpa de agora?

Por outro lado, durante o último ano, Roselane se deparou com movimentos organizados, de pobres e negros, dos estudantes em geral, dos docentes e dos técnico-administrativos. Como os tratou?

Não podemos nos esquecer que em 2014, quando os técnicos administrativos realizavam greve interna, pela pauta das 30h para todos, foram duramente reprimidos, tendo inclusive salários cortados (Coisa que nunca havia acontecido nesta universidade!).

Quando as estudantes de pedagogia realizavam greve estudantil por conta das precárias condições do prédio em que estudavam, Roselane fez questão de enrolar, de não atendê-las e de inclusive não reconhecer como legítima a comissão de negociação das estudantes e professoras do curso de pedagogia!

Quando teve a reitoria ocupada pelos estudantes que buscavam atendimento digno na pró-reitoria de assuntos estudantis, mais bolsas, mais vagas na moradia estudantil e uma solução ao problema de alimentação, Roselane fugiu da negociação pela porta dos fundos, depois ofereceu, cinicamente, a construção de restaurantes universitários privatizados. Oferta que veio a materializar na última greve dos TAE’s, quando terceirizou cargos de nutricionista para abrir o restaurante e enfraquecer as greves e movimentos que existiam na universidade naquele momento.

Afinal de contas, onde está o caráter de esquerda, ou a diferença substancial que separa Roselane de Cancellier ou dos outros candidatos da direita? Pintar Roselane como de esquerda nessas eleições é usar cinicamente do mesmo artifício que garantiu à Dilma Rousseff sua reeleição, mas não sem consequências. Assim como acontece no país, a racionalidade governista tem o sentido de adormecer o campo da esquerda, e um retorno do mesmo imobilismo que impregnava a universidade no início do mandato de Roselane, isso não podemos aceitar.

O que esconde Claudio Amante?

 

Já em relação à candidatura de Cláudio Amante – Chapa 81 “Confiança na UFSC”– não se pode guardar qualquer ilusão. Ao buscar seus materiais nas mídias da candidatura, muito pouco pode ser encontrado em relação a suas posições e propostas para a universidade. É notório seu esvaziamento programático. No entanto nos perguntamos o que esconde o discurso simpático, porém amorfo do candidato? O que esconde suas falas evasivas, como o chavão “não há respostas simples para problemas complexos”[1]?  O que revela afinal seu silêncio?

Na ausência de posições e propostas firmes, parece restar da candidatura de Cláudio Amante apenas o discurso “água com açúcar”, evasivo, de uma gestão mais democrática e participativa, de soluções articuladas com a comunidade, etc. No entanto, o que este discurso aparentemente inofensivo tenta esconder são suas posições mais conservadoras em temas centrais para UFSC.

Mesmo não apresentando abertamente uma posição sobre a EBSERH é possível verificar sua postura conservadora quando trata o plebiscito realizado pela comunidade universitária, que rejeitou a adesão do HU à empresa, como uma mera pesquisa de opinião. Sua face mais dura transparece quando sua candidatura defende que frente aos cortes no orçamento da educação, que atingiram nesse ano aproximadamente R$11,7bilhões, seria preciso buscar “soluções criativas” – quais sejam firmar parcerias com iniciativa privada (nacional e internacional) para suplementar o orçamento. Quando defende “flexibilizar” os currículos dos cursos de graduação sem precisar o que quer dizer com isso – abrindo brecha para concepções pedagógicas intimamente conectadas com os interesses empresariais. Esses mesmos interesses que se refestelam quando o candidato defende, quase indiscriminadamente, valores como inovação e empreendedorismo[2].

O discurso gelatinoso de Cláudio Amante não é suficiente para escamotear suas posições conservadoras. Por isso desde a esquerda não é possível depositar qualquer confiança em sua chapa.

Com isso para o UàE não resta qualquer dúvida quanto às candidaturas de Roselane Neckel e Cláudio Amante: estão comprometidas apenas com os interesses empresariais, com as formas ampliadas de privatização da Universidade. Aqueles que lutam por uma Universidade comprometida com as grandes questões da classe trabalhadora não lhes guardam nenhuma esperança.

[1] O chavão foi apresentado pelo candidato em diferentes debates e pode ser visualizado na entrevista concedida ao programa da TV Record “Educação e Cidadania”, disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=zywGxnEXk_A

[2] Essas posições apareceram de forma fragmentária durante a campanha. No entanto, em entrevista ao Cotidiano UFSC elas escaparam quase por completo. A entrevista pode ser vista em: https://www.youtube.com/watch?v=Mh2G1yyJBqY

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