Assembleia APG 20/10
Assembleia dos Estudantes da Pós-graduação vota contra a normativa de ensino remoto. Foto: UFSC à Esquerda.

[Entrevista] Ensino remoto na pós-graduação da UFSC: “é uma medida de contenção de crise, não uma medida de ensino”

 

Júlia Vendrami – Redação UFSC à Esquerda – 25/04/2023

Hoje será discutido na sessão do Conselho Universitário da UFSC a chamada “Proposta de resolução normativa sobre o desenvolvimento de atividades síncronas e assíncronas na pós-graduação stricto sensu” que nada mais é do que a institucionalização do ensino remoto na Pós-graduação da UFSC. O processo é controverso, surgiu na gestão anterior de reitoria a atual reitoria tem dado continuidade a ele. A Associação de Pós-Graduandos (APG UFSC) está procurando ampliar o debate sobre os efeitos do ensino remoto na Pós-graduação à curto e longo prazo. Nesta sessão, o parecer de vistas do processo, elaborado por uma das conselheiras que representa os estudantes de Pós-graduação, Anelise Sandri, será apreciado no conselho. 

O jornal UFSC à Esquerda conversou com uma das conselheiras representantes dos estudantes de Pós-graduação no CUn, Luisa Estácio, que acompanha a tramitação e luta da APG desde o início da pauta, para entender como os estudantes têm encarado este processo. 

UFSC à Esquerda: A entidade que representa os estudantes da pós-graduação (APG), tem se posicionado reiteradamente contra a proposta de institucionalização do ensino remoto em nossa universidade. Quais consequências vocês avaliam que a política trará para a pós e para a universidade como um todo?

Luísa: A política de institucionalização do ensino remoto em meio ao contexto de sucateamento da universidade e do retorno presencial é preocupante, pois seria a inserção experimental de um novo modelo educacional, o qual não é implementado por uma preocupação científica por trás, mas significa uma mudança de projeto de universidade em plena crise institucional. A APG tem se posicionado contra essa proposta por entender que ela surge por conta do estrangulamento orçamentário, e, apesar de estar sendo discutida essa política para pós, a institucionalização da carga remota abre margem para que em breve se estenda a mesma política para os cursos de graduação, ou também políticas de cobrança na pós-graduação. A entidade realizou debates, rodas de conversa, atividades formativas e uma assembleia no final do ano passado dos estudantes da pós e foi votado unanimemente a posição contrária a qualquer ensino remoto na universidade. Nas discussões, uma das consequências discutidas é que a longo prazo pode ocorrer o esvaziamento da universidade e seguramente a redução da qualidade de formação dos estudantes. Isso porque a formação de pesquisadores depende da estrutura da universidade, incluindo o contato com colegas, núcleos de pesquisa e laboratórios. Sem o contato e oportunidade de estudar e formar-se de modo integral, qual vínculo esses estudantes-pesquisadores terão com suas pesquisas? Além disso, a política de ensino remoto pode levar a uma redução na oferta de bolsas, uma vez que os estudantes não precisam mais estar fisicamente na mesma cidade da universidade. Isso pode limitar o acesso à pós-graduação e prejudicar a diversidade e qualidade da pesquisa produzida.

UFSC à Esquerda: Antes de chegar ao Conselho Universitário, o processo passou pela Câmara de Pós-Graduação (CPG), onde você também é conselheira e pediu vistas. Pode nos contar como foi o desenrolar disso?

Luísa: Em junho de 2022, na semana seguinte após a apresentação inicial da normativa que foi elaborada pela antiga gestão da reitoria, a discussão na CPG começou com manifestações favoráveis dentro da Câmara em relação à implementação da normativa. Quando apontei a necessidade de audiências públicas para tratar do assunto por conta importância da política a ser discutida, não houve escuta e rapidamente já estava sendo discutido o aumento da porcentagem da carga remota dos cursos. Neste momento entrei com pedido de vistas em nome da APG.

Foi realizado um seminário da PROPG sobre o tema, onde três professores de diferentes centros foram convidados a relatarem a experiência com o ensino remoto em cada programa. Por parte da comunidade presente nesse seminário, foram realizadas boas falas de questionamento sobre a resolução, as quais muitas perguntas não foram respondidas, deixando em aberto a necessidade de que mais discussões fossem feitas. As discussões até hoje sobre a normativa ficam mais ao redor de experiências pessoais com o ensino remoto, de avaliações internas de programas sobre a política que acabam não sendo compartilhadas, de portarias afirmando a necessidade da política. Nenhuma avaliação concreta de aspectos educacionais foi feita, mesmo sendo um projeto político polêmico. Estamos alertando para isso.

É frequente que nesse debate a posição do movimento estudantil seja desqualificada por professores, ou que se tente alegar que houve confusão sobre a compreensão do que representa a normativa. Mas não há confusão, e até mesmo entre aqueles que defendem a institucionalização do ensino remoto admitem que essa seria uma possibilidade de conter uma evasão nos cursos – ou seja, uma medida de contenção de crise, não de ensino. Em setembro do ano passado a discussão entrou novamente na CPG e a resolução foi aprovada. Após a aprovação e diversas atividades feitas pela APG sobre o tema, foi convocada uma assembleia estudantil onde em outubro de 2022 os estudantes da pós se posicionaram contrários a qualquer medida remota na universidade. Desde o fim do ano passado a normativa entrou no Conselho Universitário (CUn), mas foi adiada sua discussão para o início deste semestre. Na última reunião em que foi apresentada, nós identificamos que o Processo estava incompleto, sem o parecer de vistas elaborado pela APG. Pedimos vistas novamente no processo e a previsão é que a pauta retorne na próxima sessão ordinária do Conselho.

UFSC à Esquerda: Quais são as perspectivas do movimento estudantil da pós-graduação para a votação no Conselho Universitário e quais as perspectivas para continuidade da mobilização do corpo estudantil em relação a esta pauta?

Luísa: No Conselho Universitário, os estudantes de graduação, de pós-graduação e os representantes TAEs – que tiveram também uma assembleia ano passado e deliberaram posição contrária à normativa – são em geral aqueles que se posicionam contra a nova política, assim como alguns professores e professoras. Tem sido difícil conseguir discutir a política em si, a discussão é bastante tensa onde uma parte do Conselho já possui sua decisão formada e manifesta pressa pela aprovação da Resolução. Nós da APG continuaremos a nos posicionar contrários em relação a normativa, posição que é fruto do consenso coletivo formado na assembleia estudantil da pós-graduação. Vamos debater agora dentro do Conselho, expondo os pontos que consideramos problemáticos da normativa, defendendo a posição estudantil. 

  

  

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