[Notícia] A dramática realidade das bolsas nos programas de pós-graduação da UFSC

Imagem: Cartaz de divulgação da reunião ampliada por bolsas que ocorrerá em breve, às 19h.

Jussara Freire – Redação do UFSC à Esquerda – 29/04/2021

Desde o início de abril a Associação de Pós-Graduandos da UFSC (APG) está debatendo a situação das bolsas de pesquisa em reuniões de articulação ampliada. O espaço tem rendido grupos de trabalho que estão atuando para levantar a situação das bolsas na UFSC e mobilizar os programas para lutar por esta pauta, apesar das dificuldades impostas pelas atividades remotas na pandemia. Nas reuniões e nos grupos de trabalho a situação alarmante dos programas da Universidade tem vindo à tona. Confira alguns casos abaixo: 

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No Programa de Pós-Graduação em Antropologia (PPGAS), metade da turma de Doutorado que entrou em 2020 está sem bolsa e não há horizonte de bolsas para os ingressantes de 2021. Segundo relatado em uma reunião da articulação por bolsas, quando o assunto foi colocado em pauta no colegiado do programa, uma professora havia se manifestado afirmando que os estudantes deveriam se adaptar a fazer a pós-graduação sem bolsas. Mas o que significam essas adaptações? A princípio o programa tem transferido suas aulas para o período noturno para não chocar com o horário de trabalho dos estudantes, entretanto, as pesquisas que devem ser realizadas em dois ou quatro anos perdem o seu caráter de dedicação integral. No PPG de Relações Internacionais também houve mudança das aulas para o período noturno em função da escassez de bolsas.

O PPG de Bioquímica perdeu 19 bolsas de 2019 a 2021, então o número de vagas no programa foi reduzido para se adaptar à realidade das bolsas e houve adiamento de algumas matrículas de estudantes que iriam iniciar em Fevereiro para o mês de Agosto, em função de perda de bolsas que ainda estavam previstas quando o processo seletivo foi realizado. 

No PPG de Ecologia, atualmente há nove bolsas de mestrado que encerram em Agosto, destas, cinco serão devolvidas para a CAPES, em função do edital de Março de 2020 que as colocou na categoria de bolsas de empréstimo. Há dois dias atrás saiu o resultado do processo seletivo 2021 onde 15 novos estudantes de mestrado e sete de Doutorado foram selecionados para ingressar no programa, mas há a previsão de apenas duas bolsas para o Mestrado e quatro bolsas para o Doutorado. 

No PPG de Engenharia Ambiental, foi disponibilizada apenas uma bolsa para os novos ingressantes de 2021, pois todas as demais bolsas do programa que estão encerrando foram perdidas e será necessário tentar resgatá-las por meio de editais, contudo, a perspectiva de possíveis novas bolsas é somente para o mês de Novembro. No Programa de Pós-Graduação em História, havia 30 bolsas no ano passado, e neste ano há apenas três bolsas disponíveis. Já no programa Interdisciplinar de Ciências Humanas e de Geografia, nenhuma bolsa foi disponibilizada neste ano.

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Em alguns programas estão se estabelecendo políticas de rotatividade de bolsas entre estudantes, ou seja, uma bolsa que deveria ser acessada por quatro anos no Doutorado e dois anos no Mestrado, pode ser disponibilizada por apenas um tempo (seis meses, um ano, dois anos) e depois ser retirada do estudante, tanto em função de critérios de produtividade (publicações, notas em determinadas disciplinas, entre outros), quanto para forjar alguma distribuição de bolsas em meio à escassez. 

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Se por um lado há diversos relatos em que turmas de ingressantes de Doutorado estão pensando em desistir de suas vagas frente a falta de horizonte de bolsas, assim como há aqueles professores que acham que podem resolver a questão selecionando estudantes que podem se manter com auxílio familiar, por outro, há a diminuição de vagas disponíveis nos programas e a realização de aulas noturnas para tentar atender os que estão precisando trabalhar durante o dia. Mas estas saídas apenas se adequam a esta situação de estrangulamento das pesquisas científicas, sem de fato retomar as condições que os pesquisadores necessitam para cumprirem seu papel. 

Será que a resposta dos programas em meio a cortes tão drásticos deve ser mesmo a de adaptação? Aceitar a descaracterização da pesquisa na Universidade Pública? Esses cortes não estão desconectados dos demais comprometimentos orçamentários destas instituições, assim precisam ser levados a sério pela comunidade universitária junto das demais questões financeiras. Afinal, o que professores, técnicos e estudantes acham que ainda podem preservar diante de um claro projeto de destruição dessa instituição?

Hoje, às 19h, ocorre nova reunião ampliada da articulação de bolsas, para participar, basta acessar o link: https://meet.jit.si/APGUFSC-29-04-2021-1900-EXTRA-BOLSAS. Todos e todas são mais do que bem-vindos para dar sua contribuição para essa luta.

Caso nossos leitores queiram dar visibilidade à outras situações de cortes de bolsas na pós-graduação, estamos abertos para receber relatos e informações dos diversos programas da Universidade, basta entrar em contato pelo e-mail [email protected].

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