Foto: © PixaBay
Maria Fernandez – Publicado originalmente em Universidade à Esquerda – 05/08/2020
Na Bolívia o governo definiu o encerramento do ano letivo. A medida, que entrou em vigor em 03/08, considerou as carências em relação ao acesso ao ensino virtual, principalmente nas áreas rurais. Assim como no Brasil, as aulas presenciais estavam suspensas desde março.
O governo boliviano levou em consideração o contexto em que 40% da população vive na área rural onde não chega fibra ótica. Assim, sem possibilidade de acesso de grande parte das crianças ao ensino de forma remota, optou-se pelo cancelamento do ano letivo. O cancelamento atinge o ensino fundamental e médio. A medida ainda garante o pagamento do salário dos professores da rede pública e prevê aprovação automática de estudantes para o Ensino Superior. O retorno das aulas presenciais também foi descartado pelo governo pelo alto risco a saúde e a vida.
Enquanto isso o Ministério da Educação brasileiro não divulga nenhuma informação ou acompanhamento oficial sobre o acesso das crianças ao ensino remoto pelo país. Um levantamento do G1 em julho junto as secretarias estaduais de educação estimava que as aulas online, na maioria dos estados que mandaram informações, não eram acompanhadas pelos estudantes. As informações variavam bastantes em relação a cada estado, mas em 5 estados, o ensino on-line não chegava a 20% ou 25% dos estudantes; em 7 estados, o ensino on-line não chegava a até 15%, demonstrando o que a reportagem chamou de apagão na educação.
No Brasil, no contexto da campanha pelo adiamento do Enem o debate sobre o cancelamento do ano letivo chegou a ser levantado, inclusive com a hashtag #CancelaOAnoLetivo2020. Entretanto não houve posicionamento neste sentido no Ministério da Educação e várias entidades como a Federação Nacional das Escolas Particulares descartou a ideia como absurda, e tem trabalhado para manter o ano letivo a qualquer custo, inclusive acelerando o retorno de aulas presenciais.
Temos acompanhando vários estados pelo Brasil com plano de retomada das atividades presenciais nas escolas mesmo sem nenhum controle da pandemia. O lucro acima da vida tem sido a tônica das escolas particulares que forçam também o retorno das escolas públicas para liberar mão de obra das famílias.