[Notícia] EaD na UDESC: “é tudo meio rápido, meio frio e muito cansativo”

Ilustração: José Carlos Ferreira/Jornal do Campus USP

Luisa Estácio – Redação UàE – 03/08/2020

O Universidade à Esquerda realiza atualmente entrevistas com estudantes e publica relatos daqueles que passam atualmente pela experiência do ensino remoto, medida que vem sido implementada em grande parte das universidades do país.

Ontem (03/08) publicamos uma entrevista feita com Amanda Beltrame, estudante do curso de Arquitetura e Urbanismo, na Universidade do Estado de Santa Catarina (UDESC) localizada em Laguna, que relatou algumas das dificuldades que ela e seus colegas têm enfrentado com a implementação do ensino a distância, tais como a sobrecarga de atividades e longos períodos de tempo na frente do computador.

Os relatos a seguir são de duas discentes que também fazem parte do curso: Maria Flores*, da 8ª fase, e Luiza Biazus, que cursa a 2ª fase.

Em seu relato, Maria conta sobre como os ajustes do plano de ensino e reduções de projetos acabam por não ser efetivamente uma solução em relação ao peso da carga horária.

“Os professores deveriam ajustar seus planos de ensinos e deixar a carga de trabalhos e da aula em si menores, devido ao momento em que vivemos para não deixar nenhum aluno sobrecarregado. Na teoria funcionaria, mas na prática os alunos do curso se sentem todos sobrecarregados. São aulas remotas, que acontecem no mesmo período em que ocorreria a aula presencial, ou seja síncrona, e com gravação, para caso o aluno que não consiga assistir no horário, tenha como assistir depois (com a possibilidade então de serem feitas assíncronas). Como forma de validar presença, são passados trabalhos para contabilizar a presença semanal. O que acontece é que todas as matérias têm sobrecarregado os alunos por toda semana pois ter trabalhos não tão simples assim para serem feitos e contabilizarem presença, passamos tempo demais em frente aos nossos computadores. Quando mal entregamos um trabalho, já há outro para ser feito e entregue, falo por mim, não consegui mais conciliar nenhuma atividade que eu havia iniciado com a quarentena, além das aulas, pois minhas semanas se resumem a fazer os trabalhos da faculdade e entregá-los. O curso já possui a fama da alta carga de trabalhos num período normal de aulas, com o Ensino Remoto está quase que impossível levar o semestre como ele era antes da Covid-19, muitos dos colegas que conheço já desistiram de matérias, por não conseguirem dar conta, eu fui uma, me vi obrigada a desistir para ter um tempo de descanso maior, pois não conseguia fazê-lo saudavelmente.”

A solução que ela e outros colegas encontraram foi cada um individualmente desistir de matérias, pois até mesmo em fins de semana estas ocupavam igualmente seus fins de semana, sem possibilidades de descanso. Sobre as dificuldades vivenciadas dentro das aulas, Luiza relata sobre como o formato tem sido desmotivador para a compreensão de conteúdos e elaboração das atividades.

“Os alunos passam por dificuldades para entender o conteúdo e os professores não sabem se todos os alunos realmente estão presentes na aula, se está tudo bem com todos e se algum possui alguma dificuldade específica (muitos alunos não expressam dúvidas por causa de timidez). O que mais enfrento é dificuldade de manter a atenção e foco na aula e de manter o rendimento que eu tinha para fazer os trabalhos. Outra coisa que senti foi que eu estou menos criativa e mais desmotivada, pois não ver os colegas, ficar sempre no mesmo local e ter as aulas muito diretas sem conversas mais amigáveis com os professores faz com que eu perca a emoção e o desejo de realizar as coisas, estou sempre no mesmo local com a mesma vista e sozinha, isso é terrível para alunos que precisam criar toda semana. é tudo meio rápido, meio frio e muito cansativo. Percebo também que todos possuem internet, porém muitas vezes ela cai e aí o aluno leva um tempo até voltar para aula, não compromete o andamento da aula no caso, mas sim a assimilação do conteúdo por parte do aluno.”

Sobre a movimentação estudantil no curso, Maria relata sobre a apresentação de uma carta enviada à direção e como tem se dado a relação com o Departamento de seu Curso.

“No meu curso, após o primeiro mês de aula, com tantos relatos dos alunos pela sobrecarga, o Centro Acadêmico de Arquitetura e Urbanismo, reuniu os problemas elencados e geriu uma carta aberta à direção do curso, para professores poderem entender um pouco mais a nova realidade que passamos, pois não temos de forma geral as mesmas condições do presencial para levar os estudos, como também não queremos deixar de estudar já que as aulas retornaram. Assim, como também não temos um representante discente nas reuniões do Departamento do Curso, ou seja, a nossa comunicação com os professores, e diretor do curso é falho e inexistente, um dos grandes motivos de ser feita a Carta pelo Centro Acadêmico também foi esse. Ocorreram reuniões onde os professores nos passaram como seriam as aulas de ensino remoto, houve uma pesquisa para saber quantos alunos teriam condições de voltar às aulas. Mas debates sobre o que achávamos do retorno, ou se queriam nossa opinião nunca houve. As próprias entidades de base da UDESC, nunca obtiveram nem espaço de fala com o reitor para expor todos os problemas que acarretariam caso aprovado à volta das aulas. Além disso, a comunicação do curso, e do centro é bem pequena para/com os estudantes. Eu não sinto estar por dentro de tudo o que rola na Universidade através das entidades de base do próprio centro, pode ser falha da minha parte também, mas por enquanto não houve organizações quanto boicotes ou greves. Mas tento acompanhar ao máximo nas redes sociais (que hoje em dia se tornou o principal veículo de informações da Universidade), acompanho centros acadêmicos, diretórios etc. Mas sempre o que chega na grande maioria das vezes são informações de decisões já tomadas, raríssimas vezes são para ouvir os estudantes, ou organizações para manifestar-se.”

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*A pedido do estudante, foi adotado um pseudônimo

**As opiniões aqui expressas são de responsabilidade dos entrevistados e podem não representar a opinião do jornal.

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