Imagem: APG/UFSC divulgação da Intervenção
Mariana Nascimento – Redação UFSC à Esquerda – 14/05/2021
A Associação de Pós-Graduandos da UFSC (APG) fez um chamado para a Primeira Intervenção da Pós-Graduação para barrar os cortes na Educação para o dia de amanhã, 15 de maio de 2021, às 09h em frente a reitoria do Campus de Florianópolis. Será organizada a pintura de faixas e cartazes e em seguida um ato previsto para às 12h. A pintura de faixa acontecerá próximo a um dos principais pontos de vacinação da capital, chamando a atenção da população para a situação que a universidade vem enfrentando recentemente.
A APG/UFSC, desde o início de abril, está realizando uma série de discussões em reuniões ampliadas sobre a situação de bolsas de pesquisas que vem, ano após ano, minguando e prejudicando a continuidade de inúmeras pesquisas. A instabilidade imposta pelos cortes dificulta que os programas se organizem em relação aos estudantes que ingressam na pós-graduação, afeta a vida dos estudantes que são impedidos de se dedicarem unicamente às pesquisas, consequentemente a qualidade das pesquisas é prejudicada. Recentemente, no início da mobilização, os estudantes produziram um manifesto (reproduzimos ao final do texto) convocando aos demais setores da universidade a se somarem à luta por bolsas.
As reuniões têm contado com dezenas de estudantes aflitos com a situação, cientes que não se trata somente das bolsas de pós-graduação, mas de uma questão profunda de estrangulamento do orçamento público universitário como um todo. Os estudantes, além das reuniões gerais ampliadas da entidade, têm se reunido em seus programas para organizar intervenções mais específicas e também para organizar, junto aos representantes discentes, possíveis intervenções nos colegiados e/ou centros de ensino, o que demonstra o germe do que pode ser uma mobilização massiva, ainda que em tempos de pandemia, já que a realidade urge!
A próxima reunião está chamada para quarta-feira da semana que vem, dia 19 de maio de 2021, às 19h, será feita avaliação do ato de amanhã e pensados os próximos passos da luta.
Confira o Manifesto vinculado pela Associação de Pós-Graduandos abaixo:
Manifesto aos discentes, docentes e TAEs por bolsas de pesquisa na pós-graduação da UFSC
Abril, 2021.
Endereçamos este manifesto a todas as categorias de trabalhadores da universidade que estão implicadas no compromisso pelo desenvolvimento de pesquisa científica. Nosso objetivo não poderia ser outro senão fazer com que a UFSC se levante contra a precarização que atinge massivamente o investimento em pesquisa, perturbando as já precárias condições materiais a que se submetem aqueles que desejam cursar uma pós-graduação pública.
Frente ao grande desmonte do financiamento em educação e pesquisa no Brasil, os estudantes de pós-graduação da UFSC estão se reunindo para discutir a situação atual dos Programas de Pós-Graduação de nossa universidade. A articulação iniciada e organizada pela Associação de Pós-Graduandos da UFSC (APG) tem realizado reuniões para debater o enorme vácuo de bolsas de fomento em nossos mais diversos cursos de pós-graduação e elaborar as ações iniciais dessa luta.
Não queremos mais que a universidade tenha uma direção omissa e complacente com a destruição da universidade e do fazer científico! Acreditamos que a política de investimento em pesquisa e ciência é um elemento basilar para a Universidade Pública e função social do Estado, e que em virtude disso aquela deve promover um desenvolvimento científico ligado às necessidades e dilemas da população brasileira. É por essa razão que as pesquisas desenvolvidas nas universidades públicas devem interessar a todos, sejam ou não membros da comunidade acadêmica.
Os cortes de bolsas e outras verbas das Universidades Públicas ocorrem há muitos anos e vem aumentando progressivamente. No início de 2020, a CAPES definiu um novo critério para distribuição de bolsas de pós-graduação. Na prática, essa mudança significou um corte drástico para a maioria das universidades brasileiras – somente na UFSC foram cortadas mais de 600 bolsas. Como sabemos, mesmo a totalidade desses cortes não veio de maneira imediata: parte das bolsas foram transformadas em “bolsas emergenciais” e mantidas até o final do ciclo daqueles bolsistas. Conforme as defesas dos respectivos trabalhos de conclusão foram acontecendo (algumas ainda por acontecer), as bolsas foram e serão extintas. O modelo de corte se apresentou como um dos fatores decisivos para a dificuldade generalizada de mobilização, dentro e fora da categoria, já que as primeiras turmas diretamente afetadas por eles só ingressariam mais tarde na pós-graduação.
Além disso, ainda em 2020, um levantamento feito pela APG mostrou que a UFSC vem sofrendo cortes de bolsas também do CNPq. Muito embora existam outros programas de fomento científico, tais programas são insuficientes, pouco transparentes e, em geral, de cunho privado.
Soma-se a isso o fato de que o último reajuste das bolsas de pós-graduação ocorreu em abril de 2013, desde então o valor das bolsas de mestrado é de R$1500 e das bolsas de doutorado R$2200. Desde 2013, a inflação corroeu cerca de 35% do valor dessas bolsas, corrigido pelo IPCA. Em preços de 2013, o valor da bolsa de mestrado seria hoje cerca de R$970, enquanto o da bolsa de doutorado seria cerca de R$1400 – valores que dificilmente dão conta das necessidades básicas do estudante, como aluguel, alimentação, transporte, livros, etc.
Na ausência de fomento consistente à produção científica, os estudantes, quando não desistem dos programas, precisam trabalhar e estudar ao mesmo tempo. Como consequência, este pesquisador deixa de dedicar horas para o desenvolvimento da sua pesquisa para se dedicar a trabalhos que, algumas vezes, não possuem sequer relação com a área de conhecimento na qual está inserido.
Ainda que nós sejamos os primeiros – ou, junto da graduação, os mais vulneráveis – a sentirem os efeitos imediatos da retirada massiva de fomento à pesquisa acadêmica, tendo de realizar toda a pesquisa enquanto concilia com um trabalho precário e fora da universidade (quando não desistindo de continuá-la por completa falta de condições materiais), sabemos que essa pauta não diz respeito apenas ao conjunto da universidade – discentes, docentes e técnicos administrativos – mas sim toda a sociedade.
Portanto, convidamos todos os pós-graduandos a participarem conosco nessa articulação, colocando-se um a um – mas juntos – às tarefas que a realidade nos impõe! Para além de uma articulação de pós-graduandos, faz-se urgente que também nossos orientadores, colegiados e coordenadores de Programas discutam o tema e tomem parte do processo. No que diz respeito à instituição, é necessário que os quadros dirigentes da administração da UFSC façam pressão em conjunto com outras Universidades Públicas e no âmbito dos fóruns entre dirigentes dessas universidades. Convocamos os docentes e as instâncias de representação máxima desta instituição, a Reitoria da Universidade e a Pró-Reitoria de Pós-Graduação, a disputarem conosco pelas bolsas. É preciso não adotar mais uma vez a política de gerenciamento de migalhas, mas, ao contrário, fazer esforços efetivos, com cobranças aos ministérios da Educação e da Ciência e Tecnologia, para reconstituição e aumento do financiamento à pesquisa nas Universidades Públicas.
Nossa próxima reunião está agendada para quinta-feira, dia 29 de abril, às 19h. O link para participação está sendo divulgado pela Associação de Pós-Graduandos da UFSC. Convidamos a Pós-graduação, não só a participar dos espaços promovidos pela APG, mas também a construir a luta em seus Programas e em seus cursos.
Converse com seus colegas de Programa, com os representantes discentes dos colegiados e centros de ensino, e vamos construir uma mobilização em nossa universidade pela manutenção da qualidade de nossas pesquisas!
Articulação de Pós-Graduandos na Luta por Bolsas
Associação de Pós-Graduandos | Universidade Federal de Santa Catarina