Imagem: Colagem digital UàE a partir de foto do MEC
Beatriz Costa – Redação Universidade à Esquerda – 30/07/2021
COVID-19 já é a principal causa da morte de crianças e adolescentes entre 10 e 19 anos no Brasil. Ao todo, 1581 pessoas nessa faixa etária morreram da doença causada pelo novo Coronavírus em 2021.
Até então a principal causa de morte de crianças e adolescentes era câncer, com 1406 óbitos em 2019. Porém a COVID ultrapassou essa marca, matando em média 168 jovens de 10 a 19 anos por mês no Brasil. Dessa forma, a média mensal já é maior do que qualquer outra doença ou conjunto de doenças.
Dos 578 óbitos por COVID-19 registrados até o início de julho na faixa etária dos 12 aos 17 anos, 65% tinham alguma comorbidade e 35% não possuíam nenhuma. As comorbidades são, por exemplo, asma e diabetes. Apesar de serem doenças que exigem cuidados, não reduzem necessariamente a expectativa de vida das pessoas que as possuem.
Além disso, entre os quase 6 mil casos de adolescentes contaminados pelo Coronavírus, somente 39% possuem comorbidades e 61% não possuem.
Quando o retorno ao ensino presencial nas escolas é debatido, muitas vezes é colocado o argumento de que as crianças e adolescentes se contaminam e morrem menos por COVID-19. São divulgadas pesquisas de que tentam sistematizar evidências disso, como forma de fortalecer a argumentação.
Uma destas pesquisas, que foi amplamente divulgada, leva em consideração dados de hospitalização no Reino Unido para indicar a mortalidade de 1% de crianças por COVID-19. Porém, esse percentual não é condizente com o que tem acontecido no Brasil.
Uma pesquisa da Faculdade de Medicina da UFMG, publicada na revista The Lancet Child and Adolescent Health, mostrou que a mortalidade da COVID-19 no Brasil em crianças chega a 7,6%, muito superior ao índice do país europeu.
Entre os fatores de risco para maior mortalidade, foram identificadas a idade, a etnia, a macrorregião geográfica de origem e a presença de comorbidades. Em relação à idade, a mortalidade foi maior entre menores de dois anos e em adolescentes (12 a 19 anos). Pacientes das regiões Nordeste e Norte do país também tiveram maior risco de desfecho adverso, na comparação com os da região Sudeste. Crianças indígenas apresentaram ao menos o dobro de risco de morte em relação às de outras etnias. Outro aspecto observado foi o aumento progressivo da incidência de mortes com base no número de comorbidades, ou seja, o risco do desfecho negativo é maior a cada doença pré-existente a mais.
Para os pesquisadores, os resultados revelam que, no Brasil, as desigualdades sociais pesam nos desfechos de covid-19 tanto quanto as comorbidades na faixa etária pediátrica. Nenhum outro estudo sobre o tema valeu-se de uma população pediátrica tão grande.
De fato, segundo levantamento produzido pelo Estadão, entre os países com mais de uma morte a cada mil habitantes e com mais de 20 mil habitantes, o Brasil é o segundo com mais mortes de crianças por COVID-19, atrás apenas do Peru.
Mesmo assim, as escolas retornam as suas atividades presenciais, colocando em circulação milhares de crianças todos os dias. O debate sobre a vacinação de crianças também avança, com empresas fazendo testes das vacinas nessa faixa etária e informações de que algumas cidades brasileiras teriam chegado a vacinar crianças de 0 a 9 anos, mesmo não sendo autorizado pela Anvisa. Além disso, o governador de São Paulo, João Dória, anunciou que o estado começará a vacinar adolescentes de 12 a 17 anos a partir de 23 de agosto.