[Notícia] Por causa de mobilização estudantil, professor machista e racista Sérgio Colle é impedido de continuar dando aulas na UFSC

Foto: montagem UFSCàE.

Maria Gonçalves – Redação UàE – 31/07/2020

O conselho do CTC votou na tarde de quinta-feira, dia 28, contra o pedido do professor Sérgio Colle, do Departamento de Engenharia Mecânica, para ser professor voluntário, após a sua aposentadoria compulsória. A pauta chegou ao conselho em junho e os representantes discentes pediram vistas no processo. Quando um conselheiro pede vistas em um processo, a discussão é adiada para a próxima reunião, na qual aquele que pediu vistas apresentará um parecer que será votado.

Por isso, na reunião de julho os representantes discentes apresentaram seu parecer, indicando que Sérgio Colle não deveria ser aceito como professor voluntário. Dos 43 presentes, 31 votaram a favor do parecer e 12 votaram contra, totalizando 72% dos votos a favor do parecer e por tanto contra o aceite do professor.

A vitória do movimento estudantil foi comemorada nas redes sociais e entre os diversos grupos de estudantes envolvidos. Desde que esse processo começou a tramitar, ainda dentro do Departamento de Engenharia Mecânica, os estudantes perceberam a oportunidade de repudiar publicamente o discurso e ideias representadas por Sérgio Colle, que são prejudiciais ao ambiente universitário por desqualificarem e tornarem o ambiente hostil para mulheres, negros, gays, cotistas e outras minorias.

As representantes discentes do CAMAT, Centro Acadêmico de Engenharia de Materiais, que é do mesmo departamento da mecânica, viram o movimento crescer e ganhar visibilidade, com muitas pessoas dispostas a contribuir. Um dos primeiros passos da mobilização foi a escrita de uma nota pública com o Coletivo Mulheres na Engenharia no final de 2020, intitulada “Até quando a UFSC e o CTC serão coniventes com misoginia e racismo?” que foi assinada por mais de 30 entidades, entre centros acadêmicos, coletivos, movimentos populares e grupos ligados à energia solar, área de atuação de Sérgio Colle, como a Associação Brasileira de Energia Solar (ABENS) e a Rede Brasileira de Mulheres na Energia Solar (Rede MESol).

Essa nota foi amplamente divulgada e enviada para todos os professores que participariam da reunião do colegiado e também foi lida no momento da reunião, mas estavam presentes os professores que trabalhavam diretamente com ele, alguns poucos concordaram publicamente e depois de uma votação secreta o pedido de Colle foi aceito por 32 votos, contra 20 contrários.

Depois disso, o processo seguiu para o colegiado do Programa de pós graduação da Engenharia mecânica. Para esse momento, a mobilização estudantil incluiu a coleta de relatos de estudantes sobre o comportamento de Colle como professor na pós graduação. Os relatos foram importantes e deram mais força para a defesa da representação estudantil. Com alguns professores se manifestando contra a permanência do professor, alguns dos presentes declararam que não se sentiam confortáveis para votar o ponto e solicitaram que fosse encaminhado para o colegiado pleno, que conta com a participação de todos os professores do Programa.

Para a reunião do colegiado pleno, precisaram ser eleitos mais representantes discentes, pois nem todas as 10 vagas estavam ocupadas. Então também foi feita uma campanha, visando principalmente os próprios discentes do Pós-MEC, que poderiam de candidatar para a representação. Mesmo assim, uma das cadeiras ainda ficou sem representação.

Nessa reunião, somente duas estudantes fizeram falas contra o Colle. Mas depois da votação secreta, os estudantes se surpreenderam com o resultado: 20 votos a favor de Colle contra 18 votos contrários. Uma das representantes discentes achou a votação bem importante, porque deixou a votação mais acirrada e demonstrou como a figura de Colle é absurda, evitando que haja mais posturas como as dele.

Depois disso, a pauta foi encaminhada para o Conselho do CTC, nesse momento a mobilização foi no sentido de conversar com antecedência com os professores dos diferentes cursos que compõe o Conselho. Diversos centros acadêmicos do CTC se envolveram nisso, contatando coordenadores dos programas de graduação, pós-graduação e coordenadores de departamento Isso também foi fundamental para que os presentes já tivessem conhecimento da pauta antes da reunião acontecer.

A votação com 72% dos votos favoráveis ao parecer da representação discente vem depois de muita mobilização e mostra que mesmo no Centro Tecnológico, considerado o mais conservador da universidade, existe mobilização estudantil e é possível vencer. Mais do que combater uma pessoa, o objetivo sempre foi combater as ideias que ele representa e evitar que elas prosperem.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *