Imagem: Lara Iamada (CALPSi) – Edição: UFSCàE
Flora Gomes – Redação UFSCàE – 21/04/2022
Como parte das atividades de recepção de calouros e calouras da UFSC, na noite da última quarta-feira (20/04) alguns Centros Acadêmicos e o Diretório Central dos Estudantes (DCE) organizaram espaços culturais e de entretenimento no Campus Trindade. O Centro Acadêmico Livre de Psicologia (CALPSi) convidou os/as estudantes para a festa “Happy Hour da Psico”, que ocorreu no “entre-blocos” do CFH. Já o DCE e o Centro Acadêmico de Serviço Social organizaram a “Manifesta a Quarta Dose” em frente ao laguinho. Espaços como esses, que permitem que qualquer membro da comunidade universitária ou do entorno tenha acesso a entretenimento gratuito, fazem parte das tradições da UFSC. Contudo, na noite de ontem, alguns estudantes que organizavam a festa foram intimidados por seguranças do Campus, que ameaçaram chamar a Polícia Militar para impedir a atividade.
Com o retorno presencial das aulas na UFSC, diversas entidades organizaram importantes momentos de recepção dos calouros e daqueles estudantes que passaram diversos semestres em Ensino Remoto. Foram preparados pelas entidades estudantis espaços formativos, de discussão, de apresentação do funcionamento da universidade e de entretenimento. Os ”HH’s” – como são conhecidas as festas nos Campus da UFSC organizadas por entidades estudantis com objetivo de integração e arrecadamento de fundos – são espaços que costumavam ocorrer com frequência, principalmente até 2016.
Enquanto o CALPSi iniciava o HH ontem, a equipe de segurança do Campus questionou alguns estudantes que organizavam a festa se estes teriam autorização para a utilização do espaço público, e ameaçaram chamar a Polícia Militar para impedir a festa. Frente a ameaça, os estudantes convocaram a comunidade universitária a ocuparem massivamente e com rapidez o espaço, buscando impedir que os seguranças se aproveitassem do início do evento para barrar a festa.
Rita de Cássia Pereira, estudante da nona fase do curso de psicologia e membra do CALPSI, relata a situação:
Ontem, quando começamos a organizar os espaços para o Happy Hour da Psico, fomos abordados pela segurança do campus exigindo uma autorização formal do uso do espaço aberto do entreblocos — que fica entre dois prédios administrativos, não tem salas de aula próximas e os prédios são fechados às 18h30, então não estaríamos atrapalhando nenhuma atividade da UFSC ali. Nós também havíamos informado por e-mail a chefia de centro que estaríamos ocupando o espaço com a festa e estava tudo certo quanto a isso. Ainda assim, a segurança da UFSC nos abordou exigindo que nos retirássemos, senão chamaria a Polícia Militar, que já estava com viaturas próximas. No fim, conseguimos mobilizar os estudantes do nosso curso e de toda a universidade para irem prestigiar nosso HH, que em meia hora ficou bastante movimentado e fez com que a segurança da UFSC aceitasse o e-mail impresso como registro da autorização.
É um absurdo que a comunidade acadêmica tenha que ficar pedindo autorização para fazer uso de um espaço que é seu por direito. Nós temos bom senso para escolher um lugar que não atrapalhe aqueles que estão em aula no período noturno, limpamos todo o espaço assim que acabou a festa. Não interrompemos fluxos de movimento na universidade, como fazem grandes festas que fecham a parte central do campus Trindade com tapumes.
Pensamos o HH como um espaço de integração para o curso de psicologia, que se encontrou nessa semana pela primeira vez depois de dois anos de afastamento. Nossa intenção era, sobretudo, promover um espaço divertido para as pessoas se aproximarem. É revoltante que hoje a UFSC encare isso como algo que precisa ser combatido.
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Infelizmente essas festas já sofreram diversas represálias, tanto por parte da Administração Central quanto do Estado. Em 2018, por exemplo, a Polícia Militar invadiu o Campus durante uma roda de samba organizada por um coletivo cultural e disparou armas de borracha e spray de pimenta nos participantes.
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Ações como essa, que partem tanto da Administração da UFSC quanto de órgãos do Estado que praticam coerção explícita, intimidam entidades e estudantes, fazendo com que diminuam iniciativas como essas no Campus. Esta é uma forma de dificultar o acesso a atividades culturais acessíveis e democráticas, e a empurrar estudantes com menor poder aquisitivo para espaços marginais. Como alternativa às festas públicas, aparecem as festas privadas, que são organizadas principalmente pelas atléticas de alguns cursos. Essas, além de exigirem um ingresso de alto valor, ocorrem em casas noturnas localizadas no norte da ilha que estão diretamente ligadas ao turismo sexual que ocorre na cidade de Florianópolis.