Morgana Martins – Redação UàE – 29/05/2020 – Publicado originalmente no Universidade à Esquerda
Na semana passada o Brasil ultrapassou a Rússia em número de casos e passou a ser o segundo país com mais casos confirmados, totalizando 529.405 mil casos; atrás somente dos Estados Unidos, país com quase dois milhões (1.847.729) de infectados. O que difere o Brasil dos outros países que estão no topo da lista de número de infectados, é que, segundo o diretor-executivo da OMS (Organização Mundial da Saúde), Michael Ryan, o pior da epidemia ainda não chegou no país.
Não só o Brasil, segundo Michael Ryan, mas também outros países da América Central e do Sul, estão entre os que têm registrado os maiores aumentos diários de casos da doença, com transmissão ainda fora de controle. Em todos houve um crescimento rápido e sem controle, sem que haja uma segurança de que os sistemas de saúde estão prontos para isso. Ainda segundo Ryan, o pico do contágio ainda não chegou, “e no momento não é possível prever quando chegará”.
Segundo estudo elaborado pela Universidade John Hopkins, o G1 elaborou um gráfico ilustrando o fato de que, desde que a primeira morte foi registrada, em 17 de março, o Brasil levou dois meses para somar 15.662 mil mortes, em 16 de maio. Depois disso o salto que faz dobrar o número de vítimas ocorreu em aproximadamente duas semanas.
Portanto, com esses dados, além de ser o segundo país com mais número de casos, o Brasil se junta a outros três países que ultrapassaram a marca de 30 mil mortos: Itália, Reino Unido e Estados Unidos.
Mesmo com esses dados alarmantes, o país segue na direção contrária, flexibilizando quarentenas sem qualquer evidência de que essa é a melhor opção para o país. O governo de Bolsonaro segue sem fazer nenhuma intervenção decisiva para a recuperação do país desse pandemia, apenas segue insistindo no uso de hidroxicloroquina (HCQ) em pacientes com COVID-19, mesmo não exista nenhuma evidência científica de que o uso desse medicamento tenha efeito protetor contra o coronavírus, que reduz internações ou ainda que evite mortes.
Segundo Átila Iamarino, divulgador científico que tem debatido o COVID-19 no Brasil, aponta que “nossa epidemia já chegou num ponto tão grande, com tantos casos, que fica difícil reconhecer esse aumento dos casos. Se os casos aumentam, dobram, a cada cinco dias, mas o volume de testes que se faz não dobra a cada 5 dias, os números vão parecer estáveis”. Dessa forma, o que seria necessário fazer nesse momento é garantir a testagem massiva da população e controlar os infectados com mais rigor.
E, por que afirma-se que o país está indo na contramão? Isso porque, ao invés de continuar controlando a disseminação de casos com o enrijecimento das quarentenas, estados mais afetados como São Paulo e Rio de Janeiro começam a planejar a reabertura de comércio e de atividade de alguns setores.
Na semana passada, o governador João Doria (PSDB) publicou um decreto que flexibiliza a quarentena a partir desta segunda (1°). A partir disso, a Prefeitura de São Paulo começa a analisar as propostas para a reabertura de parte do comércio na capital. A Associação Comercial de São Paulo acredita que as lojas já estejam abertas até o próximo fim de semana. Covas, prefeito da cidade, disse ter alertado empresas de ônibus a deixarem 2.000 veículos a mais prontos para rodar.
Porém, a decisão do governador João Doria (PSDB) de iniciar a flexibilização da quarentena em boa parte do estado é precipitada, pois existe o risco de aumento expressivo de casos de Covid-19 nas próximas semanas, e foi o que aconteceu na maioria dos estados que flexibilizaram sua quarentena. Nea sexta-feira passada (29), o estado ultrapassou a marca de 100 mil casos (101.556), 55.741 mil deles apenas na capital, e já tem mais de 7.000 mortes, de acordo com dados oficiais. Além disso, 70,7% dos leitos de UTI no estado estão ocupados.
No estado do Rio de Janeiro, prefeito da capital, Marcelo Crivella (Republicanos), anunciou nesta segunda (1º) um plano de desconfinamento em seis etapas, intitulado “Programa Rio de Novo” que será implementado a partir de terça (2) na cidade. A justificativa de Crivella é de que “hoje, prolongar o afastamento pode trazer benefícios para a Covid mas traz prejuízos para a população que está falecendo de outras comorbidades, casos urgentes que precisam voltar ao tratamento”.
Mas, assim como São Paulo, a decisão pode piorar a situação do estado, o qual já possui 86% dos leitos de UTI ocupados, dado publicado do dia 24 do mês passado, podendo ainda ser maior. Ou seja, o sistema de saúde poderá não suportar o número de pessoas que necessitam de internação e, assim, o número de mortes pode aumentar expressivamente daqui por diante. O estado contabiliza, hoje, 53.388 mil casos e 5.344 mil mortes, segundo os dados oficiais.