Foto: Pipo Quint/ Agecom UFSC.
Maria Luisa Boabaid* – Redação UàE – 02/10/2020
Nas últimas semanas, diversos Centros Acadêmicos estão organizando uma avaliação do Ensino Remoto Emergencial em seus cursos, depois de algum tempo que começaram as “aulas”. Alguns CAs estão fazendo isso através de formulários e avaliações dos professores, enquanto outros estão convocando reuniões para discutir de maneira ampla o ensino remoto com os estudantes.
Nas salas de aula, nos grupos de turma e nas reuniões dos CAs o que se contesta agora é a sobrecarga do estudantes. Os alunos estão cansados das telas, querem ser menos cobrados, estão com muitas tarefas, as aulas estão levando muito tempo, os professores não liberam as aulas gravadas, entre várias outras frustrações nesse sentido.
A saída em quase todas as turmas está sendo um pacto entre o professor e o aluno para que a carga horária diminua e as tarefas sejam aliviadas. O corpo universitário tem tomado essas decisões de maneira acrítica. Escolhem a “saída mais fácil” sem a reflexão dos impactos de diluir as disciplinas na formação universitária e a impressão que isso tem para a concepção dos estudantes e dos professores sobre a Universidade.
Isso porque, ao diminuir os conteúdos das disciplinas e a densidade das discussões em sala de aula, os estudantes e professores naturalizam a ideia de que a Universidade é um espaço de certificação em massa. Que o corpo universitário pode atropelar o caráter crítico e consistente da formação dos estudantes e da instituição, do dia para a noite, com o objetivo de tornar mais palatável a experiência com o ensino remoto.
Para além dessas consequências, ao reduzir a qualidade das matérias, aqueles que mais dependem daquilo que está sendo ensinado ficarão para trás. Quando os estudantes e os professores optam por fazer um “ensino de fachada” e cortar o aprendizado com softwares, retirar textos e debates ou realizar a relação do professor com o aluno através de aulas gravadas, os prejudicados serão aqueles que não irão conseguir pagar cursos particulares depois para tapar os buracos do ensino.
Nesse sentido, coletar avaliações individuais através de formulários sem uma discussão prévia no curso, sem uma pavimentação do debate, não parece ser a saída para uma formulação crítica em relação ao ensino remoto. Da mesma forma, realizar um debate amplo sem colocar elementos críticos, atuando de maneira corporativa com as demandas imediatas dos estudantes, como uma representação sem posição política, é um caminho que levará à precarização ainda maior do ensino na Universidade.
O papel do Centro Acadêmico neste momento não é o de recolher essas reclamações e mediar a relação do professor com a turma para que a disciplina seja ainda mais “enxugada”. As entidades estudantis precisam dialogar com essas demandas dos estudantes e apresentar uma posição mais avançada. Ou seja, fazer a crítica de que a dificuldade que os alunos estão enfrentando é um problema intrínseco da decisão pelo ensino remoto. E, ao mesmo tempo, refletir que a retirada dos conteúdos e das responsabilidades só irá piorar o quadro para os estudantes que dependem da Universidade para sua formação.
É de se pensar que, não havendo meios para melhorar de verdade a experiência do ensino remoto, o melhor seria rejeitá-lo e buscar, dentro de uma Universidade que se proponha crítica e de formação consistente, um outro papel para esta instituição num momento tão difícil quanto o que estamos passando. É necessário colocar em discussão o que o corpo universitário está perdendo todos os dias com o ER no sentido formativo, para que as demandas dos estudantes superem a dimensão corporativa e vão em direção à compreensão de que é preciso uma alternativa ao ensino remoto.
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