Foto: Marielle Franco; Midia Ninja

[Notícia] Avanços na investigação do caso Marielle

Foto: Marielle Franco; Midia Ninja 

Maria Alice de Carvalho – Redação UàE – 11/05/2018

O crime que completa dois meses na próxima segunda-feira (14/05), o qual culminou na morte de Marielle Franco e Anderson Gomes, passou por simulação na noite de ontem com o objetivo de recolher possíveis provas para o inquérito

A reconstituição da cena do crime foi realizada por policiais civis, militares e homens do exército e teve início por volta das 23h desta quinta-feira (10/05), se estendendo até às 4h do dia de hoje. Para realização da simulação, duas ruas foram fechadas em um perímetro de 1km e, no cruzamento entre as ruas Joaquim Palhares e João Paulo I, local exato onde Marielle foi assassinada, lonas pretas foram estendidas para evitar testemunhas e registros de imagens pela imprensa e civis.

Um carro Gol, diferente do qual Marielle e Anderson estavam na noite do crime, foi utilizado como modelo para a simulação, e sacos de areia foram colocados na esquina onde as duas mortes ocorreram para conter os disparos de bala. Os primeiros disparos foram dados após às 2h49, com duas rajadas seguidas, de quatro tiros cada uma. Às 3h14, um único tiro foi disparado e 3h32, uma outra rajada única de tiros, semelhante a de uma metralhadora, foi disparada.

Além dos investigadores, estavam presentes na cena a mulher de Marielle, a arquiteta Mônica Tereza Benício, o deputado estadual Marcelo Freixo (PSOL) e o chefe da polícia civil, Rivaldo Barbosa. Pelo menos três testemunhas participaram da simulação para auxiliar os investigadores a reconhecer a arma utilizada pelos assassinos através do som dos tiros disparados e um homem, vestindo balaclava preta para manter sua identidade em sigilo, acompanhava os policiais civis durante a simulação.

A hipótese da polícia é a de que a arma utilizada seja uma pistola ou uma submetralhadora, ambas de calibre 9mm, as quais apesar de possuírem o mesmo calibre possuem efeito sonoro bastante distinto. Armas de calibre 9mm são utilizadas pelas forças de segurança (policiais militares e federais) e as cápsulas utilizadas no assassinato da vereadora pertenciam a um lote comprado em dezembro de 2016 pela PF de uma empresa.

Além da simulação da cena do crime, na última terça-feira (08/05), uma testemunha, a qual pediu por sigilo, apontou o vereador Marcello Siciliano (PHS) e o ex-PM Orlando Oliveira de Araújo como os mandantes do crime contra Marielle. O ex-PM Araújo se encontra preso desde outubro do ano passado por suspeita de homicídio e de chefiar as milícias¹ de Curicica e Jacarepaguá (zona oeste), reduto eleitoral de Siciliano;  além de ser acusado, também, de manter ligação com grupos paramilitares.

A testemunha, que prestou três depoimentos à polícia em troca de proteção, é um ex-participante de um grupo paramilitar e, em sua denúncia, passou detalhes de datas, horário e locais em que Siciliano e Araújo teriam se encontrado para planejar o assassinato de Marielle, o qual, também segundo a testemunha, vinha sendo arquitetado desde junho do ano passado. Ele revelou também o nome de quatro homens que foram selecionados para cometer o crime contra Marielle.

De acordo com a testemunha, o que levou o vereador e o ex-PM a planejar o assassinato de Marielle foi as incursões políticas desta última na Cidade de Deus, área na zona oeste que fica fora do controle das milícias, atrapalhando assim os planos do grupo de expansão de território nessa região, que hoje é dominada por traficantes; Marielle denunciava frequentemente abusos policiais na favela, o que teria incomodado os milicianos, tendo em vista que para estes, os ataques policiais contra traficantes é algo positivo, pelo fato de que mais tarde esse território pode então ser dominado por  paramilitares.

Tanto o vereador quanto o ex-PM já se manifestaram negando qualquer envolvimento com o crime.

Araújo divulgou uma carta de dentro da prisão, onde diz não ter qualquer envolvimento com o crime, além de apresentar, nesta mesma carta, o nome de um policial e seu respectivo batalhão, que segundo ele seria o delator; ele alega que esse policial não possui qualquer credibilidade para apresentar denúncias, tendo em vista que este chefia as milícias do Morro do Banco. O advogado de Araújo relatou a imprensa que mesmo não tendo acesso ao nome da testemunha, o ex-PM deduziu que só poderia ser uma pessoa, além de alegar que nunca teve contato algum com o vereador Siciliano.

Para se manifestar, Siciliano convocou uma entrevista coletiva na última quarta-feira (09/05) onde rechaçou as acusações feita a ele. Indo de encontro ao depoimento de Araújo, o vereador alegou nunca ter conhecido o ex-pm. Disse que mantinha ótimas relações com Marielle e que eles inclusive chegaram a apresentar Projetos de Lei conjuntamente. De acordo com o vereador, o que está acontecendo é que ele está sendo utilizado como bode expiatório para, inclusive, atrapalhar as investigações sobre o crime.

Após a morte de Marielle, pelo menos duas pessoas já foram assassinadas por milicianos como queima de arquivo: Carlos Alexandre Pereira Maria, 37 anos, e Anderson Claudio da Silva, 48 anos. Anderson Claudio era um policial reformado e Carlos Alexandre era um colaborador do vereador Siciliano e chegou a ser ouvido pela polícia sobre o caso de Marielle. Nesta terça-feira, o sargento Luiz Felipe de Castro Moraes, do 16º Batalhão também foi assassinado; ele havia sido homenageado na Câmara dos Vereadores em novembro por uma iniciativa do vereador Siciliano.

A mesma testemunha que apontou Siciliano e Araújo como os mandantes do crime divulgou, também, que dentro do carro de onde os tiros foram disparados contra Marielle havia um PM do 16º Batalhão e um ex-PM que serviu no batalhão da favela da Maré.

¹grupos formados por ex-policiais, bombeiros, militares, agentes penitenciários e também membros das forças de segurança ainda na ativa.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *